10. Nos jardins na noite escura

A noite avançava, e a música suave de um quarteto de cordas preenchia o ar, enquanto casais deslizavam pela pista de dança improvisada. O vinho continuava a ser servido, afrouxando a rigidez habitual dos Monteiro de Alcântara e a formalidade calculada dos Vieira de Sá.

Cecília permanecia ao lado de Eduardo, recebendo cumprimentos e elogios pela união iminente. Sorria, agradecia, mantinha a postura irrepreensível que lhe haviam ensinado desde menina – mas, por dentro, estava em chamas. Cada vez que olhava para Max, a tensão em seu corpo aumentava como um fio prestes a se partir.

— Está se divertindo? — Eduardo perguntou, puxando-a para a pista de dança assim que os músicos começaram uma valsa mais lenta.

— Sim — ela mentiu, permitindo que ele a guiasse.

Eduardo dançava com precisão. Seus passos eram calculados, impecáveis, exatamente como a vida que planejava ao lado dela. Cecília tentou se concentrar no rosto dele – nas linhas simétricas, na segurança tranquila que oferecia –, mas a cada volta, seu olhar teimava em buscar Max.

E ele estava lá. Sempre.

Sentado de forma displicente, com uma taça de vinho esquecida na mão, Max a observava. Não disfarçava o interesse, não tentava esconder a maneira como seus olhos se demoravam em cada curva do corpo dela. Quando Eduardo a girou, ela teve a impressão de que ele mordia um sorriso – como se a valsa entre ela e o irmão fosse apenas um teatro enfadonho ao qual ele assistia por diversão.

— Você está tão quieta hoje. — Eduardo comentou, a voz baixa e suave contra seu ouvido. — Alguma coisa a incomoda?

Cecília respirou fundo, tentando dissipar a nuvem densa de pensamentos.

— Apenas… cansada — respondeu.

— Podemos ir embora assim que desejar. — Ele sorriu, seu toque apertando gentilmente a cintura dela. — Mas antes, quero que saiba o quanto estou feliz por tê-la ao meu lado, Cecília. Sempre quis isso.

O nó na garganta dela apertou. Eduardo era tudo o que qualquer moça de família poderia desejar – e ainda assim, por que seu corpo reagia de maneira tão traiçoeira quando o irmão dele estava por perto?

— Eduardo… — A hesitação em sua voz o fez franzir o cenho.

— O que foi?

Ela abriu a boca para responder, mas, antes que pudesse, uma risada rouca e familiar a interrompeu. Max.

Ao virar a cabeça, Cecília o encontrou encostado em uma pilastra próxima, conversando com Vicente. Havia algo no jeito como ele inclinava o corpo, relaxado demais, como se não pertencesse àquela celebração – e, no entanto, fosse impossível ignorá-lo.

— Talvez devêssemos… — Ela engoliu em seco. — Respirar um pouco de ar fresco?

Eduardo sorriu, sempre atencioso.

— Claro. Quer dar uma volta pelos jardins?

— Não, eu posso ir sozinha. Preciso apenas de um momento.

Ele hesitou, mas assentiu.

— Não demore.

Cecília deslizou pela pista, saindo discretamente por uma das portas laterais que davam para o terraço. O ar noturno trouxe um alívio imediato ao calor que a sufocava. Ela se apoiou no corrimão, fechando os olhos por um instante.

Não pense nele. Não pense nele.

— Fugindo do seu próprio noivado, Cecília?

A voz baixa e carregada de ironia a atingiu como um golpe.

Seu coração parou – e depois disparou com força.

— Não me siga, Max — ela murmurou, sem se virar.

— Quem disse que estou seguindo? — O som dos passos dele ecoou no piso de mármore enquanto se aproximava. — Talvez eu só estivesse curioso para saber por que a noiva perfeita está aqui fora, sozinha, em vez de celebrar com seu prometido.

Ela soltou um riso nervoso, encarando a escuridão do jardim.

— Está bêbado.

— Talvez um pouco — admitiu, e a proximidade dele enviou arrepios perigosos por sua pele. — Mas isso não me impede de notar as coisas.

— Que coisas? — Sua voz saiu mais fraca do que gostaria.

Max se inclinou ligeiramente, e a fragrância dele – uma mistura de tabaco, especiarias e algo puramente masculino – a envolveu.

— Que você está tentando fingir que não sente.

