A Testemunha Silenciosa
O porta-malas estava escuro.
Mas não silencioso.
Márcia podia ouvir passos. Vozes abafadas. A vibração do motor havia parado há alguns minutos. O coração batia tão alto que parecia chamar atenção para ela.
Ela esperou.
Um minuto.
Dois.
Três.
Nada.
Então, com as mãos trêmulas, retirou a chave de fenda que havia colocado para impedir o travamento total da tampa. Empurrou com cuidado.
A luz entrou.
Fraca.
Suficiente.
Márcia saiu devagar, o corpo doendo, as pernas bambas.
Respirou o ar frio do campo, sentindo a grama roçar nos tornozelos.
Uma casa isolada. Porta de madeira pesada. Janelas iluminadas.
Havia uma porteira ao longe. Nenhuma alma à vista do lado de fora.
Márcia engoliu o medo.
Caminhou até a parede lateral da casa e se aproximou de uma janela, espiando por entre a cortina.
Seu peito afundou.
Lá dentro, sentados na poltrona, Antônio Mello.
Ao lado dele, Lorenzo — nervoso, inquieto.
Mais longe, Thamires — braços