Caroline Hoffmann
— Doutora, seu almoço chegou.
Fui tirada de minhas recordações com força. À medida que piscava lentamente e engolia em seco, confirmei com um pequeno sorriso e agradeci rapidamente ao meu assistente.
Depois de longas horas de trabalho, meu expediente chegou ao fim, e, apesar de eu fazer o meu trabalho com todo amor do mundo, sinto-me exausta. Meu emocional está bem abalado ultimamente, e posso dizer que é culpa de uma única pessoa, na qual pensei que havia sumido da minha vida há muito tempo, mas que retornou com força total, e isso tem me deixado constantemente preocupada.
Ele sempre foi muito bonito e atraente, mas confesso que esses anos o deixaram ainda mais lindo. Seu corpo aumentou de tamanho; ele está com uma postura firme e imponente. Em seu rosto, não existe mais aquele sorriso leve e descontraído, pois foi substituído pelo deboche e ironia que sinceramente, era seu pior lado pois eu já o vi tratando outras pessoas com essa mesma personalidade porém, dessa vez, tudo isso é direcionado a mim, e sei bem que sou a culpada disso.
Não tem uma outra explicação, na cabeça dele, sou merecedora desse seu pior lado.
Eu não o julgo, considerando que eu mesma optei por não contar a verdade.
Tirando meu crachá, enrolei a alça em volta do acrílico entre meus dedos e o enfiei no bolso do jaleco, que também coloquei dentro de uma sacola de plástico. Gosto de levar minhas roupas de trabalho para casa e fazer minha própria higienização, dessa forma, cuido do que tanto amo da minha forma e isso também é arcar com todas as responsabilidades que meu trabalho exerce.
Sou um pouco neurótica em não querer incomodar ninguém. Por causa desse meu jeito, ninguém entra no meu caminho, e a única pessoa que conseguia me tirar dos eixos foi o homem que amei loucamente.
Ele era o único que parecia me conhecer inteiramente.
Sempre foi o único a testar e ultrapassar meus limites.
Soltei um suspiro com a linha em que meus pensamentos estavam seguindo. Há anos eu não me sentia desse jeito. Parece que a qualquer momento pode explodir tudo o que guardei por seis longos anos.
Estou com tanto medo, que parece que estou sendo enclausurada. Meu maior segredo pode ser revelado e isso pode me trazer sérias consequências.
Se cair em ouvidos errados, estarei encrencada e não terá nada nem ninguém que poderá me ajudar.
Atravessando a porta do meu apartamento, encontrei Robert e Chiara gargalhando enquanto Oliver faz alguns rápidos movimentos em cima do sofá. De onde estou, consigo ouvir sua risada ecoar por todo o ambiente e com um sorriso em meu rosto, parei no lugar quando vi o exato momento em que Oliver deu alguns giros e se enrolou no enorme tecido que imitava a capa de um super-herói e, então, caiu no chão em um baque que atravessou a sala inteira.
— Ai…
Ouço meu menino murmurar enquanto os dois tios se dobravam de tanto rir pelas gracinhas que Oliver fazia, e, sem perceberem minha presença, eu logo os surpreendo, fazendo os três se virarem em minha direção.
— Nossa, lembrei que havia pedido para vocês cuidarem dele e não incentivá-lo a se quebrar inteiro.
Como se fosse combinado, os três rapidamente se levantaram em sincronia mas quebrando o silencio, Oliver, arrancou a capa que estava enrolada em seu corpo e disse.
— Oi, mamãe. Você chegou cedo.
Eu arqueei minhas sobrancelhas em surpresa e respondi escondendo o sorriso.
— Na verdade, estou atrasada alguns minutos.