Capítulo 3
Depois de enviar a mensagem, encontrei uma pequena casa de penhores fora da cidade, entrei sem dizer uma palavra e vendi o anel.

Ainda recebi uma boa quantia por ele, mas não senti a alegria que costumava sentir quando o dinheiro caía na conta.

Isso não era uma guerra. Era a minha vida.

E, nessa vida, não havia vencedores.

Em seguida, reservei um pequeno hotel bem no caminho para a propriedade dos Moretti.

Eu não tinha um plano real... apenas uma esperança.

Talvez eu ainda tivesse uma última chance de ver Dora.

Talvez eu conseguisse interceptá-los, falar com ela sem a Maria por perto, só uma vez.

Naquela noite, não consegui dormir.

Fiquei sentada na janela, observando os SUVs passando pela estrada.

Cada vez que um passava, eu me perguntava: eram eles?

Já tinham chegado lá?

Estariam se perguntando onde eu estava?

Provavelmente não.

Nem lembro quantas horas fiquei assim.

Em algum momento, meu corpo desistiu, e adormeci ali mesmo, ainda sentada na janela, de olhos meio abertos.

Na noite seguinte, na hora em que imaginei que a festa da reunião de família já estivesse a todo vapor, não consegui resistir.

Liguei o celular novamente.

No mesmo instante em que ligou, começou a vibrar sem parar.

Dezenas de chamadas perdidas.

Luca. Maria. Vários números que eu nem reconhecia.

Achei que fosse sentir calma.

Achei que já estava pronta para isso.

Mas ao ver todas aquelas chamadas perdidas? Algo quebrou no meu peito.

Pensei que estava pronta para ir embora. Eu não estava.

Então o nome de Luca apareceu de novo.

Chegou uma mensagem de voz.

A voz dele, baixa e irritada:

— Catrina, você me decepcionou. Quer se divorciar? Não vai ser tão fácil assim.

Fiquei encarando a tela, atordoada. O mesmo Luca de sempre.

Ainda agindo como se eu fosse uma garotinha ingênua que obedeceria só porque ele estalava os dedos.

Sete anos atrás, ele disse quase a mesma coisa.

Na época, ele me deixou uma mensagem depois que tentei me afastar, quando descobri que ele era da Máfia. Ele disse:

— Estamos destinados a ficar juntos. Você acha que pode me evitar? Não é tão fácil assim.

Naquele tempo, eu fiquei tocada com a certeza dele.

Cedi. Disse sim.

E entrei no mundo dele. No mundo da família Moretti.

Foi a primeira vez que vi Maria.

Lembro de ter ficado confusa.

Ela usava um vestido elegante cor creme e brincos de diamante, parada no saguão como se fosse dona do lugar.

Inclinei-me para Luca e perguntei:

— Você nunca me contou que tinha uma irmã.

Ele sorriu calorosamente para Maria, depois olhou para mim e respondeu:

— Ela não é minha irmã. É a filha da empregada. Maria.

Nada daquilo fazia sentido.

Ela parecia realeza. Como diabos podia ser filha da empregada?

Desde o primeiro segundo em que a vi, passei a invejá-la.

Ela estava à vontade na casa, conhecia cada cômodo, cada pessoa.

A família gostava dela. Confiava nela.

Até Fiona, a mãe de Luca, costumava sussurrar a senha do celular para Maria na minha frente, como se não fosse nada.

Mas comigo?

Frieza. Suspeita.

Sempre fazendo perguntas demais sobre meu passado, meus pais, minha educação.

Cada palavra dela tinha um julgamento escondido.

Mesmo depois que casei com Luca, Fiona nunca parou de me comparar a Maria.

Maria isso, Maria aquilo.

E Luca? Ele era o único que "nunca" falava dela.

Até agora.

Porque agora... ele também estava escolhendo ela.

A única pessoa que um dia tinha me escolhido já não existia mais.

O telefone tocou de novo.

Luca.

Deixei tocar duas vezes... depois atendi.

Silêncio.

Acho que ele não esperava que eu fosse atender.

Então, finalmente, ele falou, mais baixo que antes:

— Vamos conversar. Cara a cara. Você vem, Catrina?

Eu não disse nada, mas as lágrimas escorreram pelo meu rosto.

Ele deve ter percebido na minha respiração, porque sua voz suavizou.

— Não tome nenhuma decisão precipitada. Por favor. Só desça até a garagem. Eu sei onde você está. Já estou aqui.

Ele não estava na festa?

Isso me pegou de surpresa.

Hesitei por um momento... depois peguei meu casaco e desci.

A garagem estava silenciosa, mal iluminada. O SUV dele estava lá.

Entrei no banco do passageiro.

Eu queria gritar, acusar, fazer todas as perguntas que estavam me consumindo por dentro.

Mas quando vi o rosto dele, cabelo bagunçado, barba por fazer, olhos cheios de algo intenso, eu desmoronei.

Chorei.

Ele me puxou para um abraço apertado.

— Não suporto a ideia de me divorciar de você. — Disse ele no meu ombro. — Só de pensar já dói como o inferno.

Fiquei ali por um instante.

Então percebi. O perfume de Maria.

Fraco, mas inconfundível.

No banco. No tecido. Nele.

Me afastei. Minha voz saiu baixa e firme:

— Você sabe por que eu quero o divórcio, Luca?

Ele não respondeu.

Olhei direto nos olhos dele.

— É a Maria. Você insiste em dizer que o problema sou eu. Mas eu a odiei desde o começo. Ela me tirou tudo: meu lugar nessa família, minha filha, até você. E agora você a defende como se fosse intocável.

Minha voz falhou, as lágrimas vinham mais rápido.

— Eu desisti de tudo por você. E acabei com nada.

O rosto de Luca mudou. Ele segurou minha mão.

— Desculpa, Catrina. Me desculpa de verdade. Nunca quis te dizer aquelas coisas...

Ele parecia querer continuar, mas então o celular tocou.

Não era o toque padrão — não, esse era especial: doce, pessoal.

Eu adivinhei. Ou melhor, eu sabia. Só podia ser Maria.

Luca levantou a mão imediatamente, pedindo para eu esperar.

— Desculpa, preciso atender. É importante. Posso sair um minuto? Depois a gente conversa mais.

O que eu podia dizer?

Apenas assenti, mantendo a voz firme:

— Claro. Vai lá.

Antes de descer, eu planejava perguntar por que ele levou Maria à praia, por que deixou ela lhe dar comida em um restaurante, por que Dora agora a idolatrava como uma segunda mãe.

Mas agora?

Eu já não precisava mais das respostas.

Porque eu já as tinha.

Nós dois havíamos mudado.

E eu não sabia se ainda havia algo a ser salvo.
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