Capítulo 2

(Renata Pellegrini - Estados Unidos)

— Você vai se sair bem — Carol tenta me passar confiança.

— Obrigada por tudo, senhorita Carol — agradeço mais uma vez, mesmo que eu não consiga passar na entrevista, o que ela e a minha professora estão fazendo por mim, não consigo encontrar uma maneira digna de agradecer.

Ela pisca e caminha para longe de mim, me deixando na frente desse enorme prédio.

As cores azuis dominavam, mal se podia ver as partes de metal, o vidro espelhado cobria tudo como se fosse um lençol, com certeza aqui tem mais de quinze andares.

Respiro fundo, não tem nem duas horas que eu pisei em terra firme e já sinto como se estivesse me afogando.

Queria que meus pais estivessem vivos, queria muito poder trazê-los comigo, dá uma vida melhor para eles. Queria muito vê-los sorrindo, nem que fosse só mais uma vez…

“Não é hora de ter pensamentos tristes!” — bato em minhas bochechas e estufo o peito, agora é hora de ter coragem.

Abro as portas e seguro firme as alças da minha bolsa, preciso encontrar com o gerente e entregar a carta de recomendação a ele, a minha professora me disse que assim que eu entregasse, estaria praticamente contratada, era só eu dizer o nome do amigo dela: Matteo Valentini.

Será que esse homem é algum parente do Filippo? Eles têm o mesmo sobrenome, mas eu nunca encontrei nada sobre esse Matteo. Não importa, apenas quero ser contratada, e se este nome irá me garantir isso, que assim seja.

Entro no edifício, por dentro é bem mais luxuoso que por fora, preciso me controlar, esse ambiente agora vai ser o meu local de trabalho, tenho que tratá-lo como se fosse um lugar qualquer.

Caminho até o balcão, minhas pernas estão moles, mas à medida que vou me aproximando, meu maxilar vai ficando mais rígido.

— Como pode ser tão incopetente, sua imbecil…

— Bom dia! — interrompo a moça loira que me olha de cima a baixo.

— Quem é você? — pergunta, consigo ler em seu olhar que ela pensa que alguém como eu, não deveria sequer pensar em pisar ali — Por acaso está perdida? Sabe que aqui é a Computing Diamond?

Me seguro para não revirar os olhos, que raiva ser tratada assim, por que será que pensei que aqui seria diferente?

— Sou Renata Pellegrini, vim para…

— Ah sim, Carol me falou que você viria para cá.

Então deve ser ela a gerente desse lugar, não gostei dela, mas o que posso fazer? Aceitar e torcer para ser contratada, não tenho nem cinco centavos no bolso, imagine algum dólar.

— Que bom que já estava ciente da minha chegada…

— Não só a sua, outras pessoas também foram comentadas que estariam aqui hoje.

Que mulher grossa! Respira Rê, você precisa desse emprego, e eu já deveria estar acostumada a lidar com pessoas assim.

— Entendo, imagino então que saiba que vim aqui para a entrevista do cargo de…

— Vá embora.

— Quê!? — pisco meus olhos em confusão.

— Por um acaso é surda? Você não está a nível de trabalhar aqui, olhe só para suas roupas, nem uma maquiagem você sequer colocou. Volte para o lugarzinho de onde você saiu.

— Por favor, não faz isso, eu vim de muito longe, foi me dito que eu já estava praticamente contratada, que a entrevista iria ser apenas uma formalidade, eu larguei tudo o que tinha para vim aqui, por favor, me dá uma chance, prometo que não vai se arrepender! — falo tudo de uma vez só, meu coração b**e descompassado por dentro do meu peito. Pressiono minha língua no céu da boca, não posso chorar aqui, não na frente de todas essas pessoas.

Eu tinha a noção que talvez não fosse aceita, mas jamais passou pela minha cabeça que eu sequer chegaria a fazer a entrevista.

Ela me observa com um sorriso maldoso no rosto, sob seu olhar me sinto inferior, como alguém pode ser tão prepotente?

— Então você está disposta a aceitar qualquer serviço?

Estou? Eu vim aqui para me tornar assistente pessoal do Filippo, mas está parecendo que não vou nem mais colocar o pé aqui amanhã, não quero passar fome.

— Sim — não consigo esconder a decepção na minha voz.

— Muito bem, tem uma vaga de faxineira aberta, se quiser ela é sua.

Que grande porcaria! Não quero desmerecer quem trabalha com faxina, até porque de certa forma a empresa só funciona porque eles limpam o ambiente, mas é que eu estudei tanto para conseguir um bom emprego, e no fim eu irei acabar como uma faxineira.

Não importa o que me digam, isso é frustrante, eu queria trabalhar em frente a um computador, e não limpando privadas.

— Quero sim — respondo — Quando eu começo?

— Agora mesmo, venha comigo.

A sigo, andamos até o final de um corredor, paramos em frente a uma porta de alumínio, bem, parece que nem tudo é tão luxuoso.

— Aqui fica o vestiário dos funcionários da staff.

Ela entra e eu entro logo atrás, ela abre a porta vinte e três e me entrega a chave do armário.

— O uniforme que está aqui é do tamanho P, deve caber em você, vamos se vista logo.

Vou até o armário e pego as roupas: jaleco verde, avental branco com dois bolsos frontal, calça no mesmo tecido que o jaleco. Não sei dizer que tecido é, mas não é um tecido grosseiro.

— Ah, eu não disse o meu nome, eu sou Verônica.

— É um prazer conhecê-la… — estendo minha mão por educação, mas ela revira os olhos.

— Vamos ao que interessa, ontem a noite, o senhor Valentini me mandou limpar a sala dele, como pôde ver estavamos com falta de faxineiros. Ele ainda não chegou, quero que limpe a sala dele corretamente antes dele chegar, não mexa em absolutamente nada e esteja fora daquela sala em trinta minutos, fui clara?

— Sim senhora.

Ah que ódio, como eu queria dar umas pauladas na cara dessa mulher desgraçada.

— Ótimo, ali está o material que usará — ela aponta para outra porta de alumínio — Use o elevador dos faxineiros e vá logo.

Ela sai e me deixa sozinha no vestiário, espero que o destino não tenha guardado mais nenhuma surpresa negativa para mim.

Pego os materiais e sigo para o elevador, eu esqueci de perguntar qual era o andar do senhor Valentini, vou apertar no último botão, seja o que tiver de ser.

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