A repercussão da matéria ainda ecoava dentro da empresa. Apesar da apresentação de resultados ter silenciado parte dos críticos, o clima entre os executivos permanecia tenso. Alguns funcionários pareciam mais frios com Isadora, e até Dominic recebeu alertas velados do conselho.Mas aquela sexta-feira seria diferente.Dominic apareceu na porta do escritório de Isadora, vestindo um terno escuro perfeitamente alinhado ao corpo. Seu olhar tinha algo de divertido, como se escondesse uma surpresa.— Espero que você tenha um vestido à altura da noite — ele disse, entrando sem esperar convite.— O que você está aprontando, Dominic? — ela perguntou, desconfiada.— O baile beneficente anual da empresa. Esqueceu?Ela arregalou os olhos. Tinha se lembrado… mas não tinha planejado ir, com tudo que vinha acontecendo.— Achei que não seria apropriado comparecermos… juntos — disse ela, hesitante.— E se nós mostrássemos que não temos nada a esconder?Isadora hesitou. Sabia que aquela noite seria um d
A segunda-feira chegou como uma tempestade silenciosa. Após o baile, as redes sociais da empresa ferviam com fotos e comentários sobre Dominic e Isadora. Sites de fofoca e colunistas do mercado corporativo especulavam sobre o relacionamento, alguns elogiando a coragem, outros questionando a ética.No escritório, os olhares não eram mais apenas curiosos — havia julgamentos, sussurros e tensão.Logo cedo, Isadora foi chamada para uma reunião extraordinária com os sócios. Dominic não estava presente.— Isadora — começou o mais velho dos diretores, com os dedos entrelaçados sobre a mesa —, sua competência nunca esteve em debate. Mas sua relação com Dominic está causando desconforto entre investidores e conselheiros.Ela manteve o olhar firme.— Entendo a preocupação. Mas minhas entregas, relatórios e decisões continuam impecáveis. Estou aqui para trabalhar, e minha vida pessoal está sendo exposta por terceiros, não por mim.Outro diretor, mais ríspido, cortou:— Não se trata só de competê
O dia seguinte à coletiva foi marcado por um silêncio estranho no escritório. Não havia sussurros, nem comentários maldosos — apenas olhares surpresos, alguns admirados, outros carregados de reprovação.Isadora entrou na empresa com a cabeça erguida. Estava pronta para lidar com qualquer consequência. Ao cruzar a recepção, percebeu que algo havia mudado. Os rostos pareciam menos hostis. Havia até mesmo quem sorrisse com respeito.Dominic, por sua vez, passou a manhã em reuniões com o conselho administrativo. Seus argumentos na coletiva haviam sido fortes, mas isso não significava que todos estavam convencidos.— A atitude foi corajosa, Dominic — comentou um dos conselheiros mais antigos, cruzando os braços. — Mas você mexeu em um vespeiro. A imagem da empresa está nas manchetes e nem todos os investidores gostam de ver romance misturado com negócios.Dominic assentiu.— Eu compreendo. Mas também acredito que chegou a hora de mudar essa cultura interna. Seremos uma empresa melhor se no
Os dias seguintes foram um campo minado de tensão. Isadora e Dominic estavam vivendo em uma corda bamba, onde qualquer passo errado poderia ser o último. O que eles haviam conquistado até agora estava sendo constantemente ameaçado por uma série de fatores externos e internos que pareciam escapar ao controle deles.A família de Dominic estava em guerra. Seus pais, especialmente seu pai, estavam pressionando-o para que mantivesse o noivado com Claudia, insistindo que o casamento era um passo necessário para consolidar o legado da família. Dominic estava em uma posição difícil, dividido entre os desejos de sua família e os seus próprios sentimentos por Isadora.Em um momento de desespero, seu pai fez uma proposta direta. Ele se encontrou com Dominic em um almoço sem a presença de Claudia, uma conversa silenciosa que estava prestes a explodir.“Eu sei o que você quer, Dominic, e você sabe o que é melhor para a nossa família. Mas não permita que os sentimentos criem obstáculos para o que d
