9

Felippa devorava um hamburguer imenso e ketchup escorria pelos seus dedos. Ela era comicamente observada por Evangeline e Alec, que ocupavam uma outra mesa.

— Ela é divertida. — Alec murmura, virando-se para Evangeline.

— É. Felippa é a melhor coisa que tem na minha vida.

— E pela forma que ela ficou me encarando durante todo o recital, você falou sobre mim.

As bochechas de Evangeline queimaram com aquela frase. Talvez ela tenha usado a palavra lindo, diversas vezes, enquanto contava sobre seu encontro com Alec.

— Falei. — ela confessa, mordendo uma batata. — Não é todo dia que eu chego em casa com quinhentos dólares na mão.

— Você não contou para ela sobre aquela sala. Contou?

— Não. Não. Eu prometi que não contaria e não fiz.

— Obrigado. — Alec sorri e pega o copo de plástico, repleto de refrigerante. — Hmm... eu não quero parecer esnobe, mas eu não tomava refrigerante desde a minha infância.

— Eu imagino. Também imagino que esse deveria ser o último lugar em que você pensou em colocar seus pés.

Alec solta uma risada genuína, que surpreende Evangeline. Ela não esperava aquela reação.

— O lugar não importa. Apenas a companhia.

— Oh... eu...

— Não fique envergonhada. — ele pede, mesmo que isso já tenha acontecido. — Eu posso confessar uma coisa?

— Claro.

Evangeline estreita seu olhar para Felippa, que agora se deliciava com um imenso milk-shake de chocolate.

— Eu não consegui parar de pensar em você ontem. — ela encara Alec. — Depois que foi embora, aquela festa perdeu até a graça. Tentei dormir e só me vinha seu rosto na mente.

— Alec, eu...

— Então eu resolvi sair e abstrair a minha cabeça. Entrei naquele teatro por acaso e... — ele solta uma risada baixa, tentando fazer com que aquela desculpa caísse bem. — foi como se uma força maior, tivesse me feito entrar ali. Aí eu te vi e ouvi, e tudo fez sentido.

Alec esticou o braço e tocou a mão de Evangeline que estava sobre a mesa. Ela encarou suas mãos e depois olhou para Alec.

— Você está confundindo as coisas. — ela diz, puxando sua mão com gentileza. — Desculpa, Alec, mas... eu... eu gosto de outra pessoa.

Alec pisca algumas vezes. Ele havia visto as fotos que Howard trouxera diversas vezes e em nenhuma delas aparecia um suposto namorado. Mas aquilo não deveria ser um empecilho para ele.

— Isso não muda as minhas vontades. — ele diz, se ajeitando no banco. — Gostaria de levá-la para jantar amanhã a noite. Em um restaurante de verdade. Com salmão e vinho do bom.

Evangeline odiava a ideia de ser grossa com alguém, mas para ela, Alec estava se fazendo de maluco. Ela tinha acabado de dizer que gostava de outra pessoa e ele a convidou para jantar.

— Você não me entendeu. — Evie se levanta e ajeita o vestido. Felippa permanecia alheia ao que estava acontecendo. — Eu não tenho interesse amoroso em você, Alec. Agradeço a ajuda na outra noite e esse lanche, mas... é só isso.

Alec não lidava com rejeições. Nunca houve uma mulher que lhe tenha dito não. E aquilo o deixou desnorteado.

— Eu estou te oferecendo algo grandioso e você está rejeitando? — ele também se levanta, fechando o terno que vestia. — Qual o problema? Qual o meu problema?

— Não tem nada a ver com você, Alec! Isso tem a ver comigo. Com os meus sentimentos. Felippa? FELPS? — a garota a olha e Evie faz um sinal com as mãos, indicando que estava indo. — Me desculpe, de verdade. Tchau, Alec.

Decidida a não falar mais nada que pudesse magoar Alec, Evie da as costas e caminha para fora da lanchonete. Felippa agarra no novo milk-shake que havia chegado e sai atrás a amiga, sem sequer se despedir de Alec. Ele j**a algumas notas em cima da mesa e também sai, encontrando com Howard próximo do carro.

— Achei que elas iriam conosco. — o motorista comenta, olhando para o fim da rua, onde as duas amigas andavam apressadamente. — O que aconteceu?

— Isso é o que você vai descobrir para mim amanhã. — Alec entra no carro e espera que Howard tome o volante. — Vamos para o clube.

O carro se afastou rapidamente e ainda passou pelas garotas na outra esquina. Evangeline o reconheceu, já que Howard a havia levado em casa naquele carro.

— O que aconteceu lá? Você saiu tão bruscamente.

— Ele deu em cima de mim! — Evangeline exclama, como se aquilo fosse um ultraje. — Por que todos os homens agem assim? Por que sempre que uma mulher é mais educada do que outra, parece que ela está dando abertura para ser cortejada?

— Cortejada?

— Foi só isso que você ouviu?

— Ei! — Felippa se defende. — Não seja grossa comigo. — ela para abruptamente e segura sua amiga nervosa. — É claro que ele se interessaria por você, Evangeline. Você é linda, culta, educada, inteligente... eu posso ficar aqui a noite toda, te elogiando. E ele é lindo! Rico! Ele poderia te dar a vida que você sempre mereceu. Por que você parece tão ofendida por ele ter se interessado?

— Eu não fiquei ofendida. Eu só... — Evie suspira. — Eu gosto do Ruby. Você sabe.

Felippa revirou os olhos com tanta vontade, que aquilo irritou sua amiga. Evangeline voltou a andar e fez com que a outra precisasse correr um pouco para alcançá-la.

— Caramba, Evie! Aquele cara nem sabe que você existe.

— Sabe sim.

— Você entendeu o que eu quis dizer. Vocês nunca falaram mais do que meia dúzia de palavras, sobre uma matéria qualquer. Ele não sabe do seu penhasco por ele.

— Ainda. — Evie murmura. — Amanhã eu vou resolver isso.

— Amanhã é sábado. Não tem aula.

— Eu sei. — foi a vez de Evangeline revirar os olhos. — Mas tenho que entregar uns livros na biblioteca e sei que ele estará lá. E então, irei dar um jeito de ele saber dos meus sentimentos.

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