A Voz do Silêncio
Catarina Smith Evans
A escuridão não era total. Era um véu grosso, pesado, que me separava do mundo, mas não o silenciava. O coma era a minha prisão, mas também o meu santuário. Meu corpo estava dormente, minha mente, estranhamente desperta. Eu era uma ouvinte cativa, flutuando em um mar de sedativos e tubos.
Eu ouvia.
No início, eram apenas ruídos indistintos, bips rítmicos e o sussurro constante de algo que eu sabia ser uma máquina respirando por mim. Mas, lentamente, as vozes começaram a ganhar forma.
A voz dele. Paul.
Eu ouvia seu arrependimento. Eu ouvia as horas de confissão sobre a culpa estúpida, sobre a indiferença de anos, sobre o beijo com a Senhorita Ribeiro que não significava nada. Eu ouvia a fúria dele contra Jussara, a maneira como ele me defendia na internet e no mundo real. E, mais importante, eu ouvia a adoração em sua voz.
— Eu te amo, Cat. Eu sou louco por você.
A mentira que havia me levado ao desespero e ao asfalto não existia mais. E