Eu Era o Preço do Sacrifício Dele
Eu Era o Preço do Sacrifício Dele
Por: KarenW
Capítulo 1
(Ponto de Vista de Noa)

Os rivais do meu marido mafioso me sequestraram, e ele sequer se apressou em me resgatar.

— Espere por mim. — Dissera ele.

Na prática, porém, estava mais preocupado em cuidar de Harper, a viúva do sobrinho morto.

Esperei, mesmo assim. Os dias passaram, transformaram-se em semanas, depois em meses. Quase um ano inteiro se foi, até que, finalmente, desisti de esperar... E escapei por conta própria.

No instante em que entrei na mansão dos Ward, soube que havia algo errado.

Fitas coloridas pendiam de cada janela, enquanto taças de champanhe tilintavam e os risos flutuavam com leveza na brisa da primavera. Era uma festa, a celebração do primeiro mês de vida de uma menininha chamada Lila.

No entanto, fiquei paralisada ao ver Elias, meu marido, e Harper, a esposa do sobrinho dele, surgirem de mãos dadas no pátio.

A multidão respondeu com aplausos ensurdecedores, vibrando como focas domesticadas.

Nos braços de Harper, vestida com um laço rosa rendado, estava uma recém-nascida.

Na qual só poderia ser Lila…

Com um vestido branco, leve e quase celestial, Harper irradiava uma aura etérea, enquanto Elias, trajando um terno igualmente branco que valorizava sua estatura imponente, combinava com ela em cada detalhe. Do lado de trás, sua mão descansava com naturalidade sobre as costas dela, como se protegesse o que era seu.

Assim que Elias ergueu sua taça de champanhe, um silêncio reverente tomou conta do público.

— Hoje. — Anunciou. — Celebramos o primeiro mês da minha filha, Lila. E... — Ele sorriu, orgulhoso, radiante. — E as boas notícias não param por aí. Harper e eu vamos nos casar no Cassino Ward, e é claro que esperamos ver todos vocês lá.

"Foi por isso, então, que ele se manteve tão ocupado, a ponto de não me salvar de seus rivais."

Logo, o olhar de Elias varreu a multidão e, de repente, me encontrou.

Por um breve momento, sua expressão vacilou: houve surpresa, alívio e, talvez até, um lampejo de felicidade. Houve um leve movimento, quase imperceptível, quando seu corpo se inclinou, guiado apenas pelo instinto que o levava até mim.

No entanto, Harper segurou seu braço e sussurrou algo urgente em seu ouvido.

Assim, ele ficou parado.

E ao meu redor, a multidão começou a murmurar incessantemente:

— Quem é a mulher imunda? — Cochichou alguém.

— Parece a Noa, não é? — Disse outro. — Só que ela está morta, e foi o próprio Elias quem afirmou isso. Já se passaram oito meses, e soube que ele contou que foi um inimigo quem a matou.

— Isso mesmo. — Comentou mais um. — Inclusive foi isso que levou ele e Harper a ficarem juntos, afinal ambos estavam de luto e se uniram pela dor numa verdadeira história de amor.

"Eu estava morta? Elias havia declarado minha morte ao mundo só para poder seguir em frente? Só para desfilar com Harper no braço e chamar a filha bastarda deles de milagre?"

E, enquanto os dias passavam, eu seguia esperando, acreditando que, a qualquer momento, ele apareceria por mim.

— Se ela for a Noa. — Murmurou uma voz próxima. — Então a Harper dormia com o tio do marido o tempo todo.

— Deus... — Sussurrou outro. — Não é à toa que Elias não esperou nem o caixão antes de propor casamento.

Logo, os sussurros ficaram mais altos, mais cortantes.

Em resposta, Harper, bem ali no centro de tudo, apertou os lábios num beicinho trêmulo, com as lágrimas já brilhando nos olhos.

"Pobre Harper. A doce santinha estava realmente começando a desmoronar."

— Eu não vou tolerar esse tipo de acusação. — Disse Harper, com a voz trêmula o suficiente para soar trágica.

Sem dizer mais nada, ela se virou e correu para fora do palco.

Elias foi logo atrás e conseguiu segurá-la a tempo, bem quando ela alcançava a beirada da plataforma.

— Harper, não se aborreça por um comentário sem importância. — Murmurou, com o microfone ainda captando cada palavra.

Depois, voltou para o público.

— Harper não fez nada de errado. Pelo contrário, estou declarando que minha filha, Lila, será a próxima dona do Cassino Ward.

"Lila herdaria o legado… E meus filhos? E Tessa e Milo, as crianças que ele um dia jurou que herdariam o legado dos Ward? Seria tudo uma mentira também?"

