Chase FieldsHavia um silêncio que se estendia entre nós como uma névoa densa, feita de tudo o que não foi dito. As coisas que antes fluíam com naturalidade entre eu e meus irmãos — um olhar, um gesto, a confiança sutil entre nossos passos — agora me causavam inquietação. Porque eu vi Emmy naquela manhã, saindo daquele quarto. Vi o modo como caminhava, não como quem descansou entre braços seguros, mas como alguém que esteve entre selvagens.Ela passou uma noite com Zayn e Alec. Os dois homens que, de formas tão diferentes, reclamavam sua devoção. E mesmo que eu compreendesse o vínculo que a prometida deveria manter com a Casa Malac’h... mesmo que respeitasse o laço sagrado entre ela e todos nós... não podia suportar ver como Zayn perdeu o controle.Emmy depois de alguns dias parecia mais firme, mais contida. Como se tivesse engolido seus próprios medos. Mas ainda havia coisas que ela não dizia — coisas que aprendia com as sacerdotisas em silêncio.E isso me corroía. A forma como ela e
Zayn Fields Os ventos cortavam os vales ao norte como lâminas afiadas, trazendo consigo o uivo distante das raposas do clã Ry'shara. Durante séculos, haviam habitado as encostas escondidas pelas brumas, mantendo-se neutros nas guerras e alianças do continente. Mas agora... agora eles rosnavam nas sombras, farejando sangue e oportunidade. A invasão de Matteo sob o efeito da lua cheia havia sido o estopim. Um único ataque, descontrolado e selvagem, fora suficiente para que os Ry'shara exigissem reparações. Mas nós sabíamos. Não se tratava de justiça. Era guerra disfarçada. Os líderes das duas facções do clã Ry'shara desceram até a Cidade Sagrada, suas presenças envoltas em túnicas bordadas com fios de prata e olhos carregados de acusação. Diziam-se ofendidos por não terem sido convocados para o ritual da Prometida da Casa Malac’h — Emmy — quando esta foi apresentada ao mundo. Alegavam que tinham o mesmo sangue divino correndo nas veias, que também descendiam da Deusa Superio
Emmy Zack O pavor que se espalhava pelos meus ossos era antigo, instintivo, como se um eco do passado estivesse despertando sob minha pele. Eu sabia. Mesmo sem conseguir ver, mesmo com a mente envolta em névoa, eu sabia que havia um homem ali. Algo — ou alguém — se materializara às minhas costas, e essa certeza me corroía feito fogo lento. Mas então tudo se dissolveu. Como se uma maré de lembranças me arrastasse, deixei de ser eu mesma. Deixei de ser presente. Tornei-me expectadora de um tempo que não me pertencia — e ainda assim, era como se tudo fosse meu. Ela era... eu. A mulher diante de mim, de pé sob um céu opaco, tinha o meu rosto. O mesmo corte nos lábios, os mesmos olhos marcados pela intensidade. Era como me olhar em um espelho esquecido por séculos. E, ao seu redor, ajoelhados diante dela, estavam Isaac e Zayn. Mas... não eram exatamente eles. Eram versões que jamais conheci, dobradas pelo tempo e por algo maior. A Deusa os observava com olhos de um azul sobrenatural
Emmy Zack Zayn ainda me beijava quando segurei seu rosto entre as mãos, sentindo o peso da força que ele lutava para conter. Cada músculo de seu corpo, rígido contra o meu, parecia vibrar com a necessidade crua que ele reprimia a custo. — Docinho... — ele sussurrou, roçando os lábios pela minha pele com uma devoção feroz — Eu só estive dentro de você por uma única noite... e tenho certeza que fiquei ainda mais insano. O timbre rouco de sua voz reverberou em mim, provocando um arrepio que desceu pela minha espinha. As mãos dele — possessivas, ansiosas — deslizavam pelo meu corpo por cima do vestido, cada toque declarando um direito que ele julgava inquestionável. Zayn admitia que era insano com frequência, isso poderia soar engraçado.. de alguma maneira, meu corpo acha isso excitante. — Zayn... — sussurrei, tentando agarrar os fiapos da razão, mesmo enquanto meu corpo já cedia, incendiado sob a magia que emanava dele. — O jantar... Meus olhos percorreram sua figura com uma
