Viktor— Viktor, tá na hora de você voltar. — Ivan diz, sério, cortando o silêncio com sua voz firme. — Minha sobrinha já está melhor. Precisamos de você aqui.— Escócia tá sob controle... por enquanto. — Nikita assume, com aquele tom desconfiado de sempre. — Mas não confiamos nem um pouco no novo chefe. Ele tá se fazendo de aliado, mas é igualzinho o resto: cobra venenosa. Como a Isabella sempre diz.— Duncan é sobrinho daquele monstro. Diz que odeia toda a família, que quer mudança... Mas eu só acredito vendo. — falo, seco, lembrando das palavras dele na videoconferência. Palavras bonitas, cheias de promessas, mas vazias até que se provem reais.— Exato! Então, irmão... vai ter coragem de dizer que vocês precisam voltar ou quer que eu mande umas fraldas e lenços umedecidos pra você não se borrar todo? — Nikita provoca, rindo.— Nossa, que prestativo. Vou seguir seu exemplo e te mandar umas pomadas pra assadura. Deve estar todo esfolado. — rebato, sério, mas com aquele veneno na voz.
ISABELLAA entrada do condomínio me engole com lembranças amargas. “Isabella, não deixe que o medo te paralise.” Ouço a voz da minha terapeuta ecoando na mente, como um mantra. Sinto Viktor apertar minha mão, transmitindo força silenciosamente. Olho para ele,meu marido, meu porto seguro. Me observa como se pudesse enxergar até minha alma. Sei que, se dependesse dele, ainda estaríamos em Nova York. Mas não podemos fugir para sempre.Temos deveres. Responsabilidades com nossa família... e com a máfia russa.A dor ainda mora em mim. Nosso pátio, nossa casa, aquele dia... foi cruel. Mas fugir não vai me curar. Eu repito mentalmente o que aprendi: encarar a dor é o único caminho.— Está pronta, minha vida? — ele pergunta, tentando esconder a preocupação no olhar.— Sim. Podemos entrar — respondo, firme, mesmo que por dentro eu ainda vacile.Marcello respira fundo e dirige condomínio adentro. Maurício está tenso ao meu lado, ele também tem fantasmas desse lugar. Foi ele quem me protegeu naq
VIKTORA votação foi unânime. Pavel agora faz parte do conselho da máfia russa. Todas as ordens de Ivan são lei, e meu papel é guia-lo nas decisões e garantir que elas sejam seguidas. O conselho, porém, serve como o “freio da diversão”, como eu e meus irmãos chamamos, uma tentativa falha de manter a Rússia dentro dos limites do caos.Deixei minha esposa em casa terminando de montar o quarto das meninas. Participei de tudo, claro, mas agora ela tá decidindo se o cobertor de bolinhas ou o de ursinhos é mais quentinho pro inverno. Isso é trabalho pro Mauricio, o médico e babá não-remunerado das nossas filhas. Marcello também ficou pra ajudar com as coisas no alto das prateleiras. Eu ainda morro de ciúmes da minha mulher com esses dois, mas sei que não oferecem perigo. Agora, o babaca do Joshua… esse desgraçado aparece com a desculpa de “visitar” minha esposa e não tira os olhos dela. Se diz irmão, mas olha como se quisesse arrancar a roupa dela com o olhar. Filho da puta.Chego na empres
ISABELLATiros. Gritos. O cheiro de pólvora no ar.Estou agarrada à minha mãe, chorando desesperada. Meu coração bate tão forte que parece querer rasgar meu peito. Por que isso está acontecendo? Por que querem nos machucar?A porta é arrombada com um estrondo que ecoa por toda a sala. Um homem surge na entrada.— Te achei, sua desgraçada — ele rosna, o sotaque estranho tornando suas palavras ainda mais aterrorizantes.Ele aponta a arma para mim, um sorriso macabro no rosto. O som do disparo explode nos meus ouvidos.— ISABELLA! — O grito da minha mãe é a última coisa que escuto antes da escuridão me engolir.Acordo ofegante.O despertador toca ensurdecedor ao meu lado. Meu coração ainda está disparado, e a sensação horrível do sonho persiste. De novo, esse pesadelo. Se eu contar para minha mãe, ela vai dizer que minha imaginação é fértil demais. Mas por que isso parece tão real?Sacudo a cabeça, tentando afastar os pensamentos. Hoje é o primeiro dia do último a
