Meredite
Quando fechei os olhos e deixei a memória correr, não encontrei um único momento de brilho fácil — encontrei só ranhuras e sombras que me tinham moldado. A minha história começara num lugar pequeno, com uma mãe que dava o pouco que tinha e um pai que fora embora cedo demais. Cresci com a sensação do vazio ao lado, aquela margem que ensinou a ser durona rápido. Não fora exatamente uma infância de novela: fora de racionamento, de portas que rangiam, de promessas quebradas que só reforçavam uma coisa: eu teria que conquistar o meu próprio lugar, custasse o que custasse.
Aprendi cedo a ler as pessoas. Quem tinha pouco aprendia a ver oportunidade onde outros viam nada. Aprendi a sorrir quando convinha e a morder quando me feriam — não por crueldade, mas por defesa. Meus braços ficaram fortes por carregar trabalho demais e responsabilidade demais; meus olhos, rápidos para notar uma chance. E a chance era o que movia o mundo, mesmo que alguns achassem que nasceram com tudo dado.
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