4.Emoções fortes

No caminho de volta apenas Sophia e Christian conversavam, Petrus continuava com o silêncio habitual. Passado o susto, Sophia contou muito mais sobre Kaliakay do que Christian achava possível no pouco tempo entre a fonte e a casa dele, Petrus na opinião de Christian pareceu não gostar muito. Ele se perguntou se o irmão de Sophia poderia ser um cara legal quando não estava bancando o idiota, se sentindo culpado por julga-lo desta forma em tão pouco tempo, mas o comportamento dele o estava deixando desconfortável.

Estavam na frente de sua casa quando Sophia disse.

- Pode dormir tranquilo, vou estar de olho caso aqueles asquerosos estejam aprontando alguma - ela fez uma careta e sorriu .

- Bola de cristal? - ele brincou, espantado com a naturalidade com que ele próprio estava levando tudo aquilo.

- Com certeza. - ela disse, e apenas os dois riram.

- Isso não é coisa de reality show? - riram ainda mais, e desta vez até mesmo Petrus tentou abafar um riso.

- Ha! Quase ia me esquecendo, obrigado pelo que vocês fizeram mais cedo. - ele olhou significativamente para Petrus - Vocês dois. - Petrus assentiu com a cabeça, seus olhos firmes pousaram no de Christian por um instante antes dele por as mãos nos bolsos e seguir caminhando na frente.

- Então até amanha. - disse Sophia.

- Mas uma coisa, como vamos nos encontrar?

- Destino, não se preocupe.

- Okay, destino...

Sophia acenou enquanto seguia atrás de seu irmão pelo lado oposto ao qual vieram, sumindo ao virar a esquina.

Christian entrou em casa e foi direto conferir a hora. Ótimo, pensou ele, apenas meia hora de atraso, nada demais.

- Chris?

- Oi mãe. Ainda acordada?

- Como se eu fosse dormir sem que você estivesse chegado. - disse descontraída.

- O papai? - perguntou tipicamente, o pai dele costumava ficar até tarde no escritório trabalhando, ele era advogado.

- Dormindo. Eu também estou com bastante sono, tem comida na geladeira, só por no micro-ondas. - ela deu um bocejo enquanto sobia as escadas.

- Boa noite mãe.

- Boa noite querido, não vá ficar acordado até tarde.

- Okay mãe. - disse enquanto seguia para cozinha.

Ele não estava com muita fome, então preparou apenas um pequeno sanduiche e pegou a caixa de leite que sem perceber a tomou inteira, estava com muita sede por causa da correria e desgaste físico e emocional. Lembrou que estava completamente suado e grudento, foi direto para o banho e logo depois se atirou na cama.

Como era de se esperar começou a repassar toda a noite que tivera em sua mente cansada, tudo aquilo foi sobrenatural e ainda estava questionando a realidade.

O parque, os caras estranhos que o queriam fazer mal, aquela luta cheia de efeitos de luzes e explosões, a historia de Sophia. Será que ele estava louco? Como tudo aquilo podia estar acontecendo de verdade? De uma coisa Christian tinha certeza, havia ganhado um presente, a fantasia havia batido sua porta, ele sentia que uma aventura havia começado e mesmo sabendo que aqueles dois estranhos que o ajudou lhes disse que ele os veria novamente amanha, por um suposto destino, isso não o assustou, pelo contrário, o deixou extremamente animado e ansioso para que isso acontecesse logo. Afinal não é todo dia que se descobre que magia existe e tem dois elfos para te apresentarem a ela.

Com sua cabeça cheia no entanto tão cansada não foi difícil pegar no sono.

Ele estava no meio de uma trilha em uma floresta, era noite, e não se recordava de ter estado ali antes, muito menos de como havia ido parar ali. Christian correu sem saber para onde estava indo, estava frio e o vento chicoteava seu rosto, ele parou ao ver uma luz vinda de um ponto logo a frente, há uma pouca distancia de onde estava, então se lançou novamente a correr desta vez em direção a luz que acreditava ser a saída dali. Ao chegar perto ficou surpreso ao ver Petrus parado em uma clareira, onde estava apenas usando calças jeans e também descalço, e a luz que Christian havia visto emanava de asas que saiam de suas costas. Tudo ficara mais estranho quando Petrus olhou para ele com os dentes serrados e fúria nos olhos, mas Christian notara logo em seguida que não era pra ele que estava olhando mas para algo atrás dele. Seu coração acelerou ainda mais, um frio mortal passando pelo seu estomago enquanto conseguia enxergar o que Petrus havia visto. Os três elfos malignos que o havia atacado. Como? Ele se perguntava o que estava acontecendo?

