Sob os Holofotes
No hospital, o tempo tinha um barulho próprio: apitos regulares, passos abafados de borracha, cortinas roçando devagar.
Carlos apoiava o jornal no colo quando Eloise entrou com um sorriso contido.
— Oi, pai. O médico disse que logo o senhor vai ter alta. — disse animada, tentando esconder a ansiedade.
— Filha, que bom. Já não aguento mais esse quarto branco. — Ele ajeitou os óculos, observando-a em silêncio por alguns segundos. A mão procurou a dela, firme e terna. — Princesa… vou ser direto e quero a verdade. O que aconteceu entre você e o Augusto?
Eloise engoliu em seco. A pergunta veio com cuidado, mas acertou como flecha. Olhou para o pai, depois para a janela.
— Aconteceu que eu acreditei no conto de fadas em que o ogro muda por amor. — disse, sem drama, mas com a voz baixa. — E depois… tudo desmoronou. — mordeu o lábio. — Mas não quero que se preocupe. Foi um mal-entendido, já está resolvido.
Carlos apertou os dedos da filha com firmeza.
— Eu te conheço