NOVA YORK — Dois anos antes...
— Eu só quero saber onde está minha filha, que inferno!
Alexander vira a mesa, espalhando papéis pelo chão do escritório. Ele está completamente fora de controle. Meu pai observa, e é visível o ódio entre os dois. Vejo lágrimas não derramadas nos olhos de Alexander. Ele não reagiu assim quando Sônia foi morta pela Yakuza há um mês. Mas agora, com o sequestro de Alice, meu pai ultrapassou todos os limites. Nem eu posso perdoá-lo desta vez.
— Você vai ou não vai fazer o que te mandei? — Nosso pai pergunta, inabalável, enquanto tira um charuto do bolso e o acende. — É uma vergonha ter que sequestrar sua filha para te convencer a comer uma buceta.
Alexander o encara, com uma intenção assassina, entretanto, consciente de que não temos muito a fazer no momento.
Infelizmente se meu pai morrer agora, nunca mais encontraremos Alice.
Eu não queria que meu pai morresse, mas, chegando a este ponto, percebo que, se não colocarmos um fim nisso agora, Alice poderá sofrer ainda mais. Não aceitarei que minha sobrinha se machuque por causa das nossas escolhas.
— Eu posso lidar com a garota. — Falo, tentando encontrar uma solução.
Meu pai solta um riso alto, cheio de desdém. — É claro que pode, até eu mesmo posso. — Ele se vira para Alexander. — Mas o futuro Dom pode?
Alexander, já exausto, parece tentar controlar a raiva e a frustração. O olhar de meu pai é implacável, como se tudo estivesse cuidadosamente planejado para pressionar ainda mais Alexander. A ameaça implícita é clara: se Alexander não cumprir suas ordens, as consequências serão ainda mais severas.
— Eu farei. — Alexander se levanta e sai da sala, sem olhar para trás. seguido por mim e Otávio.
— Temos que continuar procurando Alice. Rodolfo, eu preciso ir para Chicago com Alexander, já que serei obrigado a me encontrar com Yago. Continuarei a investigação por lá e, assim que resolver com Yago, pego um voo direto de volta. Não vou esperar por Alexander. — Otávio diz, entrando no carro, seguido por mim e por um Alexander ainda transtornado.
Dirigimos em alta velocidade até chegarmos ao aeroporto, onde temos cerca de quatro horas para preparar tudo. Parece que a garota reservou o quarto para as sete da noite.
Tiro a droga do palito e entrego a Alexander.
— Obrigado por ter conseguido — ele diz com pesar.
— Não precisa agradecer, não fiz mais que a minha obrigação.
— Tente encontrar minha filha. Eu não suporto saber que ela está nas garras dele.
A urgência em sua voz revela a sua preocupação em resgatar Alice o mais rápido possível.
— Já considere ela encontrada — digo, tentando transmitir confiança.
Alexander acena com a cabeça, seu semblante mostrando um misto de tristeza e tensão. A missão é clara: encontrar Alice e garantir que ela esteja a salvo antes de enfrentar nosso pai.
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Chegamos à localização exata de Alice, cerca de três horas depois. Eu, Apolo e alguns homens de total confiança nos posicionamos estrategicamente, observando uma pequena cabana cercada por seis homens, todos com uma postura alerta. A situação é mais complicada do que eu imaginava; qualquer movimento em falso pode colocar Alice em perigo.
Apolo e os homens estão preparados para agir, enquanto eu me concentro em garantir que Alice esteja segura e livre do perigo. A estratégia é: agir com precisão para resgatar Alice e neutralizar qualquer ameaça sem comprometer sua segurança.
Adentramos entre a mata fechada, posicionando-nos para capturar cada um dos homens sem fazer barulho. Sob a luz fraca, movemo-nos com agilidade, nossos corpos se entrelaçando em um balé tenso de combate.
Nossas mãos se fecham em punhos e empregamos técnicas de artes marciais com precisão. Chutes e socos são dados cuidadosamente, sem emitir som, direcionados para pontos vitais e neutralizando os adversários com eficiência.
O silêncio é mantido, quebrado apenas pelos sons de respiração ofegante e pelos corpos caídos no chão.
Ao adentrar a cabana, descubro que, apesar do exterior degradado, o interior está limpo e organizado, com uma pequena área arrumada para Alice. Há uma cama improvisada, coberta com lençóis limpos, e um canto com algumas provisões. Me surpreendo ao ver que Samanta, babá de Alice, também se encontra neste lugar.
— Graças a Deus, Senhor. — Samanta se levanta e vem em minha direção com Alice nos braços. — Ela não para de chorar, chamando pelo pai.
— Tio — a pequena diz com a vozinha abafada pelo choro, fazendo meu coração se partir em mil pedaços.
Inferno. Minha princesa só tem 3 anos. Como meu pai teve coragem de fazer algo assim? A visão dela, tão pequena e assustada, intensifica a raiva e o desespero que sinto. A necessidade de protegê-la e garantir sua segurança agora é ainda mais urgente, e o peso das ações do meu pai nunca pareceu tão pesado.
— Tudo ficará bem agora, tá, meu amor? — digo, enquanto a pego no colo. Ela se agarra a mim com força.
Suas mãozinhas estão geladas, e seus olhos de um azul intenso estão vermelhos de tanto chorar. As quatro horas foram longas e exaustivas na luta para encontrá-la. O peso do tempo que ela passou em perigo e a dor visível em seu rosto intensificam meu desejo de levá-la para um lugar seguro e garantir que ela nunca mais passe por algo assim.
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No outro dia...
Sento-me no escritório com meu pai, compartilhando o último copo de uísque com ele, consciente de que seu tempo está se esgotando.
— Alexander realmente não serve para ser o Dom da Cosa Nostra. Estou pensando em conversar com o conselho e eleger você está noite — diz ele, sem saber que esta noite será a última dele.
Abaixando a cabeça em sinal de concordância, mantenho uma expressão de respeito e consideração. Internamente, porém, estou ciente de que o momento que se aproxima mudará tudo. Alexander não vai deixá-lo escapar.
— Vou limpar o caminho para você, para que não precise passar pelo mesmo que passei, Rodolfo — ele continua. — Seu tio era como seu irmão até que um dia me irritei e o matei sem piedade. Pessoas fracas não servem para o nosso mundo.
— Cada um tem seus demônios, pai — respondo, tentando manter a compostura.
Ele ri, zombando de mim, sua expressão revelando desdém e desprezo.
— É só saber domesticá-los — ele diz com um tom de autoridade.
Seu olhar é frio e calculista, refletindo a crueldade de suas decisões. Enquanto ele continua a falar sobre como controlar os "demônios" de forma rígida e impiedosa, eu me mantenho em silêncio, absorvendo cada palavra com um misto de respeito forçado e uma consciência crescente do que será necessário para Alexander assumir o poder. A realidade de sua visão brutal do mundo só intensifica a gravidade do que está prestes a acontecer.