O som constante dos pneus deslizando pela estrada quebrava o silêncio tenso dentro do carro. A viagem de volta, que deveria ser tranquila, tinha se transformado em um emaranhado de sensações que eu não sabia nomear. Havia amor, claro, e uma gratidão imensa pelos dias que vivemos juntos no parque. Mas também havia algo diferente uma sombra discreta que se instalara entre nós desde aquela ligação misteriosa.
O celular de Gael tocava novamente, vibrando contra o suporte no painel. Ele apertou o volante com mais força, os nós dos dedos ficando brancos. Fingiu que não era nada, mas os olhos fixos demais na estrada e o maxilar travado diziam o contrário.
Fiquei em silêncio, apenas observando. Já havia insistido o bastante na viagem. Agora, queria entender o que ele esconderia sem precisar perguntar. Gael sempre foi o tipo de homem que guarda tudo, que prefere carregar o peso sozinho a dividir a carga com quem ama. Já o conhecia o bastante para perceber isso.
O barulho suave das risadinhas