Capítulo 2

— Puta que pariu! — Eu falo isso um pouco alto demais e cubro minha boca com a mão. Escuto uma risada e franzo a testa para Elias.

— O que está fazendo acordada essa hora, Beca?

— Nada demais, só esperando um idiota vir e me assustar. — Digo irritada e abro o armário para pegar um copo. Meu deus, é sempre uma luta para alcançar a prateleira dos copos.

— Eu mal cheguei e você já vai me maltratar assim? — O ignoro e fico na ponta dos pés para pegar um copo. — Becaaa? — O ignoro de novo e ouço seus passos se aproximando. — Você vai mesmo me ignorar? — Ainda não percebeu? Estou quase subindo na bancada pra pegar o copo quando ele ri e pega um copo com enorme facilidade.

— Obrigada. — Agradeço emburrada e coloco a água no copo.

— Não há de quê. — Ele cruza os braços e se apoia ao meu lado na bancada. - Sabe, eu gosto dessa expressão no seu rosto, parece um gatinho mal humorado porquê o dono esqueceu de colocar a ração. — Reviro os olhos.

— Específico demais, não acha? — Ele dá de ombros ainda sorrindo.

— Não, é exatamente a expressão que você fazia quando éramos crianças, você não mudou nada. — Arqueio a sobrancelha.

— Claro que mudei, tirei o aparelho, não tá vendo? — Mostro meus dentes para ele.

— Não achei que reconheceria você sem ele, usou aquela coisa por o que, cinco anos?

— Seis, na verdade. — Ele revira os olhos como quem dissesse "uma puta diferença". — Você está perdendo o filme. — Digo tentando fazer ele sair e me deixar só.

— Eu já assisti esse filme várias vezes, Beca, sei as falas de trás pra frente. — Ele me encara com um sorriso debochado, ele sempre gostou de me deixar desconfortável.

— Da parar de olhar pra mim assim? — Ele ri.

— Assim como?

— Desse jeito. — Aponto pra cara dele. — Com essa sua cara feia e esse sorrisinho debochado que parece que tá rindo de mim.

— Nunca ouvi tanta besteira numa frase só, Beca. — Ele não perde uma oportunidade de me chamar assim, eu odeio esse apelido.

— Da pra me chamar de Rebeca? Não entendo a dificuldade, é só colocar o "Re" antes do "beca".

— Eu gosto mais de Beca. Combina mais com você, e é divertido ver a cara que você faz quando eu te chamo assim, Beca. — Eu reviro os olhos. — Não faz isso... — Ele sussurra isso, mas eu consegui escutar muito bem, eu viro pra ele com uma sobrancelha arqueada e pergunto:

— Você não vai mesmo me deixar terminar de tomar minha água sozinha?

— Claro que não, que tipo de cara eu seria se deixasse uma garota como você sozinha?

— Você seria conveniente e definitivamente menos irritante. — Ele ri e escorrega pra mais perto de mim, eu dou um passo para me distanciar, mas ele escorrega de novo.

— O que está fazendo?

— Eu? Nada. Mas você está fugindo de mim. — Reviro os olhos e tomo mais um gole da minha água antes de falar.

— Você é um cara esquisito, Elias.

— Esquisito, chato, irritante, idiota... já perdi a conta de quantas vezes você já me falou essas coisas. Está ficando repetitivo, não acha?. — Ele desce da bancada, pega o copo da minha mão e o coloca na pia.

— Ei, eu ainda estava beben... — Ele me puxa pra perto dele e eu perco a habilidade de falar por alguns segundos. — Vou perguntar mais uma vez Elias, o que você está fazendo?

Ele não responde, só sorri maliciosamente, coloca suas mãos na minha cintura e me coloca sobre a bancada.

— Elias...

Nossos rostos estão tão próximos que isso saiu como um sussurro. Sinto sua respiração em meus lábios e borboletas voam descontroladamente em meu estômago.

— Quer mesmo saber o que estou fazendo, Beca?

