MIA
As mãos de Vittorio estavam em mim antes que eu pudesse respirar fundo. Era como se o beijo tivesse aberto uma represa — e agora, nenhum de nós conseguia conter o que transbordava. Vittorio me puxou com força pela cintura, colando nossos corpos, e eu me agarrei aos seus ombros como se o mundo estivesse desmoronando sob nossos pés — porque talvez estivesse mesmo.
Seu beijo desceu pela minha mandíbula até meu pescoço, quente, urgente, faminto. Era como se ele precisasse provar que eu estava ali, que tudo era real, que eu era dele. E eu era. Naquele momento, naquele quarto, não existia outra verdade além dessa.
— Você me deixa louco — ele rosnou contra minha pele, os dedos passeando pela curva da minha cintura, da minha coxa, apertando com fome voraz a carne da minha bunda. — Sempre me deixa à beira do abismo... e eu pulo. Por você, Mia
MIAA luz suave da lua cheia filtrava-se pela janela entreaberta, desenhando sombras prateadas sobre o lençol amassado que repousava aos pés da cama. O quarto parecia suspenso no tempo — um santuário silencioso onde só existia o eco dos nossos corpos e o cansaço saciado entre suspiros. A brisa noturna entrava leve, trazendo consigo o cheiro da noite misturado ao perfume quente da pele dele, da minha... nossa.Estávamos nus, entrelaçados como se nossos corpos não soubessem mais existir separados. Tínhamos nos encontrado repetidas vezes naquela madrugada, sempre com a mesma urgência, a mesma necessidade crua. Mas agora… agora havia apenas quietude. A calma depois da tormenta.A cabeça de Vittorio descansava no meu ombro, os cabelos bagunçados fazendo cócegas suaves no meu pescoço. Seus dedos deslizavam devagar pelo meu quadril, traçando caminhos sem pressa, como se esculpissem lembranças em minha pele. Não era desejo o que havia naquele toque. Era intimidade. Uma devoção silenciosa.Fec
MIAA madrugada estava envolta em um silêncio profundo, quebrado apenas pelo suave farfalhar do vento contra a janela entreaberta e o sussurro dos nossos passos apressados pelo quarto. O ambiente estava impregnado de uma calma tensa, como se o mundo estivesse esperando que tomássemos a próxima decisão. Eu ainda podia sentir o calor de Vittorio, seu toque persistente na minha pele, cada gesto dele preenchendo o ar com uma promessa silenciosa de que ele estaria ao meu lado, não importava o que acontecesse.Vittorio estava em movimento, suas mãos ágeis e firmes enquanto pegava suas roupas, o som das roupas sendo ajeitadas interrompendo o silêncio com uma suavidade que escondia o peso da missão que tínhamos pela frente. Eu também me vesti, o zíper do meu vestido rompendo a quietude do quarto, mas o momento parecia suspenso no tempo, como se o universo estivesse aguardando que fizéssemos
MIADescemos as escadas em silêncio, os passos amortecidos soando como ecos de algo prestes a acontecer. O corredor vazio parecia mais longo do que o normal, e cada passo parecia pesar mais do que o anterior. A madrugada soprava um vento gélido pela fresta da porta, cortando a pele como pequenas adagas e misturando-se ao calor denso da tensão que nos envolvia. Havia algo no ar — uma sensação de destino, como se estivéssemos caminhando para um ponto sem retorno.Meu coração batia rápido, um tambor descompassado dentro do peito. A respiração curta, entrecortada, mal acompanhava meus pensamentos. Mas mesmo à beira do abismo, eu me sentia grata. Porque ele estava ali.Vittorio seguia à minha frente, passos largos e firmes, como um escudo entre mim e o mundo. Seu corpo, sempre em alerta, parecia pronto para qualquer ameaça. Quan
MIAA porta da frente cedeu com um estalo seco.O cheiro que escapou de dentro era de coisa velha, trancada no tempo — umidade, cigarro, mofo. A casa estava mergulhada em sombras. As janelas estavam cerradas, as cortinas pesadas abafando qualquer traço de luz. Ainda assim, o ar ali dentro parecia carregar a presença dele. Do homem que me criou. Do homem que me entregou.Do meu pai.Entrei devagar, cada passo fazendo o chão de madeira ranger sob meus pés, como se os fantasmas do passado gemessem com a minha volta. O silêncio era estranho… denso, pesado. Como se a casa prendesse a respiração desde o dia em que eu fugi.Tudo estava no lugar. O mesmo sofá puído, o relógio parado na parede, os quadros tortos com fotografias que agora só m
MIAA presença dele ainda ardia em mim.Não como dor física.Era pior.Era aquela lembrança incômoda que se agarra à pele, que infiltra nos ossos, que grita dentro da memória mesmo no silêncio absoluto.Aquela mão, aquele toque, o cheiro dele — couro, pólvora, e um perfume amadeirado que me lembrava noites perigosas.Ele não me bateu.Mas me feriu de um jeito mais profundo.A garagem parecia respirar com dificuldade.As paredes rangiam. A lâmpada tremia. O ar era grosso, úmi
MIAO sol da manhã invadia o quarto em lâminas douradas, impiedosas, atravessando as frestas da cortina como punhais. A luz era clara demais, viva demais — como se zombasse da escuridão que me preenchia por dentro.O mundo lá fora seguia. Mas o meu mundo... ele estava ruindo em silêncio.Não havia descanso. Não havia trégua. Só um pensamento insistente, repetido, cruel — como um tambor fúnebre batendo no meu crânio: eu preciso fazer alguma coisa.Virei o rosto devagar. Vittorio dormia ao meu lado, sereno. Seus traços, sempre tão marcados pela dureza da vida que leva, agora pareciam suaves, quase inocentes. Ele respirava fundo, os cílios longos repousando sobre a pele pálida, o braço em volta da minha cintura como se, mesmo dormindo, me quisesse
MIAO sol mal havia vencido o nevoeiro da manhã quando os passos dele rasgaram o jardim como uma tempestade súbita.A brisa era fria, cheirava a sangue e rosas murchas.— Mia! — A voz de Vittorio veio antes dele, grave, rouca, carregada de urgência e terror.Ele surgiu no pátio como uma força da natureza, os olhos arregalados ao ver o corpo de Gisela desfalecido nos meus braços.— Meu Deus... — sussurrou, como se a realidade estivesse despencando sob seus pés.Aurora apareceu logo atrás, arrastando o roupão de seda pelo chão de pedras, o rosto pálido, o cabelo solto e desgrenhado, como se tivesse sido arrancada dos s
MIAO sol do fim da manhã atravessava as cortinas como um intruso impiedoso, tingindo o chão de mármore com tons dourados que não pertenciam àquela casa. A luz dançava sobre os veios frios da pedra, alheia à dor que ainda se agarrava às paredes, como se zombasse de um luto que não sabia ser visto, mas que impregnava cada respiração.A mansão estava muda. Não era o silêncio pacífico de um lar em descanso — era o silêncio após o impacto. Um silêncio espesso, sufocante, que se arrastava pelos corredores como um fantasma recém-desperto. Desci os degraus devagar, sentindo cada um como uma sentença. Meus pés pesavam como se tivessem raízes cravadas naquele chão, e a cada passo, algo dentro de mim se despedia — mesmo sem querer.Aurora me esperava no saguão. O robe escuro envolvia seu corpo como um véu de luto não declarado, o cabelo preso de f