Mundo ficciónIniciar sesiónEra uma manhã fresca e nublada quando o interfone tocou, seu som insistente rompendo o silêncio habitual da casa, como o chamado de um corvo solitário em meio a uma floresta. Clarice nunca trazia chaves; tinha o costume de ser atendida na entrada, uma prática que se tornara uma tradição familiar, quase um ritual. Ao longo dos anos, ela adquirira o poder de interromper o cotidiano com sua simples presença. Coloquei a mão na alça do avental, sentindo a textura do tecido que me lembrava as obrigações do dia, lavei as mãos rapidamente e desci as escadas de madeira, os degraus rangendo sob meu peso, como se me preparasse para assistir a um filme ruim, cheia de receios e ansiosa para não perder uma única cena do que estava por vir.
Assim que ela entrou, havia algo contido em seus passos, como se cada movimento fosse calculado com precisão. Seu cabelo estava impecavelmente arrumado, preso em um coque elegante que exibia a graça de seu pescoço, e o perfume caro que exalava a envolv






