Tiago Souza narrando
Observo a nova casa em que irei morar, já que a antiga se acabou no dia em que tudo aconteceu. Marcela: É aqui que moramos agora, filho. Seja bem-vindo. Tiago: Desculpa por tudo, mãe. Luis: Nada disso, não tem nada para se desculpar. Sabemos que você não fez aquilo. A porta de ferro prata se abriu automaticamente e, ao redor, observei os vizinhos saindo de seus portões para ver. Meu pai estacionou o carro e logo minha mãe saiu, segurando a minha irmã. Fui até ela para ajudar. Minha mãe sorriu e foi até a porta à direita e nos chamou. Assim que entramos, demos de cara com uma sala completa, uma mesa posta e uma travessa embrulhada. Minha irmã quis descer do meu colo para ir até um cesto cheio de brinquedos, enquanto minha irmã do meio me olhava admirando. Tarsila: Vem, vou te mostrar a casa - falou empolgada. Luis: Não demorem, crianças! A mãe de vocês vai esquentar o almoço. Marcela: Filha, mostra o quarto do seu irmão e aproveita e toma um banho, filho, e vem. Concordei, ainda meio perdido; era tudo muito novo para mim. Subi uma escada que dava para as áreas dos quartos; tinham três. Tarsila: Aqui, esse é o seu - mostrou um quarto à minha esquerda - esse aqui é o da mamãe e esse é o meu e da Ayla, mas por enquanto Ayla dorme com nossos pais. Ela abriu as portas para eu ver os quartos; eram lindos! O dela era lilás e tinha várias coisas fofas. E no final do corredor tinha o banheiro. Tarsila abriu a porta do meu quarto e pude ver um quarto branco; tinha uma cama de casal, uma janela em frente, um guarda-roupa e, do lado da cama, uma escrivaninha com alguns objetos. Marcela: Deixei assim para que você decore como quiser. Tiago: Mamãe, o quarto está lindo e não preciso decorar; já tenho 28 anos. Ela deu um sorriso, me abraçando. Marcela: Mas sempre sera o meu bebê. Sorri. Luis: Ela queria decorar com carrinhos e tudo, mas olhei para ela com os olhos arregalados enquanto eles sorriam. Ela me mostrou tudo com mínimos detalhes. Fico feliz que minha família está vivendo bem e que, mesmo eu trazendo problemas, conseguiram se erguer. Entrei no banheiro e fiz tudo com calma. Eu chorei só de pensar que agora posso tomar banho de porta fechada e sozinho, que não preciso fazer minha necessidade em um buraco no chão na frente de outras pessoas. Tiago: Obrigado, Deus. Já vestido e perfumado, desci para a sala novamente. Minha mãe voltava da cozinha com a travessa e sentamos todos à mesa. Luis: É a sua comida preferida. Minha boca salivou só de pensar em comer uma lasanha. Quantos tempos não como uma comida de verdade! A cada garfada, eu só faltava cantar. Por um momento, eu esqueci tudo o que passei. Estar ali com minha família era algo que sempre esperei acontecer, por mais que parecesse um sonho distante. Minha mãe contava empolgada sobre o seu trabalho de enfermagem Em um posto de saúde, meu pai estava feliz por estar trabalhando como técnico em refrigeração e climatização. Ele começou como serviços gerais, mas o patrão deu a chance de fazer um curso e agora trabalha nesse setor. Minha irmã está feliz por já estar no ensino médio. Tarsila: Aí eu falei para a mamãe que quero estudar advocacia. Não acho justo ver várias pessoas em sua situação. Ela falou com os olhos cheios de lágrimas, o que emocionou todos à mesa. Chamei-a para um abraço. Ayla falava algumas palavras aleatórias, já que tem apenas 3 anos e fica na creche. A tarde foi maravilhosa; assistimos a um filme no final da noite, com algumas guloseimas