capítulo 3- Chama sob a pele

O cheiro dele ainda estava em sua pele. Tão forte, tão real, que Hadassa sentia como se ele estivesse ali, ao seu lado, mesmo horas depois de deixá-lo naquela clareira proibida. O toque de Lee marcava cada centímetro do seu corpo, mesmo sem que ele a tivesse possuído. Ainda.

 

Mas algo dentro dela... já era dele.

 

Ela tentava esconder a marca prateada sob camadas de roupas e banhos de ervas, mas a queimadura luminosa insistia em pulsar cada vez que pensava nele. Cada vez que o vento sussurrava o nome que ela jurou nunca dizer em voz alta.

 

Lee.

 

Era como se a floresta agora respirasse o nome dele junto com ela.

 

Hadassa estava sozinha em seu quarto, cercada por paredes de madeira e silêncio. Mas seu corpo não conhecia mais descanso. A pele ardia, os sentidos estavam aguçados. Como se ele a chamasse através da distância. Como se a própria alma clamasse por sua presença.

 

Quando fechava os olhos, revivia o beijo — a língua firme, os dedos nas suas costas, o calor em espiral nas suas entranhas. Aquilo não fora um simples encontro. Fora o despertar de algo ancestral. Selvagem. Proibido.

 

Ela mordeu o lábio inferior, lembrando-se do modo como ele a encostara na árvore, com autoridade e desejo. Nunca se sentira tão viva. Nunca se sentira tão... loba.

 

— O que você está fazendo comigo? — sussurrou ao vento, abraçando os próprios braços, tentando abafar o tremor interno.

 

Mas o vento respondeu. Com o cheiro dele.

 

Instantes depois, três pancadas firmes à sua porta fizeram seu coração saltar.

 

— Hadassa, precisamos conversar. — A voz de Elyan, fria e controlada.

 

O medo substituiu o calor. Ela inspirou fundo, fechou os olhos, escondendo a marca sob a blusa grossa.

 

Abriu a porta.

 

— Claro. — Forçou um sorriso. — Entre.

 

Elyan passou por ela, os olhos dourados analisando cada canto do quarto como se procurasse rastros.

 

— Algo está acontecendo — disse ele, direto. — Você está diferente.

 

— Estou apenas cansada.

 

— Não minta. — Ele a encarou. — Você cheira... diferente. Como se outro lobo tivesse marcado você.

 

O sangue deixou o rosto dela.

 

— Você está imaginando coisas.

 

Elyan se aproximou, pressionando-a contra a parede com uma presença que beirava o domínio.

 

— Diga que é mentira. Diga que ainda é minha. — Os olhos dele brilhavam, não de ternura, mas de posse.

 

— Elyan... — sussurrou, tensa.

 

Mas ele recuou de súbito, os olhos se apertando.

 

— É verdade. — A voz saiu em um rosnado. — Alguém ousou colocar as mãos em você.

 

Ela se manteve firme, mesmo que o medo tentasse tomá-la.

 

— Eu sou minha, Elyan. Nunca fui sua.

 

— Isso muda agora. — Ele saiu do quarto, os passos duros ecoando. — Amanhã, vamos oficializar nosso compromisso diante do conselho.

 

Quando a porta se fechou, Hadassa caiu de joelhos.

 

 

---

 

No território Sangue da Noite, Lee sentia o vínculo queimar como se estivesse sendo chamado. Algo em Hadassa gritava por ele. E ele ouviu.

 

— Onde você vai? — Daron surgiu do nada.

 

— Ela está em perigo. Posso sentir.

 

— Vai invadir território inimigo?

 

Lee já se transformava. Os músculos se contraíram, os olhos tornaram-se âmbar, as garras surgiram. Em segundos, ele estava em sua forma de transição — não lobo completo, mas um meio termo mortal.

 

— Se alguém tocar nela... — rosnou — eu rasgo a garganta.

 

Sem esperar, correu pela mata como uma sombra, rompendo galhos, saltando raízes. O chamado dela estava em cada árvore. Cada vento.

 

E, então, viu a cabana.

 

Saltou silenciosamente pela janela de trás, emergindo no quarto de Hadassa como um espectro. Ela se virou, assustada, mas os olhos se encheram de alívio.

 

— Lee...

 

Ele a puxou para os braços, respirando seu cheiro, sentindo seu coração.

 

— Ele tocou em você?

 

— Tentou.

 

— Eu mato esse bastardo.

 

— Não... ainda não. — Ela se agarrou a ele. — Se fizer isso, começará uma guerra.

 

— Já estamos em guerra.

 

Ele a beijou como se quisesse devorá-la. E ela correspondeu com a mesma sede. As mãos dele percorreram suas costas, subindo por baixo da blusa, descobrindo a pele quente. Ela gemeu contra seus lábios, pressionando o corpo ao dele.

 

— Você é minha — ele sussurrou contra seu pescoço.

 

— Sempre fui.

 

As roupas caíram ao chão. Não havia hesitação. Só desejo.

 

Lee a deitou na cama com reverência e selvageria. Os corpos se uniram como peças de um quebra-cabeça sagrado. A cada toque, a marca entre eles pulsava mais forte, iluminando-se em prata e dourado, como se a própria Lua abençoasse aquele encontro.

 

A respiração de Hadassa tornou-se entrecortada. Ele a acariciava com precisão, explorando cada curva, aprendendo seus limites e rompendo cada um deles com cuidado e luxúria.

 

Ela arqueou o corpo, os seios nus tremendo sob as carícias. Ele os beijou, mordiscou, adorou. Como se ela fosse uma deusa a ser venerada.

 

E, quando a penetrou, não houve grito. Houve silêncio. Intenso. Reverente.

 

Dois corpos se fundindo. Duas almas colidindo.

 

Ela sussurrou o nome dele como uma prece.

 

Ele rosnou o nome dela como uma promessa.

 

 

---

 

Horas depois, ainda entrelaçados, Hadassa repousava no peito dele.

 

— Isso é errado — disse ela, com voz sonolenta.

 

— Isso é destino — respondeu ele, acariciando seus cabelos.

 

— Eles vão nos matar.

 

— Vão ter que nos encontrar primeiro.

 

Ela sorriu, triste.

 

— Eu não quero fugir.

 

— Então lute comigo.

 

Hadassa ficou em silêncio. Mas seu coração já sabia a resposta.

 

No lado de fora, na escuridão da floresta, olhos voltaram a observá-los.

 

Dessa vez, eram dois espiões.

 

E ambos sabiam o que viram.

 

A filha dos Luar Dourado se entregara ao Alfa da Noite.

 

E aquilo... mudaria tudo.

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