Antes que conseguisse pensar em mais alguma coisa, asas farfalharam soprando folhas e galhos pra longe, quando Petrus perguntou estendendo a mão a expressão preocupada.

- Você vem?

- Sem sombra de duvidas! - respondeu enquanto Petrus não perdia tento o puxando para cima ganhando altitude, elevando-os sobre as copas das arvores. Christian via os elfos ficando para trás, com expressões furiosas e olhares assassinos, rosnando para eles.

Quando pensou em agradecer notara que Petrus havia sumido e ele flutuava no ar, mas continuava subindo, a floresta abaixo e o céu estrelado a cima começara a sumir quando ele ouviu um baque surdo.

- Ai! - ele havia batido em alguma coisa.

Eee piscou algumas vezes enquanto seu quarto começava a tomar forma diante de seus olhos. Estava sonhado. Mas espera um pouco, pensou ele.

- Cadê minha cama? - falou mais para ele mesmo do que para alguém, percebendo que havia batido com a cabeça no teto e que não sentia a cama abaixo de si tateando em torno.

- Há! - ele gritou, percebendo que estava flutuando a mais ou menos um metro do sua cama.

O que estava acontecendo? Pensou. Ainda era noite, a luz da lâmpada se acendeu de repende, ele olhou para porta e viu seus pais, o seu grito os deveria ter acordado, não tinha sido essa a intenção mais foi o resultado.

- É... Mãe? Pai? - sorriu incrédulo para eles, que para seu espanto não pareciam tão assustado quanto ele estava. - Eu não sei o que esta acontecendo?

- Mas nós sabemos. - disse Hellena a seu filho, com um suspiro.

O quê? Eles sabem? Pensou Christian e um novo baque interrompeu seus pensamentos quando ele caiu do ar na sua cama.

- O quê? Como assim, vocês sabem? - ele se endireitou na cama e seus pais vieram sentar do seu lado.

- Filho. - disse seu pai, Leandro, pondo o braço em volta de seus ombros. - Precisamos te contar algumas coisas, e estávamos esperando você crescer mais para que entendesse melhor e não ficasse surpreso ou talvez magoado com o que vamos lhe dizer, pois parece que o momento é esse. - o pai de Christian era alto e tinha a pele clara e o cabelo já ficando grisalho no entanto tinha uma expressão jovial e leve.

- Entender o quê? - o que mais dessa noite ele podia esperar, pensou.

- Vamos te contar tudo querido - disse sua mãe, acariciando seu rosto ao falar. - Por favor ouça com atenção.

- Prometo. -disse, apreensivo com o tom de desconforto da sua mãe.

- A quinze ano atrás - ela respirou fundo com a lembrança. - Seu pai e eu havíamos casado a pouco tempo, nos mudamos para essa casa e estávamos muito felizes com a vida nova, mas faltava alguma coisa para nossa felicidade ser completa, um filho. Era o que queríamos, mas descobrimos que não seria possível, por quê... - ela pausou, emocionada.

- Porquê eu não podia ter filhos. - completou seu pai.

- O quê!!! Como assim não podia ter filhos? - Christian levantou da cama confuso, passando as mãos no rosto.

- Filho, por favor, deixe sua mãe terminar, escute, vamos fazer com que você entenda. - pediu ele.

- Tudo bem. - ele tinha prometido ouvir, e era o que faria, seja lá o que viesse por ai, se obrigaria a entender. Eles acreditavam que ele estava pronto para ouvir tudo aquilo, e ele estaria, pensou determinado. Depois do que havia ocorrido mais cedo o que poderia ser tão maior do que aquilo, qualquer coisa seria difícil de o surpreender depois daquela noite.