De repente, meus olhos se fixaram na mão de Harper, e, mesmo do outro lado do pátio, consegui ver o brilho do diamante. Reconheci o anel de imediato. Era o mesmo que já adornara meu dedo, a antiga relíquia da família Ward, que agora estava com Harper, como se sempre tivesse sido dela. Por conseguinte, tive que engolir o nó na garganta, e meus dedos tremeram ao longo do corpo. Em seguida, Elias me encarou novamente, e desta vez, não havia piedade em seu olhar, mas sim, incômodo. Logo, ele veio até mim, com a boca numa linha tensa.

— Minha Noa está morta. — Informou friamente, alto o bastante para que os convidados mais próximos ouvissem. — Essa mulher não passa de uma sósia. Uma impostora tentando arruinar o dia da Harper. Quem pensar o contrário e se atrever a espalhar boatos, vai ter de lidar comigo.

Aproximei-me, chegando perto o bastante para que só ele pudesse me ouvir, e então sussurrei:

— Diga de novo. Olhe nos meus olhos e diga que Noa está morta.

Sua mandíbula se contraiu, e a voz saiu baixa, carregada de urgência:

— Só desta vez, peço que colabore. Você ouviu o que disseram… Vão destruir Harper se eu admitir que você é Noa agora. Não posso deixá-la carregar a vergonha de ser chamada de destruidora de lares.

Ele nem se deu ao trabalho de esperar que eu respondesse. Apenas estalou os dedos, e os seguranças logo apareceram, posicionando-se ao meu lado para me afastar.

Após me conduzirem, os guardas me entregaram ao mordomo de Elias.

— Sra. Ward? — Ele perguntou, com a voz trêmula de reconhecimento.

Assenti.

Então ele me conduziu até a casa de hóspedes, uma moradia pequena, com apenas um quarto, localizada no limite da propriedade.

— Tome um banho. — Disse, constrangido. — Vou providenciar roupas limpas e algo para a senhora comer.

Assim que ele se retirou, retornei cautelosamente à casa principal. Ao cruzar a porta de entrada, uma transformação me atingiu em cheio, pois o ambiente familiar e refinado havia sumido de repente. Em seu lugar, um palácio ostentoso se erguia: móveis adornados em ouro, candelabros cintilantes, cortinas de veludo pesado... Além disso, um aroma carregado de esforço para obliterar cada resquício de minha presença pairava no ar. "De fato, tudo era tão exagerado…" Logo, segui para o quarto principal, mas tudo ali fora substituído também: a cama, as cortinas, e até a foto do nosso casamento fora removida. No lugar da antiga foto, havia uma nova imagem sobre a cômoda, na qual Harper, com um sorriso brilhante, recebia um beijo carinhoso de Elias.

Nesse momento, o mordomo surgiu por trás de mim, com as mãos retorcidas em nervosismo.

— Sra. Ward... A senhora não pode entrar aqui…

Em resposta, virei-me, com a voz cortante:

— Onde estão meus filhos?

O mordomo empalideceu.

— Eles... Estão no porão.

O porão era úmido, frio, e mal dava para armazenar caixas, quanto mais manter crianças ali.

Sem hesitar, empurrei-o para o lado e desci pelas escadas apertadas.

Ao abrir de repente a porta de um dos quartos minúsculos das empregadas, paralisei. Naquele instante, deparei-me com uma cena chocante:

Tessa e Milo estavam encolhidos no chão sujo, abraçados um ao outro, cercados por sacos de lixo.

Logo, um rato apareceu e atravessou os restos com tranquilidade, tão habituado àquele ambiente que sequer se incomodou com a minha presença.

Tessa, que sempre fora delicada desde que nasceu, parecia agora ainda mais frágil, como se qualquer sopro fosse suficiente para quebrá-la. De maneira similar, Milo também estava coberto de sujeira, com o rosto escurecido pela negligência.

Ao descer o olhar, reparei que as roupas dos dois estavam puídas e sujas, com o tecido tão deteriorado que era quase impossível distinguir os desenhos originais.

"Enquanto a filha de Harper dormia em lençóis de seda, vestia uma roupa de batismo com renda e comia com uma colher de prata, os meus filhos foram deixados ali, esquecidos no meio da sujeira…"

Imediatamente, senti o nó subir na garganta, esmagador diante da injustiça evidente.

— Tessa? Milo? É a mamãe. Eu… Voltei…

Ambos reagiram, com os corpos começando a se mover.

No entanto, foi Tessa quem piscou primeiro.

— Mamãe? — Sussurrou.
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