Doce Destino
Doce Destino
Por: Melros
Capítulo 1

O último ano não poderia ter sido mais chato, nada aconteceu, ninguém que eu conheço nem se quer mudou a cor do cabelo. Minhas férias foram tão tediosas quanto, fiquei transitando entre a minha casa - onde moro com minha mãe - e a casa do meu pai, onde passo bastante tempo com ele, minha madrasta e meu meio irmão, o Thomas. Mas o que mais me frustra nisso tudo é que eu passei os últimos dois meses sem poder sair nem com a Diana e nem com a Sarah e a Bella, todas elas estavam viajando, estavam em algum resort curtindo o sol, piscina e praia, enquanto eu tive que ficar em casa e, algumas vezes, passar o dia inteiro com a peste do meu irmão (ah, ok, eu amo aquele pirralho, mas ele consegue me tirar do sério as vezes).

A única coisa boa agora é que as aulas estão finalmente voltando e pelo menos a Diana voltou das férias, então vou poder aproveitar o fim de semana com ela ao invés de ficar enfornada no meu quarto.

Existe um motivo para eu e a Diana sermos tão próximas, é que nossas mães eram amigas antes mesmo da gente nascer e, quando ficaram grávidas na mesma época, isso só as aproximaram ainda mais e fizeram tudo juntas, chá de bebê e festas como natal e ano novo sempre foram compartilhadas entre as duas famílias.

Mas, a pesar de me dar muito bem com a Diana e com os pais dela, o Elias, seu irmão mais velho, sempre foi um empecilho para mim. É que... eu não sei, nós não parávamos de brigar por qualquer coisinha que fosse. Por causa disso, quando eu soube que ele ia viajar para um intercâmbio nos Estados Unidos, eu fiquei foi muito feliz e animada, passei os fins de semana do ano quase todo (menos nas férias, como já disse) na casa da Diana.

Sabe, eu nunca entendi muito bem o motivo de tanto desentendimento entre mim e Elias Wayne, ele parecia ter uma satisfação estranha em me ver brava, hoje em dia, olhando para trás, me parece que ele era só um sádico doido. Mas, fora isso dele gostar de me provocar, ele sempre foi muito conhecido na escola, assim como a Diana, os dois chegam a ser chatos de tão bonitos e sabem ser bem comunicativos, todos gostam deles e estão sempre com pretendentes, só deus sabe quantas histórias eu tive que ouvir dos ficantes da Diana.

Só que já faz um ano que eu não tenho nenhum contato com o Elias, então não sei se ele continua sendo assim, talvez ele não seja mais um babaca completo... pelo menos eu tenho esperanças.

Eu poderia ficar de férias por mais seis meses que eu não ia nem perceber, mas só se todos os meus amigos não viajassem e eu não fosse obrigada a ficar melancolicamente ,e bem dramaticamente, assistindo séries sozinha no meu quarto. Mas, como eu falei mais acima, a Diana voltou das férias e, agora, estamos nós duas na minha casa conversando, fofocando e compartilhando o que aconteceu nos últimos meses.

— E aí, não quer ir dormir lá na minha casa para irmos juntas para escola amanhã? — Ela pergunta e pega um punhado de pipoca da tigela no meu colo.

— Claro, vou pegar umas coisas, avisar a minha mãe e podemos ir agora. — Ela sorri e pega a tigela quando eu me levanto.

— Podemos pedir pizza e assistir filme? — Eu rio da animação dela, quando ela fala assim me faz lembrar de quando tínhamos sete anos.

— Com certeza. — Digo e subo para o meu quarto, arrumo minha bolsa e desço novamente.

— Mãe, vou dormir na casa da Diana, okay?

— Tudo bem, só não vão dormir tarde, não esqueçam que amanhã tem aula.

— Certo.

Na casa da Diana, falo com o tio David e a tia Jess – os pais dela – e seguimos para o seu quarto. Assistimos a um filme e depois ficamos conversando um pouco, sobre tudo, mas nada em particular.

— Rebeca? — Tiro os olhos do meu celular e olho para ela.

— Sim?

— Meu irmão tá voltando de NY daqui uma semana. — Fala e me mostra sua conversa com ele no W******p. Eu arregalo os olhos e algumas memórias dele passam brevemente pela minha mente.

— Que legal, faz quase um ano que ele foi para o intercâmbio, é até estranho ele estar voltando. — Digo tentando não parecer incomodada.

— Pois é. — Ela olha para mim de lado e cutuca minha bochecha. — Eu sei que você e ele eram como cão e gato, não que eu e ele fôssemos os irmãos mais unidos do mundo, mas eu estou morrendo de saudade daquele embuste. — Eu rio.

— Relaxa, eu mal me lembro da cara dele. — É uma mentira das grandes, mas ela ri.

— Sabe, gente se falou inúmeras vezes por vídeo chamada enquanto ele está lá, mas eu sinto falta dele aqui. — Sorrio para ela com uma mistura de carinho e descrença.

— Eu não sabia que vocês eram tão próximos, pelo o que eu me lembro, os dois não paravam de brigar por nada. — Diana revira os olhos e cai de costas sobre seu colchão.

— Eu sei, eu sei, nem eu entendo como tenho saudade daquele cão, chato pra caralho. — Eu rio.

