Capítulo 06

É estranho morrer, achei que veria anjos ou demônios mas não vi nada disso, vi escuridão e vazio mas não fiquei tanto tempo assim.

Mas é claro que eu não morri de verdade caso contrário não teria acordado.

Quando acordei senti algo estranho.

Para começar parecia que havia um buraco no meu peito, meu corpo que antes doía agora não doía nada.

Abri os olhos e vi que estava no mesmo lugar, deitada na cama e ao meu redor cada um sentado em um banco estava Olívia e Ravi, seus olhos se alarmaram ao me verem se sentando na cama.

Olívia foi a primeira a chegar perto se sentando na cama ao meu lado.

- Vai ficar tudo bem.- sussurrou ela.

Minha mente parecia um turbilhão, vozes sem sentido começaram a se tornar muito altas, um casal conversando sobre praias, crianças bricando de pega-pega, uma porta batendo, um chuveiro sendo ligado, um carro saindo, carros chegando, a tv ligada, várias tvs ligadas...aquilo parecia o inferno.

Apertei minhas mãos nos ouvidos e me encolhi na esperança de abafar todos aqueles sons terrivelmente altos.

- Desligue a Tv Ravi, agora.- Ordenou ela.

Eu queria gritar para que todos parassem, ficassem quietos mas não consegui.

Estava tudo tão alto, tão barulhento.

- Estou ficando louca.- exclamei pressionando agora o travesseiro contra meus ouvidos.

- Não está, vai aprender a controlar isso, vai ficar tudo bem.- ela tentou segurar minhas mãos delicadamente mas o som de uma multidão falando ao mesmo tempo se tornou mais alto, me levantei em um salto com as mãos na cabeça e gritei.

- Preciso sair daqui AGORA ESTÁ TUDO MUITO BARULHENTO.- berrei e mal pude ouvir minha própria voz diante de tanto barulho.

Os dois me olhavam preocupados.

Ravi se aproximou de mim e eu tentei recuar mas ele me segurou com força me empurrando para o banheiro.

- Me solte, me deixe ir EMBORA!- briguei com ele o empurrando, mas fui empurrada para dentro do box por ele, Olívia veio atrás chamando por ele.

- Ravi pare! Vá devagar com ela, ela acabou de acordar!- exclamou ela.

- Se ela continuar gritando e não se controlar vai atrair os humanos pra cá Olívia!- rebateu ele e se virou para mim.

- Vai arrancar minha cabeça como fez com aquele cara!- acusei.

- Feche a porta.- pediu ele e a mulher fechou.

Ele me empurrou mais para o canto do box e cai sentada no azulejo, se aproximou e eu tive a certeza de que iria me matar mas não fez isso.

A única coisa que ele fez foi abrir o chuveiro, a água corrente caiu toda em cima de mim.

Água quente.

- É só um banho Nina.- explicou ele sua voz ficando mais suave.

- Eu não me lembro de pedir sua ajuda nisso.- retruquei.

- Mas precisava, a água vai te ajudar a abafar um pouco o som ao redor, mas precisa se concentrar Nina, não pode sair gritando como uma louca ou vai atrair os humanos aqui, a polícia aqui.- revelou ele se aproximando de mim, a água caindo em cima de mim era reconfortante, os sons ainda estavam aqui altos, mas não estavam machucando tanto.

- Está tudo muito alto e ao mesmo tempo!- gemi com as mãos na cabeça.

- Ouça-os um por um, isole-os uns dos outros, preste atenção e depois abaixe a frequência.- explicou de modo suave.

- Eu não entendo o que você quer que eu faça, só faça-os parar de falar...- implorei.

- Você vai fazer parar, ouça agora comigo, um casal conversando...

 "Você não pode trabalhar nas nossas férias Daniel, viemos aqui aproveitar!"

 "Vai ser só uma única reunião Alice"

- Ouça agora as crianças brincando.

     "Vou pegar você"

    " Não vai! É muito lento!

- Isso ouça-os, agora quero que pense em algo bom, algo que te deixa feliz e tranquila.- ele estendeu as mãos para mim e eu as segurei, estavam quentes e macias.

- Pense Nina.- sussurrou ele.

E eu pensei, primeiro no rio onde tomava banho quase todos os dias da minha infância, então vi o rosto da minha mãe sorrido para mim, era meu aniversário, ela dizia que tinha feito o meu bolo, Avati já estava na sala, e estranhamente usava roupas, não só um short, mas calça, sapatos e uma camisa branca.

Sorria para mim.

- Demorou muito olhos azuis.- Avati disse da sala.

Sorri ao ver meu pai trazendo um lindo bolo para a mesa enfeitada na sala.

- Essa é sua família? - uma voz perguntou ao meu lado.

Me virei e percebi que era Ravi parado junto comigo na minha casa, ele via a mesma cena que eu.

O bolo foi colocado na mesa e minha mãe me chamou, acenando para mim com um sorriso estampado no rosto.

- Venha filha, vamos soprar as velas, meu bebê está fazendo onze anos.- ela disse e acendeu as velas.

- Esse dia nunca chegou a acontecer.- Sussurrei para Ravi e fechei os olhos.

Quando os abri novamente estava de volta ao banheiro, a água caindo em cima de mim e suas mãos segurando as minhas.

Ele me encarou.

- Aquele dia nunca aconteceu.- contei.

- Então porque você pensou nisso quando pedi para que pensasse em uma coisa boa?- perguntou ele ainda segurando minhas mãos.

- Teria sido um dos melhores dias da minha vida se tivesse acontecido.- respondi.

Ele se levantou e desligou o chuveiro, ao desligar notei que eu não ouvia mais nada anormal, agora estava tudo normal.

- Aqui.- ele me entregou uma roupa e se retirou do banheiro, andei até a porta e a tranquei rapidamente.

Eu não sabia como ele havia visto o que eu estava imaginando mas sabia que essa conversa de transição para vampira era uma mentira.

O que eu não entendia era eu ter ouvido tão nitidamente as conversas das pessoas ao lado, seria uma nova droga sendo desenvolvida?

Pelo jeito essa era a única explicação que eu podia pensar agora e esse lugar?

Era uma pousada então?

Mas a onde exatamente? E eu era uma prisioneira de novo? Depois de fugir da Sandra e de sua rede de escravidão sexual eu vim parar novamente cativa de outras pessoas? São uma seita de alguma coisa só pode.

Eu desejava que eu não fosse a donzela para o sacrifício, ao menos eu não era mais donzela então as chances para tal ritual diminuíam consideravelmente.

Caminhei até o espelho para ver meu reflexo, esperava ver meu rosto cansado, descuidado e com olheiras mas não havia nada disso no reflexo que vi.

Meu rosto estava saudável, na verdade parecia um pouco melhor que isso.

Sem nenhuma imperfeição na pele, sem as espinhas que de vez em quando deixavam marcas, mas o que mais me chocou foi a cor dos meus olhos.

Estavam azuis como sempre foram, mas ao redor deles havia um círculo avermelhado.

- Ah meu Deus que droga vocês estão me dando!- gritei enlouquecida.

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