Você ja imaginou, se um dia você acordasse e seu mundo estivesse de cabeça pra baixo? Tudo o que você conhece, agora é só lembrança? Ser enviada para uma cultura que você não conhece e ser obrigada a fazer parte dela sem entendê-la? Após uma tragédia, Marina, uma garota de dezessete anos é levada por sua avó paterna para viver com ela em uma aldeia indígena, por ser a única parente viva de Marina ela se sente responsável por seu futuro.Marina vai passar por muitos obstáculos para chegar a felicidade,que estará onde ela menos imagina.
Leer másQuem diria há alguns anos, que o que aconteceu me traria aqui, para viver em um lugar que eu jamais viveria? Foi tudo tão rápido que eu sequer consigo explicar com detalhes.
Eu arrumava a minha mala e Antony entra no meu quarto com tudo.
- Ai garoto, que susto.- Mamãe disse que já vamos, desça logo.- Disse pulando de um pé só.Esse garoto parece ligado no 220, não para quieto.
- Já estou indo, e pare de pular, se você se esborrachar no chão eu vou rir muito.- Chata!-Disse me dando língua. - Vai, garoto saia daqui.Antony é meu irmão caçula, ele tem sete anos, mas é muito inteligente, somos em três irmãos, tem também Isadora que tem vinte e um, ela vai se casar em três meses, essa será a nossa última viagem juntas, e é claro tem eu que tenho dezessete anos.
Eu me dou melhor com Isadora do que com Antony, ele é uma pimentinha, mas as vezes ele é muito carinhoso.
Desci as escadas me esforçando com a mala, papai pegou-a e levou para o carro.Todos nós os seguimos e cada um se sentou em seu lugar. Papai fazia questão que sempre nos sentassemos no mesmo lugar. Eu sempre me sentava na janela, atrás do motorista, Antony na outra e Isadora no meio de nós dois. Olhei pela janela e visualizei a fachada de nossa casa, estava com o coração apertado, essa eram as férias que planejamos durante dois anos. Iriamos para Maceió, dizem que as praias de lá são lindíssimas, mas esse aperto não me deixa. Deve ser ansiedade por conta da viagem tão esperada. Nossa casa fica no jardim Analia Franco em São Paulo, papai preferiu ir dirigindo, ele e mamãe revezaram no volante, ele alegou que a viagem será mais aproveitada se pegarmos a estrada ao invés de voar. Nós chegamos a BR 101 e papai trocou com a mamãe , pois estava cansado e ele queria que ela continuasse de dia para que ele dirigisse a noite. Tudo correu bem até a noite, papai dirigiu até umas onze da noite e paramos em uma pousada. Logo cedo acordamos e quem dirigiu desta vez foi papai. Por volta de meio dia eu estava entediada e comecei a brincar com Antony e Isadora de jogo da forca.- Agora é minha vez. Eu disse- Com cinco letras é um time.-Paulista ou carioca?- Perguntou Isadora. - Não vale, é só uma dica.-Disse Antony. - Verdade.- B.Disse Isadora.- Errado.- C.-Disse Antôny.- Aqui, penúltima letra.- Já sei, já sei.- Então fala Antony. - É Vas...Foi nessa hora que ouvi o grito de mamãe. Quando olhei só deu para ver um caminhão vindo na nossa direção, papai desviou, mas perdeu o controle e tudo o que me lembro é que o carro capotou umas quatro vezes. Eu ouvia ao longe o choro de Antony e o desespero de mamãe, de repente todos se calaram e a escuridão me engoliu.Acordei em uma maca com uma dor lacinante na perna e na clavícula.
- Cade mamãe? E papai? Cadê o Antony e a Isadora?