Eu só concordo com a cabeça, perdida entre seus olhos e sua boca. Ele sorri novamente e me beija, não foi um beijo de língua, mas também não foi um selinho, foi como um teste para saber até onde poderia ir, até onde eu o deixaria ir.

Ele se afasta um pouco e me olha com atenção, mas eu estou completamente chocada, e pelo o que eu vejo ele se diverte com minha confusão.

Eu mexo minha boca para tentar falar, mas nenhum som sai, eu apenas balbucio algumas sílabas sem sentido e sons confusos, meu coração batendo rápido demais.

— Beca, talvez seja prudente da sua parte falar alguma coisa agora, estou perigosamente perto de te beijar até que você esqueça que já beijou outra pessoa algum dia.

Um arrepio dolorosamente lento passa por minha espinha e eu mordo o lábio inferior. Minha cabeça está cheia de perguntas como: por que droga o Elias faria isso? O que ele quer? Seja lá o que for, eu quero? Meu deus, como alguém pode ter lábios tão bonitos?

Não faz sentido, a gente nem se gosta pra início de conversa, aí do nada ele vem todo confiante e me beija... certo que eu não afastei ele, mas isso não vem ao caso! Isso é completamente ridículo e inapropriado.

— Tá bom. — Ele dá de ombros, segura meu pescoço e me puxa em sua direção para colar nossos lábios de novo, eu não resisto a princípio.

Sinto sua língua abrir caminho entre meus lábios e dançar com a minha em uma sincronia que me surpreende. Elias chega mais perto, nem sabia que era possível ficar tão perto assim de alguém, mas esse cara é Elias Wayne, se tem alguém que pode mexer comigo assim, é ele.

De repente uma onda de sobriedade me atinge, me tirando da dormência entorpecida que é estar nos braços do Elias, e eu me afasto dele abruptamente.

— Você só pode ter batido a cabeça em algum lugar enquanto esteve em Nova York... — Resmungo de olhos fechados, com medo de encontrar o olhar cortante dele, mas posso senti-lo sorrir.

— Não sei do que você está falando. — Seu tom de piada em sua voz me irrita, eu levanto o rosto para olha-lo bem, mas tenho que ser forte para encarar seus olhos azuis como o oceano.

— Qual é! Você é o Elias, o garoto insuportável, que eu só convivo por ser o irmão da minha melhor amiga. — Ele solta o ar pelo nariz de um jeito sarcástico, como se o que eu disse fosse algo idiota e irrelevante.

— Eu só quis beijar você, o que tem de tão errado? — Eu cruzo os braços e olho para ele incrédula.

— Você nem olhava para mim à um ano.

— Tem certeza? — Eu arregalo meus olhos e ele da um passo para trás, sorrindo como o gato Cheshire da Alice e me olhando de cima a baixo.

— Eu não sei o que você quer dizer. — Ele não pode tá falando sério... Elias Wayne não pode ter simplesmente insinuando ter uma queda por mim!

— Você é uma garota inteligente, senhorita Linor. — Ele dá uma piscadinha e coloca as mãos no bolso do moletom de um jeito despreocupado. — Você tem aula amanhã bem cedo, deveria ir dormir.

Eu desço da bancada ainda atordoada, só de passar por ele sinto um calor estranho.

— Boa noite, Elias. — Falo com a mandíbula travada e tentando parecer indiferente, mas sinto que não foi essa a impressão que eu causei quando o escuto rir de fundo.

— Boa noite, linda.

Volto para o quarto da Diana completamente perdida em pensamento e dúvidas. Eu estou furiosa com o Elias, mas, ao mesmo tempo, me sinto nervosa e empolgada. Fiquei surpresa com o beijo, é óbvio, mas ele tinha que falar aquilo de insinuar que ele tinha uma queda por mim mesmo antes de ir para o intercâmbio só para me deixar confusa? Droga! É claro que ele tinha que falar aquilo, assim eu não consigo tira-lo da minha mente.

Acho que prefiro a época que ele não me notava.

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