O dia seguinte amanheceu cinza, mas não era o tipo de cinza que anuncia chuva. Era o cinza que anuncia espera.
A mansão parecia sustentar o ar nos pulmões, como se também segurasse a respiração até que algo, enfim, acontecesse. E talvez fosse exatamente isso que nos restava: aguardar a primeira ruptura do mundo que estávamos tentando manter de pé. .
Eu estava na sala de música quando ouvi passos familiares pelo corredor. Dante entrou devagar, como se temesse interromper algo importante. Meu olhar subiu para ele, e no instante em que nossos olhos se encontraram, eu soube que ele carregava mais uma noite sem dormir.
— Ela acordou? — ele perguntou, a voz baixa, cuidadosa.
— Ainda não — respondi, indicando a porta entreaberta do quarto infantil.
A luz fazia desenhos no chão — desenhos que Vitória adorava pisar quando vinha correndo me mostrar alguma coisa. Mas hoje a casa parecia conter o passo dela. Talvez fosse impressão minha. Talvez não.
Dante se aproximou, deixando o casaco sobre uma