Caridade que envenena.
Lívia chegou na Rocinha como quem vem em missão de paz. Carro alugado, sorriso ensaiado e roupa de ONG: camiseta branca com a estampa "Projeto Vozes da Favela".
Desceu com uma caixa de folders, acompanhada de duas assistentes. Passou pelo primeiro beco tirando selfie com o fundo da comunidade.
— “É aqui que vamos fazer a diferença”, dizia alto, pra quem quisesse ouvir.
Alicia, que tava na barbearia do irmão, foi a primeira a notar.
— “Quem é essa Barbie da guerra?”
— “Parece assessora de deputado. Nunca vi por aqui.”
MT pegou o celular e bateu uma foto de longe.
— “Já vi essa mulher numa reunião com o pessoal da produtora do Treloso. Ela tá vindo com a desculpa de ajudar, mas isso aí é isca.”
Rael soube em minutos. Ligou pra um dos olheiros.
— “Segue ela. Disfarçado. Quero saber pra onde vai, com quem fala e o que tá propondo.”
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Lívia se reuniu com líderes comunitários que não estavam diretamente ligados ao Rael. Gente mais antiga, cansada, que sonhava com melhorias e se encantava