Ao cair da noite. Natália tinha passado o dia inteiro dentro do carro. Quando foi tomar banho, seus olhos já estavam quase se fechando de tanto sono. Agora, Zara estava secando seu cabelo, e a cabeça da menina balançava levemente, como se fosse dormir a qualquer momento. Zara riu ao vê-la assim e disse: — Se você estiver com sono, pode dormir direto. Hoje a gente não precisa contar história, tá bom? — Não, mamãe. — Respondeu Natália, abrindo os olhos rapidamente. — Eu quero ouvir uma história. — Tá bom. Hoje você quer ouvir qual? Natália imediatamente se levantou e foi até sua pequena estante. Ela começou a procurar com seriedade até que escolheu seu livro favorito: Meu Monstrinho. Zara pegou o livro das mãos da filha. Natália já tinha ouvido aquela história incontáveis vezes, mas parecia nunca se cansar. Sempre prestava atenção como se fosse a primeira vez. Quando Zara chegou à última página, Natália olhou para ela e perguntou: — Mamãe, o monstrinho vai ficar com a N
Zara percebeu o estado de espírito dele e, após apertar sua mão, finalmente disse: — Nos últimos anos, seu foco de trabalho tem sido em Cidade N, né? A pergunta pegou Emory de surpresa. Ele hesitou por um instante, mas não mentiu. Apenas assentiu devagar com a cabeça. — Mas eu não quero voltar para lá. — Continuou Zara. — Eu gosto bastante daqui, do ambiente, da tranquilidade. Então... A distância entre nós seria um problema. — Isso não é problema nenhum! — Respondeu Emory imediatamente, com uma urgência quase palpável na voz. — Hoje em dia, com tantas opções de transporte, eu posso vir te ver todos os meses. Além disso, a E.A. ainda está no começo. Quando as coisas se estabilizarem em dois ou três anos, eu planejo abrir filiais em outras cidades. E, quando chegar a hora, minha primeira escolha será Cidade F. A maneira como ele falou, com aquela ansiedade, fez Zara sentir como se Emory fosse um homem se agarrando desesperadamente a um pedaço de madeira flutuante no meio do oc
— Emory, há quanto tempo. Uma voz calorosa soou atrás dele, e Orson parou por um instante. Mas ele não se virou. Continuou conversando com a mesma expressão impassível com a pessoa à sua frente. Ele não tinha intenção de participar daquele evento, mas o anfitrião, um velho conhecido, insistiu tanto que ele decidiu aparecer por cortesia. O que Orson não esperava era encontrar exatamente a última pessoa que queria ver. Ele sabia que Emory e Zara estavam juntos. Erwin havia lhe enviado, poucos dias atrás, uma foto dos dois de mãos dadas. Orson já tinha decidido parar de se importar com o que acontecia entre eles. Mas Erwin, como se tivesse encontrado um novo brinquedo divertido, parecia não se cansar de usar aquele assunto para provocá-lo. Orson não sabia se era o prazer de vê-lo desconfortável que fazia Erwin insistir tanto ou se era apenas uma forma de esfregar na cara dele o quanto suas promessas de fidelidade a Zara tinham sido ridículas. Independentemente do motivo, Ors
Aquela era uma das fotos tiradas na última vez que eles tinham ido ao parque de diversões. Naquele dia, os funcionários do parque, numa tentativa de agradá-lo, tiraram inúmeras fotos dos três juntos. Mas, do ângulo em que Orson estava, ele pôde perceber algo: ele havia sido cortado da foto. Restavam apenas Zara e Natália, transformadas agora na imagem de perfil dela nas redes sociais. — Desculpe, vou atender uma ligação. — Disse Emory, lançando um rápido sorriso para ele. Sem esperar pela resposta de Orson, Emory simplesmente pegou o celular e saiu do salão. Orson permaneceu parado, sem se mover. Depois de alguns segundos, ele deixou escapar um leve riso, carregado de ironia. Ele sabia. Como Emory poderia não se importar? Era óbvio que ele tinha tirado o celular do bolso de propósito, apenas para exibir a relação entre ele e Zara. Orson também sabia que aquela postura de indiferença e sinceridade de Emory era pura encenação. Toda aquela naturalidade... Era só fachada, não e