-Calma Marina, Antony está bem ali. - Disse e apontou para uma cama ao meu lado.Eu não consegui focalizar seu rosto, minha visão estava turva.- E...os...outros.-Estão em coma.- COMA?Eu quero vê-los!- Você não pode.- São minha família!-Mas...- Por favor.-Disse com os olhos marejados. O médico respirou fundo e cedeu. - Está bem. Vou pedir a enfermeira para levá-la.O médico se dirigiu a enfermeira e eu juro que eu ouvi ele sussurrar para ela que talvez aquela pudesse ser a minha última chance de vê-los. Mas por que? Quando cheguei na UTI, svistei primeiro a Isadora, seu noivo estava ao seu lado e segurava sua mão, eu ouvia o bipe incessante dos munitores cardíacos, na sala só estavam os três, fora eu e Luan. E uma infinidade de enfermeiros. De repente dois dos monitores começaram a apitar e eu entrei em pânico, entraram uns quatro médicos correndo e tentaram reanimar papai e Isadora, o terror estava estampado no rosto de Luan e tenho certeza que no meu também. Os médicos não tiveram sucesso e papai e Isadora morreram minutos depois, mas eu me apeguei ao fato de que eu e meu irmão pelo menos teriamos mamãe para cuidar de nós, como fui tola a pensar que teria ao menos essa recompensa depois de presenciar a morte de minha irmã e meu pai ao mesmo tempo, fui para meu quarto e chorei até não poder mais, chorei durante horas e quando achei que minhas lágrimas haviam secado, recebi a notícia de que haviamos perdido a única pessoa que ainda nos restava, mamãe teve uma parada cardiorespiratoria e morreu, os médicos fizeram tudo o que podiam mas não teve jeito.Os velórios não poderiam ter sido mais tristes, três caixões alinhados enquanto o pastor falava algumas palavras que eu não houvia, só fui capaz de houvir quando ele disse algo que me fez surtar.-...por que não somos capazes de aceitar a morte? Simplesmente, irmãos porque não fomos feitos para morrer...- Porque não fomos feitos para morrer? - perguntei sarcástica .- Então por que diabos meus pais e minha irmã estão aqui deitados nesses malditos caixões?- Foi a vontade de Deus minha filha.
- Que vontade de Deus o que, acha que Deus queria isso? Duas crianças órfãs e um noivo sem noiva?-Eu disse gesticulando na direção de Antôny e de Luan.- Venha Marina, você precisa descansar.- Não, não preciso Marcela.- Eu só quero seu bem.- Eu sei...- disse hesitante.-desculpe pastor, eu...-Eu sei minha filha é compreensível.
Quando colocaram os caixões um a um no túmulo, primeiro papai, depois mamãe e por último Isadora, meu desespero aumentou a vontade que tive foi de ir junto também, mas precisava pensar no Antony. Ele não parecia estar entendendo muito bem o que se passou, ele tinha ficado em casa com minha avó, ela é india e disse que não era bom que ele viesse . Como eu não estava em condições de cuidar nem de mim, acabei concordando e vindo com a Marcela, ela é uma boa amiga. Nos conhecemos desde criança, me lembro que nos tocávamos a campainha dos vizinhos e corríamos. Uma vez o seu João pegou a gente e levou para mamãe que nos deu a maior bronca.
A casa parecia imensa, quando passei pela porta pude ouvir vovó contando uma de suas histórias para Antony, não pude deixar de sorrir, sentia inveja da sua inocência. -..."e então o menino gritou novamente e ouviu o buraco respo...Ah filha, você ja chegou?- Já sim. Foi muito triste a mamãe...- Não, não menina, não fala dos mortos deixa eles descansarem.- Como não vou falar da minha mãe? A sua lembrança foi tudo que me restou. - Guarda ela aqui. - Disse colocando a mão sobre o meu coração. - Ela vive em você. E seu espírito estará sempre vivo. Mas falar dela atrai coisa ruim, melhor pensar, lembrar momentos bons.Fiz que sim com a cabeça.
- Agora menina arruma suas coisas que daqui a sete dias vamos embora, só esperaremos espíritos irem para voltarmos para aldeia.
