Narrado por Maitê
Estou a caminho de casa quando um carro surge do nada, freando bruscamente ao meu lado. O som dos pneus cantando no asfalto ainda ecoa quando uma mão invade meu campo de visão, pressionando um pano sobre o meu rosto. Tento reagir, mas é inútil. O cheiro forte invade minhas narinas, e o mundo começa a escurecer.
Sinto meu corpo mole, como se não me pertencesse mais. Mesmo sem conseguir abrir os olhos, percebo o carro em movimento, veloz, sacudindo meu corpo de um lado para o outro. Cada curva, cada solavanco, parece um passo a mais rumo ao meu inferno.
Eu sei exatamente quem está por trás disso. E talvez, pela primeira vez em muito tempo, eu sinta medo. Não da morte — essa sempre me pareceu um alívio. Mas do caminho até ela. Do que posso sofrer antes que ela, enfim, me leve.
Nunca fui corajosa como pensavam. Sempre agi no impulso, sempre escondi o medo atrás do orgulho. Mas agora, ele está em cada célula do meu corpo. Gritando.
O carro para. Vozes surgem, abafadas, a