Leandra Félix
Ficar na sala de espera da empresa Lubianco nunca me incomodou, mas hoje minha respiração estava diferente. Talvez fosse o perfume forte que a recepcionista usava, ou o fato de estar grávida e qualquer cheiro me afetar, ou talvez fosse apenas a ansiedade que se misturava silenciosamente com tudo o que tinha descoberto na noite anterior.
Gael tinha dormido com a cabeça apoiada no meu colo, como se finalmente pudesse descansar depois de se abrir comigo sobre algo tão profundo, tão doloroso, tão injusto. Eu ainda conseguia ouvir a voz dele, rouca, hesitante, dizendo que nunca contou a ninguém porque sentia vergonha.
Vergonha.
Daquilo que ele sofreu.
Daquilo que arrancou parte da inocência dele quando ainda era só um menino.
Fechei os olhos por um instante e inspirei devagar, tentando afastar o aperto no peito. Não consegui. A imagem dele, confuso e vulnerável, voltou à minha mente como uma onda que eu não consegui evitar. Um único pensamento se formou dentro de mim:
"Como