- Aldeia?...- Sussurrei. Achei que fossemos ficar aqui.- Não, eu não posso ficar.Tenho obrigações. - Então a gente fica.- Você, criança e Antony também.-Disse colocando o dedo no meu peito - Mas a minha vida é aqui.-Agora sua vida é na aldeia.- Eu...É que...- Pelo menos até ficar adulta, depois pode vir, mas primeiro Marina precisa arrumar trabalho para sustentar a casa, combinado?- Tá legal. Os sete dias pareciam se arrastar, na quinta feira que era o penúltimo dia que eu ficaria na cidade, fui até a escola, para me despedir dos meus amigos.Minha avó foi dar baixa na minha matricula. Eu fiquei imaginando se lá eu iria para a escola.-Venha me visitar, Marina. - Disse Marcela abraçada comigo.- Eu vou vir.- Então... Acho que...Tchau?- É, a gente se vê...Entrei no taxi e não conseguia parar de chorar.
- Tá chorando por causa da mamãe?
- Não querido, a mamãe, o papai e a Isa, estão dormindo agora.-Dormindo pra sempre?- Não, um dia estaremos todos juntos. - Legal...O caminho foi um pouco longo, e Antony logo pegou no sono. Eu, na maior parte do tempo fiquei acordada olhando pela janela e chorando tudo o que essa maldita tragédia tirou de mim. Além de perder meus pais e minha irmã, perdi meus amigos e tudo o que eu sempre tive. Agora eu estava indo para o meio do mato, viver com um monte de pessoas que vão me achar um extraterrestre, se é que eles sabem o que é um. E isso não é por causa do meu biotipo, que embora eu não seja a típica india Caiapó, eu tenho muitos traços que herdei de meu pai, que era índio. Eu sou morena, a pele um pouco mais clara que avelã, meus cabelos são lisos, só não escorridos contam com belas ondas, sou magra mas não magra demais. Enfim, acho que o meu biotipo vai ser o menor dos meus problemas nessa nova vida. O Antony já é mais claro que eu e tem os cabelos cor de mel, como eram os da Isa, os seus olhos, ao contrário dos meus e da Isadora que são negros como jabuticaba, no caso dele eram verdes como os da mamãe. Pensando nessas coisas acabei por pegar no sono e tive um sonho, aguma coisa com pessoas de rosto pintado indo pra guerra. Quando acordei haviamos chegado.
Agradeço primeiramente a Deus pela inspiração que tem me dado, agradeço a paciência mais uma vez da minha amiga Marcia, agradeço a minha inteligentissima amiga Sandy que é coautora dessa obra, já que ela foi quem fez as capas não só dessa, como da minha outra obra! Agradeço também ao chato do meu gerente que aturou eu falando o tempo inteiro sobre o livro e ao meu amigo Rafa Mic que me ajudou muito e sempre me apoia! Ele me fez chorar gente! Agradeço também o apoio da minha amiga Maria e do meu chefe Eduardo que me liberou para tentar publicar meus livros. Faço questão que essas pessoas estejam sentadas na primeira fila quando eu for lançar os livros.
Nossa que amor, não? Olha esse seria o amor dos meus sonhos, viver eternamente ao lado da pessoa que eu amo. R mais, que o amor dure esse tempo todo. Sei que fugi um pouco do tema polêmico, que é o desmatamento, mas acho que dá para ter uma noção do que se faz para conseguir terras para desmatar, gente não podemos ficar calados! Todos os dias não só indios, mais donos de terras que trabalharam para conquistar o tão sonhado pedaço de chão são espulsos ou mortos por grileiros* que querem suas terras, não podemos nos acovardar, quando soubermos de casos assim devemos denunciar! Essas pessoas não merecem perder o pouco que tem para milionários que só querem saber de mais dinheiro, devastando a natureza e as nossas florestas. Elas são o pulmão do mundo gente! Temos por obrigação preservar.
