A noite caiu cedo naquela quinta-feira, como se o céu também estivesse cansado demais para nos dar mais luz. A mansão respirava numa cadência lenta, carregada de um silêncio que não era paz — era aviso. Eu podia senti-lo nas paredes, no ar, na madeira que estalava feito ossos antigos. O perigo não precisava bater à porta para ser percebido; ele caminhava entre nós como um perfume velho, familiar e evitado.
Vitória atravessava o corredor correndo, os cabelos balançando soltos, e eu precisei segurar a borda da mesa para não pedir que ela diminuísse o passo. Ela tinha sete, quase oito anos, e a inocência nos olhos dela era a última fronteira que eu ainda precisava defender. Quando se jogou nos braços de Dante, na curva do corredor, o coração que eu tentava manter firme se apertou como se lembrasse de algo esquecido.
— Papai Dante! — ela chamou, com aquela alegria inteira que só as crianças têm.
Dante a pegou no ar com facilidade, o sorriso surgindo antes mesmo dos braços se abrirem. A fo