Nicolo Moretti
O mundo parou quando aquela palavra saiu da boca dela.
Piano.
Um simples substantivo, mas que carregava o peso de uma vida inteira de arrependimentos. A fúria foi uma labareda instantânea, subindo da base do meu estômago e ameaçando carbonizar a minha razão.
Ela mexeu no piano, tocou nas teclas que um dia, que há uma eternidade, foram acariciadas pelos únicos dedos que poderiam extrair de mim alguma coisa que não fosse dor.
Então, a onda de raiva começou a recuar, e no seu lugar surgiu a imagem mais cristalina de idiotice: a minha própria.
Como eu não havia previsto? Como não entendi que a mulher à minha frente não teria aprendido a arte com a sua mãe?
A música estava no seu sangue, era um legado tão inevitável quanto a cor dos seus olhos ou a curva do seu sorriso. A raiva deu lugar a uma vergonha ácida que queimou a parte de trás da minha garganta.
Conhecia Caterino, o homem que acabou ficando com Isabella, por minha covardia, a mulher que pensei que poderia um dia ser