Capítulo 4

-Ah não, você de novo. O que quer agora, Zack? -Perguntei.

-Por que ainda está aqui fora? A aula já começou.

-O que que é, hein? -O encarei. -Depois de todo esse tempo enfim decidiu ser legal comigo?

-Eu só estava tentando ser seu amigo.

Sorri de um jeito irônico.

-Acha mesmo que depois de tudo que você me fez passar, eu vou ser sua amiga? Não é porque eu te protegi do que aconteceu, que eu passei a gostar de você. Eu cansei disso tudo. E não venha falar comigo como se eu tivesse te perdoado, eu continuo te odiando e nada vai mudar isso.

Ele negou com um sorriso nos lábios.

-Tenho que dizer que estou realmente impressionado com essa mudança de personalidade sua. -Se aproximou mais da mesa em que estou. -E me vejo obrigado a dizer que eu compartilho do mesmo sentimento que você. E já que ambos estamos conscientes de que nos odiamos em consenso, o que acha de me contar mais alguma confissão que eu não saiba?

-Muito bem. -Me apoiei na mesa. -Eu te acho um completo babaca, idiota e o principal, um corno assumido. -Sorri.

Essa última palavra o fez sorrir levemente.

-E o que te leva a pensar que sou eu corno?

-Vamos ver, -Fingi estar pensando. -talvez seja pelo simples fato de eu ver quase que diariamente a Clair com outros caras mesmo quando vocês dois estão supostamente juntos.

-Bom, isso não é um problema, na verdade. Até porque nós não estamos juntos oficialmente. Nós apenas... -Pareceu estar tentando encontrar as palavras certas. -aproveitamos a maravilhosa presença corporal um do outro.

Eca.

-Então nós dois podemos ficar com quem quiser. -Ele se aproximou mais um pouco e se sentou de frente para mim. -Só que como eu sou completamente irresistível, ela sempre acaba voltando pra mim.

Arqueei uma sobrancelha e me recusei a dizer alguma coisa.

-E você? Já ficou com alguém?

Permaneci em silêncio. Ele não tem que saber de nada que tenha a ver comigo.

-Ou ainda é virgem?

Ao perceber que eu não ia o responder, ele sorriu e deitou a cabeça na mesa por um segundo.

-Eu não sei por que é que eu ainda pergunto. Mas olha, não precisa se preocupar, eu posso te ajudar quanto a isso. Se quiser, é claro. Garanto que sou um bom professor. -Piscou um olho pra mim.

-Prefiro beijar o pé grande à beijar você. -Respondi.

-Vai me dizer então que você resiste a mim? -Se inclinou sobre a mesa e se aproximou o suficiente para ficar bem próximo de meu ouvido. -Então se eu simplesmente decidisse te beijar aqui e agora, você não retribuiria? -Sorriu e quase tive vontade de bater em mim mesma por ter me arrepiado. Corpo idiota. -Acho que não preciso fazer mais nada para provar que você também é caidinha por mim.

Ele voltou para o seu lugar e deu seu típico sorriso de convencimento.

-Está ficando vermelha, quatro olhos. -Riu. -Juro que quando eu via nos livros a autora descrevendo o quanto a personagem ficava vermelha, achava que era exagero. Mas olha só você agora.

Ao perceber o que ele acabou de dizer, não consegui esconder o sorriso de vitória em meu rosto. Essa informação vai me ser útil futuramente, tenho quase certeza disso.

-Eu não quis dizer que eu leio. -Tentou consertar. -Eu quis dizer que já vi isso em algum vídeo do I*******m.

-Nem tente consertar. -Sorri mais. -Poupe a mim e a si mesmo de desculpas.

Ele ficou em silêncio e pude notar seu maxilar sendo travado.

-Ninguém vai acreditar em você. -Falou um tempo depois. -Vai em frente, pode espalhar.

Neguei e dessa vez foi eu quem me inclinei um pouco sobre a mesa.

-Não, ainda não. Mas eu posso pensar em fazer isso quando você me perturbar mais uma vez.

Ele negou com um sorriso no canto dos lábios.

-Você não...

Sua fala foi cortada quando a voz de Clair ecoou aqui dentro do refeitório. 

-O que pensa que está fazendo sentado com essa daí?

Zack se levantou e se virou na direção dela.

-Eu só... eu... -Pigarreou. -eu estava passando por aqui e vi que ela estava sozinha, então vim pedir para ela fazer alguns deveres meus que estão atrasados.

Eu sei que isso é apenas uma desculpa para ela não ficar estressada, mas escutar ele falando assim de mim... como se eu servisse apenas para fazer trabalhos alheios... me machucou um pouco.

Mas o que eu estava esperando vindo dele?

-Entendi. -Ela se aproximou dele. -Agora venha, vamos voltar para a sala. Essa daí não merece a sua presença.

Desviei meu olhar deles e respirei fundo. Patético.

-Sim, é claro.

Levantei um pouco o olhar e pude ver Zack olhando para mim antes de sair andando ao lado de Clair. Ele sorriu levemente e saiu.

No que é que eu estou me metendo?

(...)

