(Ponto de Vista de Dante)
Fiquei parado em frente ao apartamento de Elara, minha mão tremendo ao deslizar a chave na fechadura.
A porta se abriu. O cheiro dela, lavanda e terebintina, atingiu-me como um soco.
A mão de um fantasma apertando minha garganta.
Tranquei a porta atrás de mim, prendendo-me em seu espaço.
O mundo estava isolado. Éramos apenas eu e o fantasma dela.
Tudo estava exatamente como ela havia deixado.
Um buraco na almofada do sofá, como se ela tivesse acabado de se levantar.
Na mesa de centro, uma xícara de café pela metade. Uma flor verde e feia de mofo havia se formado dentro.
No cavalete, uma pintura de paisagem inacabada estava silenciosa. A tinta ainda estava molhada onde ela havia feito seu último traço.
A luz do sol cortava as janelas empoeiradas. Partículas de poeira dançavam nos feixes.
O silêncio era um túmulo.
Meu túmulo.
Eu caminhei para o quarto.
Deitei-me no lado dela da cama e enterrei meu rosto no travesseiro.
O cheiro dela me cercou. Tão familiar, tão