POV AURORA
Às vezes, o sol nascia e eu jurava que o céu ainda estava escuro. Outras, a lua me encontrava acordada, sentada diante da janela, observando o mundo girar sem mim.
O som das pessoas, das ruas, dos pássaros — tudo parecia distante. Como se eu existisse num intervalo entre dois mundos, respirando por puro instinto.
Kael.
O nome ainda doía.
Não como antes, quando o amor e a esperança misturavam-se à ausência. Agora doía como algo partido, um vidro trincado por dentro.
Havia momentos em que eu achava que iria esquecê-lo, e então, bastava o vento mudar de direção — e o cheiro dele voltava.
Fumaça, pinho e promessa.
Promessa quebrada.
Valentin me mantinha viva. Não com palavras, ele quase não falava, mas com gestos.
Um cobertor sobre os ombros, o chá quente deixado à cabeceira, o silêncio respeitoso quando eu acordava no meio da noite gritando o nome de alguém que já não me pertencia.
Mas, naquela manhã, algo estava diferente.
O ar parecia mais denso, quase vibrante.