que mamãe tinha comprado. Tudo parecia novo novamente para mim; era como se eu estivesse redescobrindo o mundo. Depois de fazer minha higiene pessoal, deitei na cama tentando convencer a mim mesmo de que agora estamos seguros e que podemos dormir em paz. Fiquei revirando na cama, mas logo o sono me abraçou e eu dormi tranquilo. Até senti um toque em minha cabeça; assustado, acabei agarrando a mão da pessoa com força. Marcela: Filho, sou eu. Sentei-me depressa na cama e soltei a mão de minha mãe. Tiago: Desculpa, mão, machuquei a senhora? Aconteceu algo? Marcela: Não machucou, querido. Eu que te assustei, desculpa... desculpa, não quis te acordar. É que a mamãe aqui ainda está sem acreditar que você está de volta e seguro. Tiago: Tá tudo bem agora, mãe. Eu amo a senhora. Abracei-a e ficamos lá por alguns minutos. Marcela: Deite, vou ficar aqui até você dormir novamente. Tiago: Não precisa, mãe, tô bem. Marcela: Claro que precisa, eu que te acordei. Concordei, sabendo que dona Marcela não sairia tão fácil. Deitei novamente com a cabeça em seu colo enquanto ela fazia um carinho. O quarto estava claro, o sol já brilhava lá fora. Levantei da cama e era cinco horas da manhã, o horário que eu costumava acordar todos os dias na cadeia. Levantei, arrumei minha cama e abri a janela, observando a paisagem. Peguei minha toalha e meus pertences pessoais. Assim que abri a porta do quarto, encontrei o meu pai, que acabava de sair do banheiro. Luis: Bom dia, filho! Já acordou? Ainda é cedo. Tiago: É costume, pai. Ele concordou e entrou novamente no quarto dele. Fiz minha higiene sem pressa alguma e desci para a sala logo em seguida, que estava vazia. Saí para a parte do quintal da casa. Na força do hábito, fui atrás do sol. E fiquei agachado em um canto enquanto o sol me esquentava. Não sei quanto tempo eu fiquei lá, só sei que despertei com a voz de Ayla e uma de suas mãos em meu rosto, fazendo carinho, enquanto a outra segurava uma garrafinha de suco. Ayla: Que suquinho? Tiago: Sim, você vai me dar um pouco. Ayla: Mamãe tem. Falou ela, apontando para minha mãe, que estava no batente da porta. Levantei do chão e dei a mão a Ayla, indo de encontro à minha mãe. Tiago: Bom dia, mãe. Beijei sua testa e ela me abraçou. Ela olhou para mim; eu sei que ela estava surpresa com algumas atitudes minhas, mas ainda era cedo demais para eu deixar os costumes da cadeia. 🍃 Estávamos sentados tomando café quando a campainha da casa tocou e meu pai levantou-se, indo em direção à porta. Ouvimos gritos; era o meu genro. Luis: O que você quer aqui? João: Não é óbvio? Soube que Tiago foi solto. Apareci na visão dele e o mesmo deu uma risada de deboche. João: Encontraram provas para o presidiário sair da cadeia, foi? Luis: Olha como você fala do meu filho. João: Até onde eu sei, ele não é seu filho de sangue e não duvido nada que ele realmente tenha es...... Luis: Não importa o que você acha; você nunca se fez presente, então não tem que opinar em nada. Eu o criei junto com Marcela e sabemos bem a criação que demos aos nossos filhos. Sei bem que Tiago nunca, jamais, na vida dele, faria mal a alguém. Agora, para o seu bem, vá embora. João não foi embora; ao contrário disso, veio para cima de meu pai e começou a discussão. Os vizinhos fofoqueiros começaram a sair de casa para saber o que estava acontecendo. Tiago: João, vai embora! Por favor, não queremos confusão. Ele olhou para mim, soltou meu pai e apenas concordou, enquanto destilava o seu ódio.