- Quando ficamos sabendo - continuou ela - Não deixamos esse pequeno fato abalar nossa felicidade, estávamos prontos para adotar ou tentar de meios clínicos, queríamos muito um bebê e teríamos um. - aquelas palavras entravam pelos seus ouvidos e desciam pela sua garganta como acido que logo depois se acumulava em um nó que não conseguia engolir a medida que a ideia de não ser filho legitimo de seus pais começava a tomar forma com a história da sua mãe. - Em uma linda noite de lua cheia quando voltávamos da casa de seus avós, meus pais, ao passar pelos jardins do centro de Sol Nascente vimos uma forte luz vindo de trás de um grande arbusto, ela estranhamente parecia nos chamar para perto. Como que por instinto, porque não sentimos medo, nos aproximamos do arbusto e o contornamos, envolto da luz um bebê em um cesto, o mais lindo bebê que eu já tinha visto, talvez por aquele ser o meu filho. - nesse ponto Christian não aguentou e desabou em lagrimas juntamente com seus pais que continuava a história. - a luz cessou e eu não pude conter a vontade de pega-lo em meus braços mesmo considerando estranho a luz que o estava envolvendo instantes antes. Junto com ele havia duas cartas e uma caixinha retangular junto com o manto ao qual estava enrolado. Uma das cartas estava endereçada para quem encontrasse aquela criança e nela dizia que o bebê era especial e que não podia ser abandonado pois perigo mas que não deveríamos ter medo de nada. Também informava o seu nome e a data de nascimento. O levamos para casa e como mágica acertamos tudo muito facilmente na lei, omitimos a parte incomum para evitar complicações, outras pessoas poderiam achar tudo aquilo estranho, mas sentíamos fortemente que aquela criança era o nosso filho enviado especialmente para nós, você Christian.

- Você fazia coisas incríveis quando era menor filho - continuou seu pai. - Não contávamos a ninguém e tínhamos muito medo de algo acontecer em público, mas eram momentos raros, e com o tempo param.

- Que tipos de coisas? - Christian tinha muitas perguntas, muitos pensamentos rondando sua cabeça aquele momento, mas queria saber mais antes de começar a questionar.

- Coisas levitavam ao seu redor quando algo te irritava, você tinha um magnetismo especial com os animais, e algumas vezes antes de dormir você brilhava. - contou Leandro encantado com as lembranças.

O quarto pareceu ficar menor, Christian se sentiu tonto com toda aquela conversa, ele sabia que aquela história poderia significar uma coisa, ou várias, mas ele esperaria os pais concluírem.

- Talvez devêssemos ter medo, mas não tínhamos, não sei como explicar, mas apenas sentíamos que você era nosso filho. Que você é nosso filho. - Hellena começou a chorar abraçando-o.

Christian sabia que seus pais o amavam, além de tudo que já viveram juntos, saber que eles o mantiveram mesmo depois de toda as coisas estranhas que ele acabara de saber que realisava quando criança, era mais uma prova disso. Ele sentiu o abraço o aconchego daquele momento, e enquanto lagrimas rolavam pelo seu rosto ele sentia profundamente que tudo estava preste a mudar.

- Tem mais não é? - sorriu enxugando as lagrimas e encarando seus pais que assentiram.

- Sim tem. - confirmou Hellena, com uma expressão que parecia anunciar a parte mais difícil daquela revelação. - Só um instante. - ela se levantou e foi até seu quarto, retornando com uma caixa retangular avermelhada e uma carta sobre ela as entregando a Christian com um leve sorriso no rosto.

- O que é isso?

- Da sua outra mãe. Nunca as abrimos, está endereçada a você filho.

- Filho, vamos sempre ser uma família, independente do que você descobrir ou decidir - declarou Leandro, dando um beijo em Christian e seguindo para porta. - vamos te deixar a vontade.

- Qualquer coisa estaremos no quarto, meu amor, eu temo. - Hellena o abraçou e beijou mais uma vez.

- Eu também amo vocês. - disse, antes dos seus pais saírem do quarto.

Segurando a carta, caminhou para a sacada, sem abri-la começou a mirar as estrelas tentando deixar a mente mais leve, não podia ficar magoado com seus pais pensou, por não o terem contado antes mas sim ficar feliz pelo que fizeram por ele, só um tolo não perceberia todo o amor que eles tinham por ele, a emoção e alegria a qual Hellena descrevera quando o encontrou o fazia se sentir emocionado, era evidente que seus pais o amavam de verdade, sim, seus pais, ele ainda os sentia desta forma e os amaria para sempre. Mais lagrimas rolavam do seu rosto enquanto ia mais fundo em seus pensamentos e emoções, revirava a carta em suas mãos temendo o que poderia descobrir e ao mesmo tempo ansioso, não era fácil se manter lúcido com tantas surpresas, mas ele estava se saindo bem. Muitas sensações o pegaram de surpresa, e ele não sabia o que pensar, quando toda sua vida se resumia a coisas as quais ele conhecia vem o destino e o mostra que há muito mais. Toda sua origem se resumia aquela carta e aquela caixa, toda sua história prestes a mudar e mesmo já imaginando quem ele realmente era, mesmo já compreendendo como o destino fez o seu trabalho aquela noite ele só poderia ter certeza com as respostas que estavam agora nas suas mãos, então ele abriu a carta.

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