O sangue seca mais rápido do que a memória.
Ainda sinto o cheiro dele nas mãos, mesmo depois de tantos banhos. O estalo do disparo ainda vibra nos meus ouvidos, como um tambor ancestral que não para de bater. Eu matei meu pai. Meu pai de sangue. O homem que me deu origem, que me abandonou e que, no fim, ergueu a arma contra mim e contra aqueles que eu amo e que me acolheram.Não havia honra naquele gesto. Nem redenção no que fiz.Havia apenas sobrevivência.Foram dias de silêncio. De rostos sérios nos corredores da mansão. De olhares que me atravessavam como se esperassem que eu desmoronasse. Mas eu não desmoronei.Eu endureci.Enzo ficou comigo na primeira noite. Dormimos abraçados, mas não falamos sobre o que aconteceu. Ele não me perguntou como me sentia, e eu também não disse. Bastava o toque dele para saber que ele entendia. Ele e Dante viram o que eu fiz. E, diferente dos outros, não me julgaram.Ele só me segurou