O tempo passou e a vida não saiu mais dos trilhos na aldeia, Erin e Antony se casaram e tiveram dois curumins(menino) e uma curumara(menina). Kaue e eu tivemos mais duas meninas e um menino. Irai também se casou, ela teve apenas um filho. Hoje Kaue não é mais o pagé da aldeia, ele está velho para isso. Nosso filho é o pagé agora. Eu estou aqui, deitada na minha rede, ele está ao meu lado segurando a minha mão. Seus cabelos que um dia foram da cor de carvão, hoje são brancos como as nuvens do céu. Mas ele continua tão lindo como antes. Suas mãos calejadas das lidas na terra e das obrigações como pagé, acariciam o meu rosto doente. Sinto que minha hora já vem, mas não quero deixá - lo. Passam dias e dias e Kaue não desgruda de mim. Sei que ele sofre, pois tem medo do inevitável.Vivemos muitos anos, sempre juntos. Desde aquele dia em que ele me olhou, quando cheguei aqui perdida em meus sentimentos, até o dia de hoje, em que estou aqui, no fim da minha vida de alegrias e tris
Quando o médico de Erin disse que ela não poderia viajar meu sangue gelou nas veias, eu não queria ficar aqui, aqui não era mais o meu lugar.Calma Marina, são só três meses.Sim, só três meses, mas e se algo acontecesse?Quem diria que para mim, que nasci aqui seria mais dificil que para Kaue que já se encarregou de arrumar uma casa para que ficassemos, alegando que ficaria muito caro passar três meses em um hotel. E que para uma pessoa no estado de Erin não era bom. A mãe dela se prontificou a recebê-la em sua casa, mas como ela mora no terceiro andar de um prédio de cinco e o prédio não tem elevador, e Erin precisaria se deslocar diariamente para o hospital, acabamos optando pela casa mesmo.A casa tinha apenas um quarto e um escritório. Erin ficou no quarto com Antony, Kaue e eu, compramos um colchão inflável e ficamos com o escritório.A nossa rotina passou a ser de casa para o hospital e vice- versa. Em uma segunda- feira, um mês depois
Um sono profundo havia tomado conta de mim, meus olhos pesavam toneladas, não consegui mantê-los abertos, a dor era lacinante, finalmente cedi a dor e ao sono, mergulhei na escuridão. No início ouvia as vozes, mas ai veio a luz, eu a segui e deixei de ouvir as vozes. Ainda doía, mas o sono já havia passado. Havia um jardim bonito através da luz, fui andando por ele, observei a paisagem, era linda, havia diferentes tipos de flores e árvores frutíferas que eu nunca antes havia visto, era uma fruta marronzinha que exalava um perfume maravilhoso. Não consegui alcançar, por mais que tentasse parecia impossível alcançar. Enfim, desisti e continuei caminhando, ouvia o riso de crianças ao longe, até via algumas passando correndo de relance, mas quando me virava para olhar, haviam sumido. Eu estava só, uma pária, sem ninguém, avistei uma grande cerca ao longe e passei a seģuir no seu encalço. Parecia que haviam horas que eu estava caminhando e não chegava nunca, po
Deixei Antony no hotel e pedi a Kaue que tomasse conta dele, por mais que soubesse que Erin está melhor, não se sabe o que se pode acontecer.Esse portão me causa calafrios, me traz lembranças há muito tempo guardadas, passei pelo imenso portão e caminhei na direção do lugar onde jaziam os meus entes queridos, doeu ver novamente aqueles túmulos, antes eram três, mas desde a última vez em que estive aqui passou a ser quatro.Minha mãe, meu pai, minha irmã e meu filho jaziam ali. Eu trouxe flores, mais para aliviar a miyjha dor do que para trazer vida aos túmulos. Lágrimas teimavam em molhar a minha face machucando ainda mais as feridas que não haviam cicatrizado, me sentei entre os quatro túmulos e passei a chorar mais e mais. As feridas antigas, agora tornavam-se chagas incuráveis. Passei um tempo ali, não sei ao certo quanto, tinha que tirar essa dor de dentro de mim, ela não me permitia ser feliz de verdade, jamais vou esquecer a minha familia, mas prefiro me l
Último capítulo