Capítulo 2

Dominique Rodrigues

Acordei com disposição o bastante para correr uma maratona. Ainda são quatro da madrugada, mas não quero que nada saia errado no meu primeiro dia de trabalho na Dvorak.  Sem fazer barulho, saio do quarto e sigo por um corredor iluminando com a lanterna do meu celular. Geralmente a luz do corredor fica acessa, mas como não sei por que apagaram. prefiro não acender. Também não posso fazer barulho. Faz exatamente quatro meses que moro na pensão da Dona Flor dividindo um quarto com três garotas.

Lavei meu cabelo sem pressa e o sequei com a toalha. Secador estava fora de cogitação antes das seis da manhã. Isso não era um problema, graças a Deus os meus cabelos nunca foram rebeldes. Eles sempre entenderam que não tínhamos condições financeiras para caprichos.

Me vesti com calma tratando de ficar o mais formal possível com uma saia preta na altura dos joelhos e uma blusa branca de mangas compridas, passei um batom nem um pouco chamativo e deixei os cabelos soltos. Eu estava mais que pronta. Só faltava o salto que decidi colocar quando estivesse saindo para não cansar as minhas pernas.

Ao sair do banheiro, uma pessoa já esperava para usar. O dia na pensão estava começando.

Antes de sair da pensão, peguei a minha bolsa e um casaco para o caso de o clima mudar. São Paulo é a capital da mudança no clima. O meu visual seria destruído se o colocasse, mas entre conforto e beleza, escolho conforto. Quando começar a receber o salário e puder alugar um apartamento, penso em beleza.

O metrô estava lotado. Quase fui jogada para fora antes da minha estação. Mas nada estragaria o meu humor. A Dvorak me aceitou como funcionária entre tantos outros. Me esforcei muito, e consegui.

Desci e andei os poucos minutos até o prédio de dez andares. O lugar era tão imponente que até tive vergonha de entrar. Muito vidro, limpos ao extremo, imaginei o trabalho dos responsáveis pela limpeza. O nome Dvorak estava escrito em letras douradas e grandes. Respirei fundo e passei pelas portas que se abriram diante da minha movimentação.

— Bom dia! — disse me aproximando de uma das recepcionistas.

— Bom dia! — a moça respondeu com um sorriso calculado. Ela usava um uniforme de saia e colete cinza e blusa branca, com um lencinho no pescoço. — Posso ajudá-la?

— É o meu primeiro dia. Poderia dizer onde devo ir me apresentar?

— Pode esperar com os outros, ali no saguão. Os Dvorak vão recebê-los e em seguida serão encaminhados ao seus lugares. — Ela apontou para um canto onde havia alguns sofás e várias pessoas.

— Obrigada! — agradeci e segui em direção ao grupo de onze pessoas. Eu contei. Queria que fossem doze, pois comigo se tornaria treze, o meu número da sorte. É, sou cheia de superstições. Desde não passar embaixo de escada até não deixar bolsa no chão para não ficar sem dinheiro.

O grupo era composto por apenas três mulheres, o resto eram homens. Alguns bonitos, outros nem tanto. O mais engraçado foi que o que me chamou mais a atenção foi uma garota negra de sobrancelhas bem feitas, olhos cor de âmbar e cabelos com aqueles cachos que me matam de inveja. Ela usava uma calça  de alfaiataria grafite e um terninho da mesma cor sobre uma blusa branca de seda. Deveria estar em uma passarela, não em uma empresa.

Me aproximei dela e puxei conversa:

— Olá, vocês são novatos também?

Ela sorriu mostrando dentes perfeitos e alinhados naquela boca cheia que também me deixa com certa inveja.

É só inveja! Não tenho desejo por mulheres. Apesar de também ainda não ter experimentado o sexo masculino, prefiro braços fortes me abraçando. Meus sonhos eróticos são com belos homens.

Alheia aos meus pensamentos invejosos, ela respondeu com uma voz melodiosa:

— Sim. Estamos esperando os irmãos fazerem o discurso de boas-vindas. Me chamo Rubia, vou ser a secretária do Apollo Dvorak.

— Prazer! Me chamo Dominique, vou trabalhar com o pessoal de design gráfico. — Agradeci a Deus por ter alguém disposto a conversar.

— Oi, meninas! — uma mulher muito loira sorriu e se aproximou. — Me chamo Ayla, vou ser a secretária do senhor Matteo. — Está claro seu nervosismo, pois suas mãos tremiam um pouco e a voz dela saia um pouco falha enquanto falava sem parar para respirar. — É o meu primeiro trabalho e a primeira vez que saio da minha cidade para morar sozinha em um lugar tão grande quanto São Paulo. Vocês são daqui?

Olhei para ela enquanto falava. Era realmente muito bonita, mas não me causava inveja como Rubia. O que ela tem de mais marcante são os olhos verdíssimos e as covinhas que nasciam a qualquer pequeno sorriso. Seu corpo era magro demais e deixava seu vestido social um pouco frouxo. Tive vontade de adotá-la. Como se eu tivesse condições de cuidar de alguém!

— Eu sou de Los Angeles. — Rúbia disse sorrindo amigavelmente para Ayla e me tirando da análise. — Mas tem dois anos que vivo em São Paulo. Me apaixonei por essa cidade.

— Eu nasci no estado, mas em um município mais afastado e menos desenvolvido — respondi também.

Enquanto conversávamos, alguns rapazes entraram na conversa e logo estávamos menos tensas.

Não demorou nem dez minutos e uma senhora com roupas sóbrias e elegantes chamou a nossa atenção fazendo com que olhássemos os dois homens parados atrás dela, parcialmente cobertos por sua imagem. Ela era muito alta. Ou era o salto.

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