Capítulo 107 Há dores que nenhum corpo suporta e nenhuma alma perdoa.A luz fraca do corredor refletia sobre o rosto sério de Júlia, a enfermeira infiltrada. O telefone estava colado ao ouvido enquanto ela observava discretamente o movimento dos médicos na UTI neonatal.— Ele morreu. O prematuro não resistiu — murmurou com frieza.Do outro lado da linha, Celeste Laurent permaneceu em silêncio por um instante antes de responder:— Os médicos já foram avisar a mãe?— Ainda não. Estão preparando o protocolo. Devem ir ao quarto dela em alguns minutos.— Esconde o verdadeiro. Agora. Coloque em uma ala sem acesso. Nada de visitas. Quero ele longe de qualquer olhar que reconheça a mancha no pé. Assim que ele estiver pronto pra sair do hospital, você me avisa. Ninguém mais pode saber que ele existe. Entendeu?— Entendido. — Júlia desligou, olhou para os dois corredores e desapareceu atrás de uma porta lateral.---Minutos depois, a porta do quarto de Naia se abriu com cautela. O médico entr
Capítulo 108 Quando a verdade se esconde, o inferno vem buscá-la.O relógio marcava 2h17 da manhã quando o jatinho de Cassian Délano tocou o solo de Seul. Ele desceu da aeronave com os olhos em brasa e a mandíbula travada. Nada foi feito de forma oficial. Seu nome não constava em nenhum sistema. A entrada dele no país foi feita por um canal diplomático alternativo, com documentos de um médico internacional — um codinome que Diego arranjou através de um parceiro na Coreia do Sul.Cassian entrou no Hospital Internacional de Seul pela entrada de carga, usando um crachá temporário de “consultor de biossegurança”. Nada passava pelas mãos do setor clínico. Rafael, Naia e os pais dela jamais saberiam que ele estava ali. Tudo acontecia nos bastidores, no andar administrativo e no subsolo.— Quero os registros de entrada e saída de todos os recém-nascidos nas últimas 48 horas. E quero os logs de alteração digital no sistema neonatal — ordenou a um dos seus homens infiltrados na área de TI.O
Capítulo 109 Às vezes, o mundo chora pelo filho errado.O quarto de hotel em Singapura estava escuro, com as persianas fechadas e o ar-condicionado cortando o silêncio. Celeste, de roupão de seda, sentada diante da penteadeira, finalizava uma mensagem em um celular criptografado. O bebê ainda não havia chegado. Júlia estava em trânsito com ele, usando rotas alternativas para despistar qualquer tentativa de rastreio. O destino era Dubai. Celeste iria ao encontro deles assim que tudo estivesse garantido.Enquanto isso, ela preparava o mundo.> “Hora de plantar o caos. Solte a notícia. O bebê dos Villeneuve não morreu. Foi sequestrado. Envie pra todos. E esteja na porta do hospital. A Naia terá alta hoje. Faça as perguntas certas.”O jornalista do outro lado leu, engoliu seco e digitou:> “Quem é você?”> “Eu vejo tudo.”Minutos depois, as manchetes começaram a pipocar:“URGENTE: Filho da herdeira dos bancos Beaumont e do bilionário Rafael Villeneuve morre em Seul.”A comoção foi imedia
Capítulo 110 O passado dela chegou antes do bebê.Enquanto Celeste sobrevoava o Atlântico rumo a Doha, acreditando ainda estar no controle de sua própria história, o chão sob seus pés começava a ceder.No mesmo resort nas Bahamas de onde ela havia fugido, o sheik Almir Al-Fahd ainda tentava entender o que havia acontecido. A mulher que o envolveu com palavras afiadas e promessas de império simplesmente desaparecera.Foi então que Fahd Al-Rashid chegou.Ex-agente de inteligência, discreto, preciso e antigo amigo de Cassian Délano. Ele caminhou tranquilamente pelo saguão e encontrou o sheik na varanda privativa da suíte presidencial.— Precisa de respostas, Almir? Trouxe o que você merece saber. — disse Fahd, entregando um dossiê preto, elegante, com brasões em relevo e lacre de segurança.O sheik o pegou e abriu com olhos desconfiados. A primeira página exibia em letras douradas:CELESTE LAURENT – 29 ANOSA EX-ESPOSA DE UM DÉLANO – UMA UNIÃO PELO PODERQuem é ela?Nome completo: Celes
