Ele é mesmo um Magnata?
Ele é mesmo um Magnata?
Por: FannyMotta
Capítulo 1

(Renata Pellegrini)

Observando as nuvens, posso igualar o meu humor a elas, cinza. Parece que os dias vão passando e um vai sendo mais estressante que o outro. Preciso melhorar mais nas matérias de cálculo, não quero precisar ir para a prova final. Minha cabeça dói só de lembrar das fórmulas.

"Espero não ser roubada" — penso enquanto suspiro e coloco os fones de ouvido, a música impossible de James Arthur toca e eu me permito fechar os olhos, apoiando a cabeça na janela do ônibus lotado. O trânsito hoje está como de costume, péssimo!

Já são quase seis horas da tarde, e pelo andar da carruagem, só chegarei em casa por volta das sete. Que rotina horrível, levanto as quatro e meia da manhã, e só retorno às sete da noite, tudo isso apenas porque não tenho como comprar nem uma mísera lambretinha para não ter que ficar mofando no ponto do ônibus e ainda é lucro quando consigo voltar sentada.

Nasci e cresci aqui, moro nessa favela há vinte e quatro anos, ela já foi um bom lugar para se morar, mas hoje... É conhecida como a favela mais violenta do Rio de Janeiro: Jacarezinho.

Os policiais? Políticos?

Não confio, são um bando de corruptos que só querem saber de extorquir a população e propagar o terror, por Jacarezinho não ser área nobre, acham que somos lixos que podem ser pisados e mortos, tendo nossos corpos largados na sarjeta... Os empresários, magnatas e famosos? É tudo farinha do mesmo saco. Eu os odeio!

Sou filha de Giovanni Pellegrini e Sandra Moreira, a história de meus pais ao mesmo tempo em que é bela também é trágica, ambos não estão mais comigo, infelizmente, foram tirados de mim há nove anos, quando eu tinha quinze. Não tenho mais ninguém, os parentes de minha nunca me aceitaram e sequer me disseram o motivo, minha mãe sempre falou para eu não dá importância a isso. Talvez eu até tivesse algum parente lá para o lado da Itália, mas não faço a mínima ideia de quem seja os parentes de meu papa, apenas sei que ele é italiano, talvez eles também me rejeitasse.

"Quero que vença na vida, minha pequena" — são essas palavras que me fazem aguentar essa rotina e não desistir dos estudos: Minha mãe, não teve nenhuma oportunidade para estudar, a única coisa que ela conseguia fazer era escrever o próprio nome e demorou a conseguir isso.

Sinto meu estômago revirando em busca de alguma fonte de energia, fim do mês é sempre muito apertado, mesmo eu regrando desde o início, no fim, sempre sobra muito pouco. Como meus pais morreram com eu sendo menor de idade, minha avó não me deixou ficar em sua casa e fez um acordo comigo, por causa do trabalho de minha mãe, eu tinha um direito de pensão do estado, minha vó não me deixava em um orfanato e em troca, ela ficava com metade do valor da pensão.

Ou seja, tenho apenas quinhentos e cinquenta por mês, e graças a Deus não preciso pagar o transporte para ir para a faculdade, eles me deram bolsa e uso esse dinheiro para poder ir e voltar.

Preciso me preparar mentalmente, sexta da semana que vem será um dia importante, viajarei para os Estados Unidos e farei a minha primeira entrevista de emprego. Tento ao máximo controlar a ansiedade dentro de mim. Quero muito conseguir a vaga e o salário vai ser muito bom, vou ter a geladeira cheia por mais tempo e melhor, poderei dizer adeus definitivamente a esse lugar horrível.

Essa não é a vaga dos meus sonhos, mas ser assistente pessoal do magnata mais rico da atualidade, viria a calhar. Preciso dar graças a minha professora, Juliana Lueni, foi ela quem conseguiu essa entrevista para mim e está pagando a minha passagem. Só espero não desapontá-la, é notável o quanto ela se importa comigo. Além de pagar a passagem, ela também pagou um mês de aluguel para mim. Uma amiga dela, que também trabalha para o Magnata Filippo Valentini, estará me esperando no aeroporto.

Não espero que ele me trate bem, nem que tenha compaixão da minha história de vida, talvez eu até seja eliminada por conta da minha origem. Queria poder mentir e colocar que morava em outro lugar, um lugar de luxo no Brasil, mas minha mãe sempre me ensinou a ser honesta e jamais ter vergonha de quem eu sou ou de onde eu vim.

Filippo Valentini, nas revistas tido como o homem mais bonito de toda a América. O observei em uma foto, ele aparenta não ter menos que um metro e oitenta e cinco centímetros de altura, seus cabelos são pretos como a noite, os olhos de cor âmbar e alguns traçados verdes. Fiquei encantada com o olhar desse homem. Dava para se para notar o corpo musculoso por debaixo do terno.

Não dá para mentir, esse homem é muito bonito. Mas isso não me enche os olhos, com certeza ele é como todos os outros. Um arrogante babaca!

O solavanco do ônibus me faz voltar a realidade, me espremo entre os demais passageiros e desço dessa lata velha. É um descaso tão grande com os moradores daqui, o ônibus parece que vai cair aos pedaços e nada dos políticos darem um jeito.

As pessoas, dessa comunidade, me acham metida, mas meu papa sempre me disse para não confiar em ninguém e nunca falar mais que o necessário. As pessoas gostam de fazer mal para as outras. E eu já vi tanta gente boa se dando mal por causa de gente ruim. Não quero ser uma delas, por isso não faço amizade com ninguém aqui. No mundo, é eu por eu. E Deus por todos.

Finalmente chego em casa, tomo um banho rápido e vou ver o que ainda tem dentro do armário. Ainda tem um pacote de cream- cracker, vou dividi-lo no meio, aí tomo café agora de noite e amanhã antes de sair.

"Só mais uma semana" — falo mentalmente e cruzo os dedos.

>>> Uma semana depois: <<<

Não consigo parar de tremer! Pensei umas dez vezes que iria morrer, a cada solavanco que o avião dava, minha alma saia do meu corpo.

"Mantenha a calma!" — falo em pensamentos, graças a Deus já saí de dentro do avião e já peguei minha mala, agora só falta encontrar a amiga da minha professora.

— Renata Pellegrini? — uma voz feminina me chama.

— Eu — respondo e me sinto aliviada.

Agora posso respirar tranquila. Vida nova, aqui vou eu!

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