Capítulo 103 Quando a mentira veste a pele da verdade, até a maternidade vira um jogo de poder.O lobby do Hospital e Maternidade Internacional de Seul estava calmo naquela manhã, apesar do caos das horas anteriores. Enfermeiras circulavam discretas, e a recepcionista digitava prontuários no sistema com a concentração de quem já tinha virado a madrugada. O telefone tocou.Ela atendeu com voz clara:— Hospital Internacional de Seul, bom dia. Em que posso ajudar?Do outro lado da linha, uma voz doce, afetada por um leve sotaque francês:— Bom dia. Aqui é Isabelle Moreau-Beaumont. Minha filha, Naia Villeneuve, deu entrada nesta madrugada. Estou fora do país e estou muito preocupada. Poderia me dizer como ela está? E o bebê?A recepcionista digitou rapidamente no sistema.— Sim, senhora. Temos a entrada da senhora Naia Beaumont Villeneuve às 04h38. Ela passou por uma cesariana de urgência e está em recuperação pós-cirúrgica. Está descansando no momento. O bebê foi levado à UTI neonatal
Capítulo 104 Em um jogo onde vidas são peças, cada toque muda o destino.Em uma suíte privada do Ocean Club, nas Bahamas, Celeste Laurent — agora atendendo por Vânia Salles — ajustava os brincos de diamante diante do espelho. O celular estava em viva-voz sobre a cama, a voz dela soava firme, direta:— Eu quero alguém dentro da equipe médica. Alguém com acesso à ala neonatal e ao quarto da mãe. Preciso que estejam infiltrados até amanhã. O pagamento já foi feito.Do outro lado da linha, uma voz mascarada respondeu:— Infiltrar um hospital asiático de elite não é um favor qualquer. Já temos um perfil médico compatível em fase final de validação. Documentos foram enviados. A troca dos bebês exige precisão. Mas conseguimos fazer.Celeste sorriu enquanto retocava os lábios com batom vermelho.— Vocês têm doze horas. Eu quero a troca feita e o bebê retirado com segurança. A mãe não deve perceber nada até que seja tarde demais.— Valor confirmado. Duzentos mil euros recebidos. O restante a
Capítulo 105 Uma morte silenciosa, uma troca sem testemunhas, e o mundo nunca saberá.Na ala de emergência obstétrica do Hospital Internacional de Seul, a madrugada seguia tensa. Às 3h11, uma mulher deu à luz um menino prematuro. Era jovem, sem acompanhante, identificada como Leena Marchand, nome registrado na ficha de internação. Após o parto, sofreu uma hemorragia interna grave e não resistiu. O bebê, frágil, foi levado para a UTI neonatal e colocado na incubadora ao lado de outros recém-nascidos.No berço vizinho, repousava o filho de Naia Beaumont Villeneuve, nascido horas antes por cesariana de urgência. O bebê, embora também prematuro, apresentava boa resposta clínica. Sua incubadora estava identificada com o nome completo da mãe, hora do parto, e pulseira em seu tornozelo com o mesmo registro.Às 03h29, Júlia, a enfermeira infiltrada, entrou na ala neonatal com uma prancheta em mãos. O jaleco, o crachá, tudo nela parecia legítimo. Ninguém questionava seus passos.Ela parou di
Capítulo 106 Quando o coração reconhece o que os olhos ainda não veem.O som dos passos foi o único aviso antes do pediatra entrar no quarto, com os olhos sérios e a prancheta contra o peito.— Senhora Villeneuve... — começou, a voz firme, mas contida. — Infelizmente, o bebê não está se recuperando como esperávamos. Ele ainda está lutando, mas precisamos que a senhora seja forte. A presença da mãe pode fazer toda a diferença agora.Naia sentiu o chão sumir sob seus pés. Ela não conseguia responder. Só assentiu com um gesto leve, as lágrimas já escorrendo.As enfermeiras se aproximaram e a ajudaram a se sentar em uma cadeira de rodas. Com cuidado, ajustaram o robe hospitalar, colocaram os cintos de segurança e a conduziram pelo corredor silencioso.O caminho até a ala neonatal parecia interminável. Ao chegar, a médica abriu a porta da sala da incubadora. Lá dentro, o bebê estava enrolado em uma manta azul-clara, com os bracinhos para dentro e a cabeça coberta até a testa. Apenas o ro