Após passarem algumas horas de aula, o sinal finalmente tocou e todos saíram da sala. Parei na porta assim que me lembrei de que estou de detenção. 

-Você não vem? -Perguntou Jake.

-Bem que eu queria, mas...

-Ah, é mesmo. Tinha me esquecido que você vai ter que ficar aqui por causa de uma mentira sua.

-Tá, eu sei que mereço isso. Só que agora não tem mais como eu voltar atrás. -Dei de ombros. 

-Já contou pro seu pai que vai demorar pra chegar em casa? -Neguei. -Eu passo lá. Mas por favor, não faça nenhuma bobagem. Ele não merece a sua bondade.

Sorri para ele e em seguida ele saiu da sala.

-Olha, vou te falar uma coisa. -Zack entrou e foi em direção à mesa da professora. Em seguida se sentou e colocou seus pés em cima da mesa. -Aquele seu amigo é realmente insuportável. Como você aguenta tanta melação?

-Talvez você não goste dele por não saber a sensação de como é ter alguém ao seu lado de verdade.

Vi um sorriso se formando em seus lábios.

-Pegou pesado, quatro olhos. -Disse enquanto se levantava da mesa da professora.

-Já que você já ficou várias vezes de detenção e eu não faço ideia de como funciona, -Ignorei sua última frase. -o que temos que ficar fazendo?

-No geral fica eu e meus amigos, então ficamos aqui até algum professor resolver aparecer. Se isso não acontecer, nós simplesmente... bagunçamos. -Sorriu e se sentou em uma das cadeiras da frente.

Fui até ele.

-E esses seus "amigos" -Fiz aspas com o dedo. -onde estão?

-Acredite se quiser mas eles não fizeram nada digno de detenção, ainda.

Respirei fundo e me sentei em uma cadeira à sua frente.

-Então temos que esperar? -Perguntei e abri minha mochila.

-A ideia é essa.

Senti seu olhar sobre mim enquanto pegava meu caderno e um lápis.

-O que está fazendo?

Olhei em sua direção e fiz um gesto de tipo "é sério que está me perguntando isso?"

-Você vai estudar, quatro olhos? -Riu. -Em que mundo você vive?

-No mundo onde eu vivo, para conseguir conquistar o que quero, depende de mim. -Abri o caderno e em seguida peguei o livro na mochila.

-E o que exatamente você quer conseguir?

-Acho que ainda é cedo demais para conversarmos sobre isso. -Sorri sem mostrar os dentes e coloquei na matéria de matemática. -O que acha de aprender um pouco sobre álgebra?

-Argh, não mesmo. -Se encostou. -Vou ficar aqui até dar o horário e depois vou me m****r.

-Ok. -Falei simplesmente.

(...)

-Então se passarmos o expoente para cá, obteremos o resultado 195. -Anotei no caderno e ele continuava prestando atenção.

Após aquele fala sua, comecei a fazer alguns exercícios e de pouco em pouco percebi que Zack estava observando o que eu estava fazendo. Assim que não entendeu o que eu havia feito, ele simplesmente me perguntou o por que daquela resposta.

Fiquei bem surpresa diante de sua pergunta, mas me senti feliz também por ver que ele quer pelo menos tentar aprender.

-Espera aí, então é tão fácil assim? Como nunca aprendi isso antes?

-Quer mesmo que eu te fale o motivo?

-Não, tudo bem. -Sorriu. -Mas e se aqui no lugar do 17 fosse 45?

-Aí daria um resultado maior. Você faria do mesmo jeito, só substituiria o valor.

Zack coçou a cabeça e ficou um tempo olhando para o caderno.

-O resultado seria 2025?

-Sim, isso mesmo.

-Por que é que o professor nunca explicou dessa forma? Ficaria bem mais fácil de entender.

Dei de ombros e me senti vitoriosa por conseguir faze-lo entender pelo menos um pouco da matéria.

-Alguém já te falou o quanto seus olhos são lindos? -Perguntou do nada. -Porque eles são. Eu nunca havia percebido. Talvez seja por conta dos óculos, sei lá.

-Ahn... -Desviei meu olhar do seu.

O rumo da conversa mudou tão rápido. E o que é que deu nele!?

-Acho que já podemos ir embora. -Falei assim que olhei para o relógio na parede.

Peguei meus materiais e comecei a guarda-los novamente.

-Não sabe receber elogios, não é? -Escutei sua risada e o ignorei. -Seus olhos são lindos.

-Cala a boca. -Me levantei e coloquei a mochila nas costas. -Não tem que me tratar igual você trata as suas admiradoras.

-Ai. -Falou. -Eu só estava tentando ser gentil.

-Não, você estava tentando ver como eu reagiria diante de seu "elogio".

-Um pouquinho disso também. E você não se saiu como eu esperava.

-Eu não estou e nem vou estar afim de você, Zack. Entenda isso. -Caminhei até a porta.

-É o que veremos.

Saí e não olhei para trás. Não quero mais ter que ver o rosto desse garoto tão cedo.

Assim que cheguei em casa, encontrei Alysson sentada no sofá. Quando notou minha presença, se levantou e veio até mim.

-O que é que você estava fazendo com o Zack?

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