A noite antes da viagem caiu como uma cortina grossa sobre a cidade.
Fria.
Silenciosa.
Pesada.
Lívia organizou os documentos na mesa da sala de estar.
Relatórios.
Planos.
Roteiros.
Tudo perfeitamente alinhado, como se a ordem do papel fosse capaz de compensar o caos dentro dela.
Mas nada compensava.
Nada preenchia o vazio que estava crescendo entre ela e Rafael.
O celular vibrava às vezes.
Mas nunca com o nome dele.
Até que vibrou — e era.
Rafael:
— Você está em casa?
O coração dela disparou.
Lívia:
— Estou. Por quê?
A resposta veio rápida, sincera, urgente:
Rafael:
— Posso passar aí?
Só por alguns minutos.
Ela não pensou.
Não podia pensar.
Lívia:
— Pode.
Meia hora depois, alguém bateu na porta.
Não forte.
Não leve.
Com o peso exato de quem não sabe se deve entrar… ou fugir.
Ela abriu.
Rafael estava ali.
O cabelo bagunçado.
A camisa jogada por cima do corpo como se tivesse sido vestida às pressas.
E os olhos…
meu Deus, os olhos.
Era um misto de amor, medo, cansaço e desejo.
— Oi. — el