Capítulo 1 – A Entrevista
O relógio da recepção marcava exatamente 8h45 da manhã quando Eloise Nogueira empurrou as portas de vidro da Monteiro Group. O salto firme ecoava no chão de mármore branco, tão polido que refletia seu vestido justo cor vinho — discreto, mas suficiente para acentuar suas curvas invejáveis. Estava nervosa? Um pouco. Determinada? Com certeza. Três meses antes, ela havia sido deixada no altar pelo homem que dizia amá-la. Ele não teve nem a decência de encarar seu olhar ferido, fugindo para os braços da prima dela sem pensar duas vezes. Desde então, a palavra “confiança” havia se tornado algo distante, quase estranho. Mas agora, tudo era diferente. Ela precisava daquele emprego. E não só pelo salário. Seu pai, doente e aposentado, mal conseguia levantar da cama nos dias mais difíceis. Os medicamentos estavam caros, e os boletos não paravam de chegar. Eloise não tinha luxo de esperar a sorte bater na porta — ela havia decidido ir atrás dela. — Bom dia — disse à recepcionista com um leve sorriso. — Tenho entrevista para a vaga de secretária pessoal do senhor Augusto Monteiro. A mulher a olhou de cima a baixo, como quem avalia se uma garota assim aguentaria um chefe como “ele”. Engoliu em seco antes de responder: — Último andar. Sala 15. Ele está te esperando. Ele. O nome já vinha carregado de tensão: Augusto Monteiro. Frio, impiedoso, perfeccionista. O homem que comanda um império bilionário como se tivesse nascido para reinar — e talvez tenha mesmo. Diziam que seus olhos verdes eram capazes de perfurar a alma, e que ninguém durava mais de um mês ao lado dele como secretária. E ali estava ela… indo direto para a toca do lobo. O elevador subiu em silêncio. Eloise ajeitou o cabelo longo e escuro, respirou fundo e tentou acalmar o coração. Não era do tipo que se deixava intimidar, mas algo nela sabia: aquele homem ia virar sua vida de cabeça para baixo. A porta abriu. Ela bateu duas vezes na imponente porta de madeira escura. — Entre — veio a voz grave, firme. Ela entrou, com passos decididos, mesmo sentindo o olhar dele sobre cada centímetro do seu corpo. Augusto Monteiro ergueu os olhos do notebook. E pela primeira vez em meses… congelou. Morena, corpo marcante, olhar desafiador. Não sorria. Não se curvava. Estava ali, como se o mundo tivesse que se adaptar a ela — não o contrário. — Eloise Nogueira? — ele perguntou, com um tom quase entediado, tentando esconder o impacto. — A própria — respondeu, com um sorrisinho de canto. — Mas pode me chamar de Eloise. Ninguém pronuncia meu sobrenome com a arrogância certa. Ele arqueou uma sobrancelha. Atrevimento? Era isso mesmo? — Sente-se — disse, apontando para a cadeira diante da mesa. — Vamos ver se você tem mais do que uma boca afiada. — E vamos ver se o senhor Monteiro tem mais do que fama e dinheiro — rebateu, sem pestanejar. Silêncio. Tensão. Olhos nos olhos. E foi ali, naquela primeira troca de farpas, que Augusto soube: Essa mulher ia ser o seu inferno particular. E, talvez… o único céu que ele ainda poderia alcançar.