Mundo ficciónIniciar sesiónDominique Rodrigues
— Esses são dois dos donos dessa empresa. Escutem com atenção o que eles têm a dizer — depois da vaga apresentação, ela se afastou ficando em um canto enquanto encarávamos os dois deuses do olimpo que desceram para falar conosco. Nunca achei homem de terno bonito, mas ao vê-los mudei de opinião rapidamente. Terno era a roupa mais perfeita do mundo. Ou era eles que eram? Eram eles.
— Inicialmente, desejo as boas-vindas. A frente da empresa estou eu, Gael Dvorak e os meus irmãos Matteo e Apollo Dovrak.
Tomei um certo ranço do seu jeito de mencionar o próprio nome. Senti como se ele se proclamasse o dono do mundo e automaticamente o apelidei assim; Dono do Mundo. Claro que não deixaria isso chegar aos ouvidos dele jamais, não sou louca. E claro que o jeito insuportável não me impediu de ficar excitada com o seu tom de voz. A voz de Gael Dvorak era aquele tipo de voz que não dá para controlar a imaginação. Ele certamente é o tipo que dá uma ordem e é obedecido com um sorriso. Se ele disser: Vá lavar a louça! Aposto que mesmo uma feminista vai e com a calcinha molhada, esperando, quem sabe, uma recompensa mais tarde. Esse pensamento me fez imaginá-lo em uma cena em uma cozinha, onde ele chega no meu ouvido e diz uma ordem qualquer com essa voz deliciosa e eu o vejo nu com as mãos cheias de detergente pronto para nos lambuzar.
Sorrindo, balanço a cabeça para espantar a imagem erótica e volto a minha atenção para as palavras dele. Meu pensamento: preciso de um namorado urgente. Virgindade em excesso pode fazer mal.
Gael continuava falando, enquanto o irmão permanecia calado ao seu lado com uma expressão sombria. Olhei para Ayla que estava ao meu lado, ela parecia ter diminuído um pouco — como se fosse possível — e disfarçava suas mãos um pouco tremulas. Tive pena dela porque seria a secretária dele. O homem não parecia nada fácil de lidar.
Quando Gael passou a palavra para ele, levei um susto. Ele tem a voz mais grave que a do irmão.
— Sejam bem-vindos! — disse simplesmente. Até pensei que ele sairia abruptamente, porém ele ficou lá parado como uma estátua de cera em um museu de personagens de suspense.
Percebi que Gael o olhou com certa irritação, mas voltou a nos encarar com um sorriso que também faz molhar calcinhas e disse:
— Meu irmão fala pouco, mas suas palavras são o que realmente desejamos. Sejam bem-vindos e vamos trabalhar.
Eles foram aplaudidos, enquanto saiam em direção aos elevadores.
Todos estavam seguindo seus rumos de acordo com o que a mulher, que descobri se chamar Juliet, nos indicava.
A primeira que ela orientou foi a Rúbia, pedindo para que ela a aguardasse enquanto terminava, pois a levaria até a sala dela já que o seu novo chefe não apareceu. Rúbia sorriu e se afastou um pouco, não parecia nem um pouco abalada. Ao contrário de Ayla que ficou olhando o chefe dela sair sem dar nenhuma orientação. Coitada, foi pegar logo o CEO que não fala!
Fui informada a qual andar deveria me dirigir e me despedi das minhas novas colegas com um sorriso. Vamos começar o trabalho de verdade!
*
O dia foi tranquilo. Conheci os meus colegas de trabalho. Meu chefe me explicou algumas coisas do que eu faria, me entregou meu crachá com minha foto e nome e passou os meus acessos aos sistemas necessários para o trabalho. Eu era oficialmente funcionária da maior empresa de cosméticos da América Latina. O dia passou extremamente rápido diante da minha transbordante alegria.
Na saída tive a sorte de encontrar Ayla e Rubia. Rubia saia pelo saguão assobiando uma música, outra coisa que me fez ter inveja. Não sei assobiar, e aos poucos estou me descobrindo uma invejosa completa.
Rindo com esses pensamentos, a chamei:
— Rubia?!
Ela se virou sorrindo ao me reconhecer e apressei o passo para alcançá-las. Ayla estava ao lado dela e tinha uma expressão bem melhor.
— Como foi o dia de vocês? — perguntei ao me aproximar.
— Não fiz nada. — Rubia diz simplesmente. — Acho que eles nem sabem o que fazer comigo. Meu chefe parece que é um fantasma aqui na empresa.
Ri um pouco e olhei para Ayla. Ela foi logo dizendo:
— Tenho certeza de que trabalhei por vocês duas. A secretária provisória não estava trabalhando direito. Tive que refazer muita coisa.
— Fiquei preocupada, confesso. Achei ele sombrio — falei.
Conversávamos caminhando pelo imenso saguão.
— Eu também. — Riu. — Mas percebi que não é tão ruim. Ele foi muito atencioso. De poucas palavras, mas estava lá para me ajudar a me adaptar.
— Bom, meninas, meu love me aguarda! — Rubia diz acenando para um belo rapaz ao lado de uma moto na frente da empresa.
— Até amanhã! — Ayla e eu dissemos juntas.
Um sentimento de que seriamos muito mais que colegas tomou conta de mim.
— Cuidado, meninas! Esse primeiro mês é crucial. Qualquer deslize e vamos direto para a rua. — Rubia diz antes de se afastar muito. — Não façam nada que comprometa seus empregos, pois gostei de vocês e ficarei uma fera se não formos mais colegas.
Apenas rimos. Isso eu já sabia. A fama da Dvorak era que não admitiam falhas ou desrespeito, e para eles alguém iniciando não pode fazer nada que vai contra as regras, pois significa que essa pessoa não respeita o seu trabalho. Esse foi um dos motivos pelo qual acordei de madrugada. Dormiria na porta da empresa, mas não daria chance ao azar de me fazer atrasada.
Uma coisa que devo deixar clara sobre Dominique Rodrigues, eu sou uma pessoa que atrai o azar.
Ayla e eu seguimos até a mesma estação do metrô, mas pegamos direções diferentes. Pretendia voltar de ônibus, porém decidi deixar de lado para acompanhá-la.
Enquanto voltava para casa, já sentia saudade do trabalho. Sentia dias cada vez melhores no horizonte.