"O Começo do Fim”Cassian está afundado no sofá de couro, o cheiro ácido de álcool pairando no ar como uma neblina sufocante. A garrafa quase vazia de uísque escorrega por seus dedos enquanto ele geme baixo, a cabeça jogada para trás, os olhos semi abertos, completamente entorpecido. Uma mulher de cabelos longos e escuros, que ele mal lembra o nome, o cavalga de forma sensual, as unhas cravadas em seus ombros, rebolando em um ritmo lento e provocante. Ele leva o seio dela à boca e suga. Os gemidos dela ecoam mais alto pelo cômodo, um som vazio, sem significado algum para ele.Mas então, um soluço alto.Um som sufocado que não vem da mulher em seu colo.Cassian abre os olhos de supetão e seus sentidos, antes entorpecidos, despertam ao ver Naia. Ela está ali, parada na entrada do quarto, a mão tremendo ao segurar a bolsa, os olhos arregalados e cheios de lágrimas. Seu rosto está pálido como se a própria alma tivesse sido arrancada do peito.— Naia... — Cassian balbucia, empurrando a m
Capítulo 1Quando a rivalidade se torna um campo de guerraCassian saiu do Délano Group como um furacão. O telefone vibrava sem parar no bolso do paletó, mas ele não queria atender ninguém. O peso da conversa com o conselho da empresa ainda pulsava em sua cabeça, apertando sua mandíbula em frustração.Seu pai estava à beira da morte. O império Délano Pharmaceuticals precisava de um herdeiro. E ele... Ele, Cassian Délano, não podia ter filhos."Um Délano sem sucessor não é um Délano", seu pai havia cuspido as palavras horas antes. "Você vai resolver isso, Cassian. Ou o império que construí vai para as mãos erradas."Resolver. Como se fosse simples. Como se sua fertilidade pudesse ser restaurada com um estalar de dedos.Mas ele já tinha uma solução. A inseminação in vitro.Ele só precisava extrair o material e seguir com o plano. Nada mais.Horizon Medical Group já estava à sua espera.Acelerou o carro pelas ruas de Paris, o motor roncando com sua impaciência. Mas quando estacionou na
Capítulo 2 Feridas Abertas Nunca CuramCassian estava sentado na cadeira do consultório, os dedos tamborilando impacientemente na mesa enquanto o Dr. Marcel Lefèvre falava. Mas ele não estava ouvindo.A única coisa que ressoava em sua mente era a maldita discussão com Naia minutos antes.— Senhor Délano? — O médico chamou sua atenção. — O procedimento foi realizado com sucesso.Cassian piscou, voltando para a realidade.— Certo, certo... ótimo.Dr. Marcel o observou com cautela.— O senhor está bem?Cassian passou a mão no rosto, soltando um suspiro irritado.— Preciso de um café.O médico cruzou os braços.— Não acho uma boa ideia. Você já está muito agitado.Cassian riu, sem humor.— Então eu preciso de algo mais forte.Ele se levantou, pegou as chaves do carro e saiu da sala. Dr. Marcel balançou a cabeça, sabendo que não adiantaria argumentar.Cassian seguiu pelo corredor, passou pela recepção e desceu até o térreo. A cada passo, sentia a irritação crescer dentro dele. O encontro
Capítulo 3Herdeiro do Império DélanoO despertador disparou às 5h da manhã. Sem hesitação, Cassian Délano abriu os olhos. Não havia espaço para preguiça ou indulgência. Disciplina. Controle. Precisão. Era assim que sobrevivia.Ele se levantou, os movimentos econômicos e calculados. O quarto impecável, cada objeto no lugar exato, como uma extensão de sua própria mente organizada e inflexível. O mundo exterior era um caos; ali, não.Vestiu o uniforme preto, nada mais que uma regata e um short, o suficiente para o que precisava fazer. O preto absorvia a luz, refletindo o vazio dentro dele.Na pista de corrida particular, cada passada era uma descarga de adrenalina. O frio da manhã raspava sua pele, mas não alcançava o gelo sob ela. Ele corria porque precisava. Porque, sem o esforço físico extenuante, a irritação latente que queimava sob sua pele poderia transbordar.De volta à mansão, Cassian mergulhou na academia. Aço, vidro e silêncio. Cada movimento nos aparelhos de musculação era pr