Emmy ZackEu teria que admitir para mim mesma que uma conexão sobrenatural me puxava para eles. Talvez isso soasse ainda mais insano a cada dia que eu passasse nesse templo, e, de algum modo, parecia mesmo que eu estava perdendo partes da minha sanidade, lentamente.Um dia, sonhei em estar aqui como uma simples sacerdotisa — apenas servir, ser útil em silêncio. Agora, carregava a responsabilidade de uma linhagem. Agora, eu era adorada como a futura deusa encarnada. Mesmo que explicações vagas sobre descender da linhagem de uma deusa fizessem sentido dentro da lógica deles, depois de Solac’h... depois de tudo que vi naquela memória... Eu só conseguia pensar que precisava recuar. Respirar.Mas não agora. Não esta noite.Esta noite, eu realmente os queria. Esta noite, eu escolheria um deles, mesmo que isso me despedaçasse depois. E, movida por um impulso incontrolável de descobrir mais sobre a Deusa antiga — ou talvez apenas de descobrir mais sobre mim mesma — escolhi Zayn."Resp
Emmy ZackO aroma quente da carne assada misturava-se ao perfume amadeirado das velas espalhadas pela mesa de madeira maciça. O crepitar discreto da lareira preenchia os espaços entre nossas palavras, criando uma atmosfera quase confortável — quase. Havia uma tensão suspensa no ar, densa como névoa prestes a desabar.Isaac inclinou-se para frente, suas mãos firmes segurando a travessa. — Carne? — perguntou, seu sorriso gentil contrastando com o brilho sombrio em seus olhos.Assenti com um pequeno movimento de cabeça, ainda que minha vontade fosse levantar e servir-me sozinha, como todos faziam. Mas Isaac insistia em cuidar de mim, como se isso o redimisse de culpas não ditas.— Salada? — sua voz baixa tornou a pergunta um sussurro cúmplice.Assenti de novo.— Frutas? — ele insistiu, a expressão leve, como se tentasse me arrancar um sorriso.Neguei com um gesto breve, desviando o olhar. Não tinha fome para doces.Isaac posicionou meu prato diante de mim com uma reverência silenciosa.
EMMY ZACKAcordei com um solavanco, caindo da cama com um estrondo surdo contra o chão frio de mármore. Meu coração disparava dentro do peito, e o suor frio escorria pela nuca. Outro pesadelo. Mais um.Madison apareceu no meu campo de visão antes que eu pudesse me recuperar. Seus cabelos dourados estavam soltos, caindo sobre os ombros como uma cortina cintilante sob a luz bruxuleante do abajur. Ela estendeu a mão, a expressão meio divertida, meio exasperada.— Você bebeu chá de hortelã antes de dormir de novo, não foi?Soltou um suspiro enquanto me puxava de volta para cima. Sua força me desequilibrou por um segundo, e eu quase tropecei.— Você sabe o que as guardiãs dizem sobre isso, Emmy.Antes que eu pudesse responder, Sol entrou no quarto, equilibrando um monte de toalhas dobradas no braço. Seu olhar deslizou rapidamente para mim, e ela franziu o cenho.— Pelos deuses menores e maiores, você precisa parar de desobedecer as guardiãs.Ela fechou a porta atrás de si com o quadril e j
EMMY ZACKObservei minha mãe analisando todas nós, Denise Zack parou diante de nós, e seu olhar gelado desceu até a maçã no chão. Com um simples movimento de mão, um feixe de energia se formou ao seu redor, levantando a fruta do mármore e conduzindo-a até sua palma.— Quem fez isso?Madison sequer hesitou.— Jennie. Ela sempre joga coisas na Emmy.Minha mãe lançou um olhar afiado para Jennie, que deu um passo para trás instintivamente. Sem desviar os olhos, mamãe apertou os dedos, e a maçã explodiu em pó entre suas mãos.— Por hora, deixarei isso passar.Seu tom deixava claro que não era uma concessão, e sim um aviso.Ela se virou, seus longos cabelos negros ondulando com o movimento.— Me sigam. Teremos visitantes na Torre. — Suas palavras ecoaram pelo corredor. — E vocês, comportem-se.Seguimos atrás dela, mantendo a postura reta, como nos foi ensinado desde crianças.A época não era comum para visitas. O outono trazia recolhimento. Lobos, vampiros, transmorfos e outras criaturas se