ISABELLA Entramos no avião. Minha irmã se senta ao meu lado, os olhos fixos em nosso pai, esperando,não exigindo,uma explicação. Quando percebe que ele não diz nada, ela explode: — E então? Vai explicar que merda está acontecendo ou temos que implorar? — Livi nunca teve paciência para rodeios. Nosso pai solta um suspiro pesado. Seu olhar carrega um peso sombrio, como se estivesse prestes a abrir uma ferida que nunca cicatrizou. — Eu vou contar tudo. Vocês merecem saber a verdade. O silêncio que se segue é ensurdecedor. — Há vinte e dois anos, sua mãe fugiu do país onde morava, Rússia.Seu avô… — ele hesita, escolhendo as palavras com cuidado — é um homem cruel e detestável. Ele queria obrigá-la a se casar com um velho de setenta e cinco anos, ainda mais asqueroso que ele. Meu estômago revira. — A única alternativa dela foi fugir. Um soldado infiltrado do meu pai, que é o chefe da máfia nova iorquina, a ajudou a escapar. Trouxeram Melissa para a América, onde ela ficou s
ISABELLA Pousamos no Queens no meio da madrugada. O sono pesava, mas o frio na barriga falava mais alto. No momento em que descemos do avião, carros enormes e blindados já nos esperavam. Meu pai e meu tio saíram cumprimentando aqueles homens com tanta empolgação que até parecia reencontro de novela mexicana. Assim que entro no carro, faço questão de me certificar de que estou em um diferente de dona Melissa. Ainda não estou pronta para falar com ela. E se eu entrar no mesmo carro, vai que ela tenta puxar assunto? Prefiro evitar o risco. Nem percebo o tempo passar, só noto que chegamos quando os carros param. Olho pela janela e me deparo com um condomínio imenso: quatro mansões enormes e várias casas germinadas ao redor. O carro estaciona em frente à maior delas. Parece coisa de filme. Antes mesmo de absorver a grandiosidade do lugar, noto uma movimentação na porta da casa. Uma senhora sorridente surge acompanhada de um senhor elegante. — Vovó! Vovô! — Eu e meus irmãos gritam
ISABELLA Acordo me sentindo mais leve. Depois de uma noite bem dormida em uma cama digna de princesa, boa parte da angústia se dissipou. Ainda estou magoada com minha mãe, mas sei que não posso ficar sem falar com ela para sempre,especialmente agora, com essa guerra contra a família dela prestes a explodir. Me levanto e pego o celular: 15 chamadas perdidas e 50 mensagens não lidas. Josh. Meu melhor amigo desde os seis anos. Conheci ele no primeiro dia de aula, quando o encontrei apanhando de um valentão. Sem pensar, me joguei no meio da briga e gritei o mais alto que pude para chamar a atenção da diretora. Funcionou. Desde então, nunca mais nos desgrudamos. Hoje, ele é o capitão do time de hóquei e conseguiu uma bolsa para estudar engenharia em Nova York. O plano sempre foi irmos juntos,ele engenharia e eu artes,mas parece que a vida tinha outros planos. Sento na cama e ligo para ele antes que o senhor do drama decida sequestrar um helicóptero para me encontrar. — ALÔ,
ISABELLA Hoje é o nosso primeiro dia na imprensa. Logo pela manhã, teremos uma reunião por vídeo chamada com Nathanael, o chefe da máfia de Chicago. Ele é nosso aliado e guarda nossos melhores armamentos sem levantar suspeitas. Em troca, ajudamos a construir um dos maiores bunkers da região, com o acordo de usá-lo como bem quisermos. Além disso, Nathanael é pai de Romeu,marido da minha tia Emília e melhor amigo do meu avô. Desde as quatro da manhã, estou dentro do meu closet, revirando cada peça de roupa na tentativa frustrada de encontrar algo perfeito para vestir. Nada parece bom o suficiente. Pedir ajuda para minha mãe está fora de questão. Ela ainda não superou o fato de que eu e minha irmã escolhemos "essa vida", como ela sempre diz. As discussões intermináveis entre ela e meu pai são a prova de que, no fundo, seu problema não é a escolha em si, mas o medo de nos perder. Quando o relógio marca seis horas, desisto. Pego qualquer roupa, minha bolsa, escondo a arma na cintura e s