((Enzo))
Às vezes, o silêncio da noite pesa mais que uma sentença.Naquela madrugada, como tantas outras, caminhei até o quarto de Vitória com passos leves, temendo acordá-la, embora soubesse que ela tinha o sono pesado da mãe. Quando abri a porta, encontrei Dante já ali, sentado ao lado da cama, os olhos perdidos em algum ponto entre as cortinas e o infinito.Vitória dormia com os bracinhos esticados, os cabelos bagunçados e um pirulito meio mordido caído ao lado do travesseiro.Dante se virou para mim e sorriu, mas havia algo naquele sorriso, algo que doía.— Ela teve um pesadelo. Disse que viu uma casa pegando fogo. — sussurrou.Assenti. Já não era a primeira vez. Nem seria a última.Nos revezávamos na vigília. Quando o sono me permitia, era comigo que ela dormia. Em outras noites, era com ele. Nossa filha tinha dois braços para abraçar e dois peitos para se deitar, um batendo com o amor sereno de quem constrói um lar