— Nem me fale. — Ela me mostra a língua de um jeito brincalhão. — Você disse que ele chega em uma semana, sabe o dia?

— Provavelmente uma segunda, meus pais vão fazer uma festinha de boas vindas e vão chamar todos os amigos dele, vai ser legal, deveria vir.

— Claro, eu nunca dispenso a comida da sua mãe. — Nós rimos e conversamos mais um pouco e de repente escutamos a campainha tocar, gritos de alegria vem logo em seguida. — Mas o que é isso?

Nós fomos correndo até a sala de estar e nos deparamos com o Elias e seus pais pulando de alegria, Diana rapidamente se junta a eles, e eu fico esperando a euforia passar um pouco para eu poder cumprimentá-lo. Quando eles se desgrudam um pouco, eu me aproximo, ainda que hesitante.

— E aí, Beca. — Ele me puxa para um abraço mas me solta logo em seguida, eu nem me mexi por conta do choque, mas eu me forço a voltar a mim.

— Fala sério Elias, nos conhecemos a anos e você ainda não aprendeu meu nome? — Cruzo os braços e firmo a postura.

— E você ainda se irrita com isso? — Meu Deus, como ele pode estar igualzinho a antes? Não totalmente, algumas poucas coisas mudaram, mas o sorriso... o mesmo sorriso debochado de antes continua firme nos lábios dele.

— Um pouco. — Digo com um sorriso torto no rosto.

— É melhor chamá-la de Rebeca. — Ela da tapinhas no ombro dele. — É para a sua segurança. — Diana fala sorrindo, mas Elias apenas olha pra mim com uma falsa expressão de medo.

— Achávamos que você vinha na outra semana, o que aconteceu? — Tio David fala olhando para Elias com atenção.

— Não aconteceu nada, só queria fazer uma surpresa. — Diz sorrindo.

— Você estragou a surpresa que íamos fazer pra você, idiota. — Diana fala e dá um tapa atrás da cabeça dele.

— Ei! — Reclama.

— Não comecem vocês dois. — Diana abre seu sorriso mais inocente e Elias revira os olhos.

— Verdade, já tínhamos até chamado os seus amigos da escola. — Lana fala e o abraça forte mais uma vez. - Você nunca mais vai fazer intercâmbio, viu mocinho?

— Vou sim.

— Não vai não! — Daiana e seus pais falam em uníssono, fazendo a gente rir.

— Acho que você está preso aqui Elias. — Digo ainda rindo.

— Pensei a mesma coisa, Beca. — Eu franzo o cenho e ele sorri, convencido. Eu tinha até me esquecido, por um segundo, que ele é um idiota.

Depois de muita conversa, fica tarde e eu e Diana decidimos ir dormir, afinal, amanhã já é segunda e o primeiro dia de aula ainda por cima, não vamos chegar atrasadas. Tenho que admitir que as férias ferraram com meu relógio biológico, eu estava indo dormir umas quatro da manhã e acordava depois do meio-dia, agora são onze horas da noite e eu não consigo nem fechar os olhos, sei lá, de madrugada é quando eu fico mais enérgica.

Eu me levanto e vou pegar meu celular que deixei carregando na escrivaninha da Diana, coloco meus fones de ouvido e começo a assistir um filme de terror - morro de medo, mas é meu gênero favorito de filme. Na hora dos sustos, eu coloco minha mão na boca para não acordar a Diana, que deve estar no décimo oitavo sono agora.

Quando o filme acaba eu volto para a cama e fico olhando pro teto sem saber o que fazer, agora que eu não vou conseguir dormir mesmo, que ideia genial assistir um filme de terror de madrugada, sozinha e no escuro, parabéns pra mim. Qualquer barulhinho que tem no quarto eu me assusto, qualquer sombra que eu vejo pela janela eu me assusto.

— Meus parabéns, Rebeca. Muito inteligente você. — Resmungo frustrada.

A maioria dos filmes de terror eu fico de boa, mas Invocação do Mal sempre me deixa com um medinho a mais, mas isso só vale para o primeiro filme.

De repente eu escuto o assoalho do corredor ranger, tento ignorar e me encolho embaixo dos cobertores, mas quando range de novo e o barulho soa como passos, eu só respiro fundo e digo mentalmente que foi só alguém que acordou com sede e foi até a cozinha beber água, ou alguma coisa do tipo. Mas minha curiosidade me vence e eu decido sair para ver o que está acontecendo.

— Isso aí, faça que nem personagem secundário de filme de terror que morre na primeira cena. — Minha consciência briga comigo, mas agora já é tarde demais.

Abro a porta silenciosamente e escuto o barulho da tv, vou até a escada e consigo ver a claridade da tela, mas noto que não tem ninguém no sofá e um calafrio passa por mim. Me estico sobre o corrimão e não vejo ninguém em lugar nenhum da sala de estar, então eu desço as escadas na ponta dos pés e vou até a cozinha.

Entro e também não tem ninguém, o cômodo está meio escuro, iluminado apenas pela luz da sala de estar que chega aqui numa penumbra suave, eu respiro lentamente me achando uma idiota por estar com medo do escuro e ando até a geladeira para pegar um copo d'água. Mas quando luz acende e eu tomo um susto e me viro para trás com tudo.

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