Gael Lubianco
A casa estava mergulhada num silêncio quase ameaçador. Não era o tipo de silêncio que traz paz, mas aquele carregado de peso, resultado de tudo o que ficou engasgado, das verdades abafadas entre desculpas e máscaras.
Depois da discussão com Leandra, passei horas vagando pelo escritório, andando em círculos como um animal enjaulado. Pensamentos embaralhados se misturavam entre raiva, dor e um vazio incômodo impossível de preencher. As palavras dela ecoavam sem descanso: “Me sinto usada.” Aquilo tinha entrado em mim como uma lâmina afiada, abrindo feridas que já existiam, mas que eu evitava olhar.
Segurei um copo de whisky, mas o cheiro, que tantas vezes trouxe refúgio, provocou apenas enjoo. Deixei-o de lado, incapaz de engolir uma gota. As mãos se enterraram no rosto, tentando conter o coração que latejava, a respiração curta e pesada. Por que era tão difícil admitir? Por que afastar, quando tudo dentro de mim gritava o contrário?
Sem perceber, os passos me levaram pelo