Isadora acelerou o carro pela estrada vazia, o som do motor ecoando em seu peito apertado. A carta, as fotos, o telefonema ameaçador — tudo o que ela acreditava ser uma vida sob controle agora parecia uma cortina de fumaça, obscurecendo a verdade e a confiança que ela tanto valorizava. Ela não podia mais ignorar que estava sendo manipulada, jogada em um tabuleiro de xadrez que ela nem sequer sabia como jogar. Seus dedos apertaram o volante, a raiva se misturando com a tristeza.A cada quilômetro que passava, a mente dela voltava a Dominic. Ele tinha sido o homem em quem ela confiou, o homem com quem ela acreditava poder construir algo genuíno, mas agora ele parecia mais uma peça nesse jogo de intriga e manipulação. Ele tinha as respostas, mas não sabia como fornecê-las sem destruir ainda mais o que restava entre eles.Ela não sabia mais quem estava por trás de tudo isso. Cada pista a levava a um novo beco sem saída. A carta, com ameaças claras, parecia ser uma tentativa de pressioná-l
O som da chuva batendo contra a janela de seu apartamento parecia se misturar com os pensamentos caóticos de Isadora. Ela estava sentada na mesa da sala de estar, uma taça de vinho em suas mãos, mas o sabor era amargo demais para ser apreciado. Sua mente estava longe — nas fotos, na carta, nas palavras de Dominic.Ela sabia que o que ele havia feito não podia ser simplesmente ignorado. O que parecia ser uma traição não era algo que ela poderia perdoar facilmente, mas algo em sua consciência a impelia a continuar em busca da verdade. As promessas que ele fizera, o olhar sincero, a paixão que compartilhavam, tudo parecia perdido agora.Isadora suspirou e colocou a taça de vinho de lado, indo até o balcão para pegar seu telefone. A tela ainda mostrava a última mensagem de Dominic, enviada horas atrás: “Eu não posso te deixar, Isadora. Eu te amo, e vou lutar pelo que é nosso.”A confusão aumentava, e a desconfiança tomava conta de seu coração. Ela não sabia mais se as palavras dele eram a
O silêncio entre Isadora e Dominic era espesso como fumaça. Eles estavam na cobertura dele, cada um preso em seus próprios pensamentos, depois da revelação bombástica que abalou tudo: a suposta traição. Mesmo com as explicações dele, mesmo com o instinto de Isadora gritando que havia algo errado naquela história, a ferida estava aberta.— Você quer que eu simplesmente acredite? — ela perguntou, quebrando o silêncio, a voz embargada.Dominic passou as mãos pelos cabelos, visivelmente cansado.— Não quero que você simplesmente acredite. Quero que você me olhe nos olhos e sinta o que sempre sentiu. Eu fui chantageado, Isadora. Não houve traição. Alguém está tentando nos separar.Ela cruzou os braços, os olhos marejados. O peso da desconfiança ainda pairava no ar.— Então quem teria motivos pra isso? — ela sussurrou.Dominic hesitou. Seus olhos se desviaram por um instante.— Meu pai. Ou… talvez sua mãe.— O quê?— Seu pai era contra o nosso envolvimento. E minha família nunca aceitou a i
O vento da noite soprava forte no terraço do prédio da sede da empresa. As luzes da cidade pareciam distantes, quase irreais. Isadora chegou com o coração acelerado, o telefone ainda na mão. Ela subiu até ali sem pensar duas vezes, movida pelo peso da mensagem de Dominic — e pelo desejo desesperado de entender o que viria a seguir.Dominic estava de costas para ela, encarando o horizonte. Quando ouviu os passos, virou-se devagar. O olhar dele estava carregado, tenso, mas havia alívio ao vê-la.— Obrigado por vir — ele disse.Isadora parou a poucos passos, abraçando os próprios braços. — Você disse que precisávamos decidir juntos. Então fala. O que descobriu?Ele entregou o celular a ela. Isadora assistiu ao vídeo em silêncio, sentindo o chão sumir sob seus pés à medida que cada palavra da mãe ecoava pela gravação.— Isso não pode ser real… — ela murmurou. — Minha mãe? E a Helena?Dominic assentiu.— Agora sabemos quem está por trás disso. Por que. E como.Isadora fechou os olhos. Sent