— Você está errado.

— Estou?

Ela virou o rosto para negar, mas o movimento a fez encará-lo diretamente. Os olhos dele estavam mais escuros sob a luz tênue, e o jeito como a observava a fez sentir que estava sendo despida – de suas defesas, de sua vontade.

— Você quer tanto fugir de mim, Cecília… Por quê?

As palavras eram um sussurro carregado de desafio.

— Porque isso é errado. — Ela tentou manter a firmeza.

Max deu um passo à frente, e o espaço entre eles tornou-se perigosamente estreito.

— Então, por que não consegue me evitar?

Ela não tinha resposta. E, antes que pudesse pensar em uma, Max ergueu a mão, roçando os dedos ao longo de seu braço nu.

Cecília estremeceu ao contato.

— Não faça isso — pediu, mas sua voz falhou.

— Diga para eu parar. — O polegar dele traçou um círculo lento na pele sensível de seu pulso. — Olhe nos meus olhos e diga que não sente nada.

Ela tentou. Deus, ela tentou. Mas quando ergueu o rosto para encará-lo, todas as palavras se perderam.

Porque a verdade era cruel e inescapável: Cecília sentia tudo.

— Max…

Foi tudo o que conseguiu dizer antes que ele a puxasse para si.

Os lábios dele capturaram os dela com uma fome contida por tempo demais. Não houve hesitação, não houve delicadeza – apenas um desejo bruto que explodiu entre eles como fogo em pólvora.

As mãos dele desceram pelas curvas de sua cintura, puxando-a para mais perto enquanto a boca explorava a dela em beijos longos e profundos, roubando-lhe o ar e o senso de certo ou errado.

Cecília sabia que deveria afastá-lo – que precisava resistir. Mas, em vez disso, seus dedos se entrelaçaram nos cabelos dele, trazendo-o ainda mais para perto.

Por um momento, nada mais existia: nem Eduardo, nem a promessa de um futuro estável. Só o gosto dele – quente, viciante – e a forma como seu corpo reagia ao toque firme de Max.

Foi então que Max afastou o rosto, com os olhos fixos nos dela. Seu olhar desceu brevemente até o decote do vestido dela — e um leve sorriso curvou seus lábios.

— Você ainda está com ela… — murmurou.

Cecília seguiu o olhar dele. Presa junto ao forro interno do corpete, quase invisível aos olhos alheios, estava uma pequena flor seca.

Uma flor branca que Max lhe entregara discretamente no dia em que se conheceram, ao final do passeio pelos jardins da propriedade, enquanto Eduardo estava distraído. Ele a depositou em sua mão como quem passava um bilhete secreto, os dedos roçando levemente os dela – e sussurrou algo como "para quando quiser lembrar que teve escolha."

Ela nunca teve coragem de jogar fora.

— Você guardou — ele sussurrou.

— Não sei porque...

Cecília mal teve tempo de respirar.

Max a puxou de volta para si com uma intensidade crua, como se as palavras tivessem aberto uma represa dentro dele. Seus lábios voltaram aos dela, mas dessa vez o beijo foi mais do que desejo — foi uma confissão silenciosa, desesperada, proibida.

Era urgente.

Feroz.

Ela sentiu os dedos dele cravarem em sua cintura, moldando seus corpos como se precisasse gravá-la em sua memória. Os lábios de Max exploravam cada ângulo da sua boca, aprofundando o beijo até ela perder completamente o chão. Um gemido escapou de sua garganta quando ele pressionou o corpo contra o dela, colando-a à parede fria do terraço, contrastando com o calor que incendiava entre os dois.

Cecília se agarrou a ele como se estivesse à deriva, como se aquele beijo fosse sua única âncora — e, por um instante, foi.

O mundo desabava ao redor, mas ela só conseguia sentir o gosto dele, o toque firme, a língua em perfeita sintonia com a sua, como se fossem feitos para se encontrar naquele exato momento, naquele exato lugar.

Quando Max finalmente afastou o rosto, seus lábios ainda roçavam os dela, os dois ofegantes, os olhos fixos, famintos.

— Eu não devia — ela disse, com a voz rouca, quase dolorida.

— Eu sei — ele respondeu, ainda sem fôlego, o coração descompassado. — Mas mesmo assim está nos meus braços.

E nem um dos dois parecia disposto a se arrepender.

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