Capítulo 111 Um bebê no banco de trás. O mundo na mira.O volante escorregava entre os dedos trêmulos de Júlia. O suor colava seu cabelo na nuca, e o banco do carro parecia cada vez mais desconfortável. O bebê dormia, encolhido no bebê-conforto no banco de trás, alheio ao caos que envolvia sua existência. Seus pequenos murmúrios de sono eram a única música que acompanhava os quilômetros intermináveis.Seis dias. Era esse o tempo que levava por terra entre Seul, na Coreia do Sul, e Doha, no Catar — cerca de sete mil quilômetros cruzando fronteiras, idiomas, culturas e, principalmente, o medo.Júlia havia deixado Seul com documentos falsos, um passaporte forjado, placas trocadas e um mapa criptografado que Celeste lhe entregou. A ordem era simples: desapareça com ele. E ela obedeceu. Partiu sozinha, evitando aeroportos, trens e qualquer meio de transporte monitorado. Tudo de carro. Tudo calculado. E ainda assim, tudo absolutamente apavorante.A travessia inicial até a China foi a mais
Capítulo 112 Uma testemunha a menos. Um berço mais perto.O noticiário local interrompeu a programação. Na TV da suíte em que Celeste estava escondida, o apresentador falava com urgência:— Interpol divulga imagem de Júlia Nam, procurada por sequestro internacional. A mulher foi identificada como enfermeira infiltrada no Hospital e Maternidade Internacional de Seul. Ela está viajando de carro, sob identidade falsa, e carrega o bebê de Naia Beaumont e Rafael Villeneuve. Qualquer informação sobre o paradeiro deve ser comunicada às autoridades imediatamente.A foto de Júlia apareceu em tela cheia.Celeste jogou o controle no chão.— Burra... burra, burra! — gritou. — Agora vou ter que me livrar dela e do carro. Vão chegar até mim! Merda! Mas eu já ia me livrar dela mesmo. Só vou ter que fazer isso mais cedo.Horas depois, Júlia chegou. Estava pálida, com os olhos vermelhos.— Eu preciso desaparecer, Celeste... a polícia está me procurando! Eu... não posso ser presa. Me ajuda ou eu conto
Capítulo 113 Onde há fumaça, há sangue.— ÚLTIMA HORA! — A voz do repórter ecoava pelos noticiários internacionais. — Moradores de uma região desértica a caminho de Doha denunciaram um incêndio de grandes proporções. Bombeiros locais atenderam ao chamado e, após controlar as chamas, encontraram um corpo carbonizado dentro de um carro completamente destruído.A imagem era forte: chamas ainda vivas lambiam os destroços do veículo. O fedor de fumaça e carne queimada se espalhava no ar. Um saco negro era carregado por dois homens, escoltados por policiais locais.— As autoridades afirmaram que a identificação só será possível através da arcada dentária. Tudo indica que se trata de uma mulher. Uma suspeita já está sendo investigada. O carro foi visto horas antes trafegando por uma rota secundária, sem placas, com apenas uma condutora.No hotel em que estava escondida sob o nome de Vânia Salles, Celeste Laurent segurava uma taça de vinho diante da televisão. O noticiário rodava ininterrupt
Capítulo 114 Quando servir o mal é a única chance de não morrer com ele.A porta do quarto se abriu lentamente. A enfermeira contratada entrou cautelosa, seus olhos analisando o ambiente com receio. O local era amplo, elegante, mas abafado por uma tensão densa como fumaça. Em meio ao silêncio, Celeste apareceu segurando o bebê nos braços, com um sorriso no rosto e o olhar gélido de uma predadora satisfeita.— Seja bem-vinda, doutora Elodie — disse ela, com suavidade cortante. — Espero que tenha vindo disposta a obedecer.Elodie tentou sorrir. — Claro... é um prazer ajudar.Celeste a ignorou, se aproximando com o bebê e colocando-o delicadamente sobre a cama, envolto em uma manta azul.— Sabe aquele carro que foi encontrado queimado ontem no deserto? Com um corpo dentro? — perguntou sem tirar os olhos do bebê.Elodie arregalou os olhos, hesitante.— Sim... passou no noticiário.Celeste virou-se com um estalo. — Pois era a última mulher que ousou me contrariar.A enfermeira empalidece