Orson seguiu Emory de perto, mesmo ciente de que seu comportamento era desprezível. Aquilo não era algo que ele deveria fazer, mas, por mais que tentasse, não conseguiu se controlar. Ele chegou a considerar fazer uma transmissão ao vivo para Zara, mostrando exatamente o tipo de homem que ela havia escolhido. Mas não fez isso. Ele sabia que, mesmo que o fizesse, não teria qualquer credibilidade. Além disso, simplesmente não queria se rebaixar a esse ponto. O que ele realmente queria era acabar com a farsa de Emory ali mesmo. Desmascará-lo e afastá-lo de Zara de uma vez por todas. Para Orson, Emory não era nem de longe digno de estar ao lado dela. Pouco tempo depois, Emory entrou com aquela mulher em um quarto de hotel. Orson não foi atrás imediatamente. Ele ficou do lado de fora, acendeu um cigarro e o fumou até o final. Só então começou a caminhar lentamente até a porta. Seus movimentos eram deliberados, sem pressa. Quando chegou, levantou a mão e bateu algumas vezes na porta
O leve sorriso que ainda pairava nos lábios de Orson se desvaneceu lentamente. Ele voltou a encarar Zara, que o olhava de volta com uma expressão nada amigável. A impaciência e o desprezo estampados nos olhos dela eram inconfundíveis. Sim, aquele olhar era, sem dúvida, o dela. Zara tinha cortado o cabelo. Ela estava ali, naquele quarto, com Emory. Esses dois fatos eram como lâminas afiadas cravando-se impiedosamente no coração de Orson. Sua mão se fechou involuntariamente em um punho, e ele mordeu os lábios com tanta força que sentiu o gosto de sangue. Mesmo assim, ele se recusava a desistir. — E você? O que está fazendo aqui? — Perguntou ele, com a voz baixa, mas carregada de tensão. Depois de falar, Orson deu alguns passos na direção dela. A resposta estava clara como a luz do dia. Um homem e uma mulher sozinhos, no meio da noite, em um quarto de hotel. O que mais poderiam estar fazendo? Certamente não estavam ali apenas para bater um papo. Zara tinha acabado de tomar ban
Então, Orson começou a caminhar em direção a eles, com o punho erguido, pronto para agir. Mas, no instante seguinte, sua mão parou no ar, completamente imóvel. Não foi porque ele havia desistido de agir, mas porque Zara se colocou na frente de Emory, bloqueando o caminho. Ela estava ali, parada, olhando diretamente para ele. O olhar frio e firme dela fez Orson recuar, trazendo uma inesperada onda de calma. Ele a encarou, mas seus olhos estavam cheios de confusão e descrença. — Saia daqui. — Disse Zara, com a voz firme. — Orson, eu cortei o cabelo ou fiz qualquer outra coisa, e nada disso tem a ver com você. Se você não sair agora, eu vou chamar a polícia. Aqui é um hotel. Se você quer causar um escândalo, pode tentar. Orson não respondeu. Apenas permaneceu em silêncio, olhando para ela. Aos poucos, a mão que ainda estava suspensa no ar começou a descer lentamente. Ele desviou o olhar para Emory, que o encarava com a testa franzida, mas em silêncio. Orson soltou uma risa
Ela parecia ocupada, então Emory não disse nada, apenas assentiu com a cabeça. Zara se virou e abriu a porta do quarto. Natália ainda estava dormindo. Seu rosto parecia calmo e sereno, claramente não tinha sido incomodada pelos barulhos do lado de fora. Zara se ajoelhou ao lado da cama e, com cuidado, ajeitou o cobertor sobre a menina. Depois disso, saiu do quarto novamente. A recepção já tinha mandado o kit de primeiros socorros, e Emory estava sentado no sofá próximo. Ele havia aberto a caixa, mas ainda não tinha usado nada. Zara se aproximou rapidamente, abriu o pacote de gelo e o entregou a Emory. — Obrigado. — Disse ele, com um leve sorriso. Zara, no entanto, mordeu os lábios antes de dizer: — Desculpa. Hoje... Eu acabei te envolvendo nisso. — Envolvendo? — Emory pareceu surpreso. Logo em seguida, riu. — Do que você está falando? Isso não tem nada a ver com me envolver. — Mas... — E você não se machucou por minha causa antes? — Rebateu Emory. — Além disso, o