Naquela noite, sonhei com fogo.
Não havia gritos, nem caos. Apenas chamas altas, dançando como sombras sobre paredes que pareciam familiares demais. E no meio do fogo, uma voz feminina firme, ancestral. Não era Elena. Era outra. Mais velha. Mais profunda.“Você carrega mais do que uma criança, Anna. Você carrega a chave.”Acordei com a respiração entrecortada. O quarto estava escuro, mas não silencioso. Do lado de fora, passos. Movimentação.Levantei devagar, ignorando a dor nas costas e o peso da barriga. Coloquei o robe de linho e caminhei até a varanda. Lá embaixo, no jardim, dois homens que não reconheci conversavam com Dante. Um deles usava terno escuro, o outro, uma jaqueta de couro. Os dois fumavam charutos como se aquele lugar lhes pertencesse.Os Rossi.Eu soube antes mesmo que alguém me dissesse.Desci as escadas antes que Elena pudesse me deter.— Anna! — ela chamou, apressando-se atrás de mim.