PASSADO DOLOROSO

— BYANKA

Frio é a primeira coisa que sinto ao despertar, tento me esticar, mas percebo que minhas mãos e meus pés estão restritos por alguma corda ou corrente, abro os olhos e levo alguns momentos para me acostumar com o ambiente ao meu redor, a escuridão total me assola e quase não enxergo nada ao meu redor, sinto a panico começar a tomar conta de mim, como se uma mão invisível estivesse pressionando minha garganta e cortando meu fluxo de ar.

Conto as respirações exatamente quando Aleks me ensinou quando eu era pequena e tive minha primeira crise de ansiedade.

Lembro como se fosse ontem:

— Se papai descobrir ele vai me matar, Aleks. — eu choro para minha irmã enquanto olho para o estrago que causei no escritório de papai, não era a minha intenção, eu estava correndo atrás de Yelena e ela entrou aqui mesmo que eu dissesse que não podia, ela sempre foi aventureira e destemida, mas sem noção nenhuma do perigo.

Mesmo com pouca idade eu já sei que não devo entrar aqui, mas se papai chegar e ver que Yelena entrou sem a autorização dele vai ser muito pior para ela do que seria para mim, corro atrás dela mesmo morrendo de medo de entrar lá.

— Yelena! — eu grito quando passo pela porta do escritório e a encosto atrás de mim — Não podemos entrar aqui, Dyévatchka. Se papochka nos pegar aqui ele vai nos matar.

— Ele não pode nos matar se não descobrir. — ela abre seu melhor sorriso banguela e me convence de fuxicar um pouco as coisas de papochka.

Mas Yelena não se conteve só em olhar, não, ele teve que tocar em uma das coleções de charutos de papochka e ainda deixou cair no chão sem querer, meu coração quase saiu da boca quando vi todo aquele conteúdo estragado, tudo quebrado, inclusive a caixinha de madeira.

Quando Yelena olhou para mim eu vi o medo refletido em seus olhos, sei que ela pensou que eu fosse denunciar o que ela fez a papochka e me livrar das consequências, mas eu não podia fazer isso com ela, Mama sempre me disse para proteger ela como se fosse minha irmã e vice versa, não só ela como minhas outras amigas também.

Então eu não podia simplesmente entregar ela de bandeja para ele, não sei o que ele seria capaz de fazer com Yelena, então eu disse para ela correr e avisei que cuidaria de tudo, ela chorou e me agradeceu por isso. Me senti feliz por proteger Yelena, mas fiquei com medo do que aconteceria a mim mesma depois que papochka descobrisse o que eu fiz.

Então quando Aleks entrou pela porta e me encontrou tentando consertar o que não havia mais conserto eu corri para seus braços e chorei em seu colo, ela sempre foi o meu refúgio, o meu abrigo.

— Não chore, Sólnêchka. Não há nada a temer. — ela me segura forte em seus braços depois que eu conto tudo o que aconteceu com Yelena.

— Mas ele vai descobrir que fui eu Aleks, papochka vai descobrir, ele sempre sabe de tudo. — minha respiração para, meus olhos dobram de tamanho e eu tento respirar, mas o ar se torna rarefeito e por mais que eu respire parece que não consigo sugar ar o suficiente.

— Sólnêchka! Respire comigo, tudo bem? Vamos, conte as respirações comigo, por favor, respire meu amor. — Aleksandra diz em pânico e eu tento fazer exatamente como ela está mandando. — Sente-se e coloque a cabeça entre as pernas e respire comigo, um, dois, três… Muito bem Sólnêchka, continue assim meu amor. — ela faz carinho em minhas costas enquanto eu continuo a contar com ela, enquanto eu ainda sigo suas instruções.

— O-obrigada Aleks. — eu solto em um guincho conforme a respiração fica mais fácil.

— Eu vou falar com nosso pai, não precisa se preocupar. — ela garante com um sorriso trêmulo — Vou falar que eu esbarrei sem querer quando vim pegar um dos documentos que ele pediu.

— Ele vai te matar Aleks, não faça isso! — eu exclamo em pânico.

— Papochka não faria nada comigo, fique tranquila, afinal de contas eu sou a sua irmã mais velha, quem tem que se preocupar com você sou eu.

Lembro que após isso não vi Aleksandra por mais de uma semana, na época eu pensei que ela tivesse ficado chateada comigo por ter que assumir a culpa por algo que eu disse que assumiria, mas depois que eu cresci eu descobri por experiência própria o que realmente aconteceu, como nosso querido papochka a puniu depois de descobrir o que “ela” havia feito.

Sou sacudida das lembranças com um rangido de porta se abrindo, olho ao meu redor tentando enxergar alguma coisa, mas o breu me impede de ver até o que me mantém amarrada.

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