61. (Livro Vicente) O tecido azul
O mercado estava cheio. O cheiro de peixe seco, frutas maduras e suor pairava no ar abafado, enquanto os mercadores gritavam suas ofertas e os fregueses negociavam com vozes firmes. Tereza caminhava com Rosa ao lado, segurando uma cesta com os poucos mantimentos que conseguiu comprar. Seu olhar afiado ia de um lado a outro, sempre atenta, sempre calculando.
Rosa puxou sua mão, apontando para uma banca de tecidos no canto da praça.
— Tereza, olha aquele pano azul! Parece aqueles vestidos bonitos das madames.
A irmã mais velha seguiu seu olhar. De fato, era um tecido de boa qualidade, bem diferente dos retalhos com os quais trabalhava. Tocou a barra com a ponta dos dedos, sentindo a maciez sob a pele áspera do trabalho.
— Quanto custa? — perguntou ao vendedor, um homem de barba rala e olhar preguiçoso.
Ele a avaliou, o canto da boca se erguendo em um sorriso debochado.
— Pra você? Muito mais do que pode pagar, moça.
Rosa abaixou a cabeça, constrangida. Mas Tereza permanece