O cheiro dele ainda estava em sua pele. Tão forte, tão real, que Hadassa sentia como se ele estivesse ali, ao seu lado, mesmo horas depois de deixá-lo naquela clareira proibida. O toque de Lee marcava cada centímetro do seu corpo, mesmo sem que ele a tivesse possuído. Ainda.
Mas algo dentro dela... já era dele. Ela tentava esconder a marca prateada sob camadas de roupas e banhos de ervas, mas a queimadura luminosa insistia em pulsar cada vez que pensava nele. Cada vez que o vento sussurrava o nome que ela jurou nunca dizer em voz alta. Lee. Era como se a floresta agora respirasse o nome dele junto com ela. Hadassa estava sozinha em seu quarto, cercada por paredes de madeira e silêncio. Mas seu corpo não conhecia mais descanso. A pele ardia, os sentidos estavam aguçados. Como se ele a chamasse através da distância. Como se a própria alma clamasse por sua presença. Quando fechava os olhos, revivia o beijo — a língua firme, os dedos nas suas costas, o calor em espiral nas suas entranhas. Aquilo não fora um simples encontro. Fora o despertar de algo ancestral. Selvagem. Proibido. Ela mordeu o lábio inferior, lembrando-se do modo como ele a encostara na árvore, com autoridade e desejo. Nunca se sentira tão viva. Nunca se sentira tão... loba. — O que você está fazendo comigo? — sussurrou ao vento, abraçando os próprios braços, tentando abafar o tremor interno. Mas o vento respondeu. Com o cheiro dele. Instantes depois, três pancadas firmes à sua porta fizeram seu coração saltar. — Hadassa, precisamos conversar. — A voz de Elyan, fria e controlada. O medo substituiu o calor. Ela inspirou fundo, fechou os olhos, escondendo a marca sob a blusa grossa. Abriu a porta. — Claro. — Forçou um sorriso. — Entre. Elyan passou por ela, os olhos dourados analisando cada canto do quarto como se procurasse rastros. — Algo está acontecendo — disse ele, direto. — Você está diferente. — Estou apenas cansada. — Não minta. — Ele a encarou. — Você cheira... diferente. Como se outro lobo tivesse marcado você. O sangue deixou o rosto dela. — Você está imaginando coisas. Elyan se aproximou, pressionando-a contra a parede com uma presença que beirava o domínio. — Diga que é mentira. Diga que ainda é minha. — Os olhos dele brilhavam, não de ternura, mas de posse. — Elyan... — sussurrou, tensa. Mas ele recuou de súbito, os olhos se apertando. — É verdade. — A voz saiu em um rosnado. — Alguém ousou colocar as mãos em você. Ela se manteve firme, mesmo que o medo tentasse tomá-la. — Eu sou minha, Elyan. Nunca fui sua. — Isso muda agora. — Ele saiu do quarto, os passos duros ecoando. — Amanhã, vamos oficializar nosso compromisso diante do conselho. Quando a porta se fechou, Hadassa caiu de joelhos. --- No território Sangue da Noite, Lee sentia o vínculo queimar como se estivesse sendo chamado. Algo em Hadassa gritava por ele. E ele ouviu. — Onde você vai? — Daron surgiu do nada. — Ela está em perigo. Posso sentir. — Vai invadir território inimigo? Lee já se transformava. Os músculos se contraíram, os olhos tornaram-se âmbar, as garras surgiram. Em segundos, ele estava em sua forma de transição — não lobo completo, mas um meio termo mortal. — Se alguém tocar nela... — rosnou — eu rasgo a garganta. Sem esperar, correu pela mata como uma sombra, rompendo galhos, saltando raízes. O chamado dela estava em cada árvore. Cada vento. E, então, viu a cabana. Saltou silenciosamente pela janela de trás, emergindo no quarto de Hadassa como um espectro. Ela se virou, assustada, mas os olhos se encheram de alívio. — Lee... Ele a puxou para os braços, respirando seu cheiro, sentindo seu coração. — Ele tocou em você? — Tentou. — Eu mato esse bastardo. — Não... ainda não. — Ela se agarrou a ele. — Se fizer isso, começará uma guerra. — Já estamos em guerra. Ele a beijou como se quisesse devorá-la. E ela correspondeu com a mesma sede. As mãos dele percorreram suas costas, subindo por baixo da blusa, descobrindo a pele quente. Ela gemeu contra seus lábios, pressionando o corpo ao dele. — Você é minha — ele sussurrou contra seu pescoço. — Sempre fui. As roupas caíram ao chão. Não havia hesitação. Só desejo. Lee a deitou na cama com reverência e selvageria. Os corpos se uniram como peças de um quebra-cabeça sagrado. A cada toque, a marca entre eles pulsava mais forte, iluminando-se em prata e dourado, como se a própria Lua abençoasse aquele encontro. A respiração de Hadassa tornou-se entrecortada. Ele a acariciava com precisão, explorando cada curva, aprendendo seus limites e rompendo cada um deles com cuidado e luxúria. Ela arqueou o corpo, os seios nus tremendo sob as carícias. Ele os beijou, mordiscou, adorou. Como se ela fosse uma deusa a ser venerada. E, quando a penetrou, não houve grito. Houve silêncio. Intenso. Reverente. Dois corpos se fundindo. Duas almas colidindo. Ela sussurrou o nome dele como uma prece. Ele rosnou o nome dela como uma promessa. --- Horas depois, ainda entrelaçados, Hadassa repousava no peito dele. — Isso é errado — disse ela, com voz sonolenta. — Isso é destino — respondeu ele, acariciando seus cabelos. — Eles vão nos matar. — Vão ter que nos encontrar primeiro. Ela sorriu, triste. — Eu não quero fugir. — Então lute comigo. Hadassa ficou em silêncio. Mas seu coração já sabia a resposta. No lado de fora, na escuridão da floresta, olhos voltaram a observá-los. Dessa vez, eram dois espiões. E ambos sabiam o que viram. A filha dos Luar Dourado se entregara ao Alfa da Noite. E aquilo... mudaria tudo.