Resistência. Era a última coisa que Rafael tinha naquele momento etéreo e delicado, sob o domínio que Helena, ao toque dos dedos, nua. Ele sentia a mão dela deslizar sobre a lateral de seu corpo, envolvendo-o pela cintura. Aquela suavidade, deixava um rastro morno, arrepiava a pele dele. Um fogo, crescente, tomava seu corpo, deixava-o consciente dela e de si mesmo. "Mulheres assim causavam guerras na antiguidade." Ele constatava. Era aquele tipo de mulher apaixonante que erigia e destruía impérios. — Jantar e encontro? - Ele se afastava, visivelmente excitado e sem jeito. — Tem medo que eu fuja? - Ela tinha a expressão divertida. — Tenho. - Ele confessava. - E que eu não tenha significado algum pra você. - Sussurrou depois de uma pequena pausa. Helena sentia a alma se rasgar. Um dos homens mais atordoantes que conheceu tinha alma doce. Era um coração delicado. Sentia-se culpada. Uma verdadeira canalha. — Jantar e encontro, então. - Ela confirmou, terna. Sorria com uma luz que o aq
Sullivan estava preso a uma coluna quando ouviu os passos leves e o bater dos saltos de uma mulher no chão de concreto frio. O telefone de Sullivan começou a vibrar insistentemente, entre ligações e mensagens. Os passos da mulher estavam cada vez mais próximos e mais altos. Vendado, ele não enxergava nada, mas conhecia aquele cheiro de morango e champagne: aquele cheiro pertencia a Helena.— Oi, Sulivan! - A voz dela chegava aos ouvidos dele. Era Helena. Ele sentiu as mãos dela tocarem seu rosto suavemente. Ela soltou a mordaça, percebendo Sullivan pressionar os lábios e travar os dentes. Delicada, tirou a venda que encobria seus olhos. Sullivan a encarava, ferido, abatido, odioso.— Eu vou matar você, Hellish Joker. - Ele rosnou entre os dentes. - Eu vou te matar. - Ele bradou, irado, a ponto de estar ofegante, respirava para se recompor, enfrentando na mulher, abaixada a sua frente. — Stuart, não sou eu presa a coluna, querido. - Ela disse, sorrindo docemente. Rafael assistia aqu
Helena estava no meio do deserto. Deixou Sullivan com alguma água, as lonas e o celular, sem sinal e pouca carga. Daria uma chance àquele homem rabugento. Voltava, sem qualquer remorso. Em Monterrey, passou pelo hotel e voltou para a cidade, incógnita. Não havia movimentação no andar dos Stuart. Decidiu se divertir um pouco com Rafael. — Oi. - Ela disse ao telefone.— Olá, querida. Como foi o passeio? Gostou da caminhonete? - Rafael disse, alegremente. — Uma excelente caminhonete. Obrigada pela generosidade, Rafael. - Ela sorria na voz, deixava-o orgulhoso de si. - Sua proposta ainda está em pé?— Nâo apenas a proposta, querida. - Ele se oferecia a ela, sedutor. - Quer um endereço? Acredito que irá gostar da estadia. É simples, mas é de coração. — Você pare! Assim eu gamo, paixão. - Ela o provocava. - Ou pode me buscar, gosto da sua companhia e vocẽ parece ser bem cuidadoso para dirigir. O que prefere?— Prefiro buscar vocẽ. Deve estar cansada de tantas tarefas pesadas. - Ele se se
— Perdeu o propósito, Helena? - Rafael se impressionava com a fala mansa dela.— Faz muito tempo. Hoje vivo guiada por dois únicos valores: a Lei Natural e a Lei de Talião. - Ela dava dois parâmetros perigosos para ele, os dois que a tornavam tão letal e forjavam sua fama pela fronteira. — Faz sentido, sendo tão livre. - Ele concordou e aquela aceitação implícita a deixava extremamente confortável. - Cansa muito? Quero dizer, imagino que se sustentar desse modo exija muita força e um profunso senso de comprometimento consigo mesma. — Cansa. - Ela confessou. - Às vezes, quero apenas paz e segurança, mas há um fundo filosófico nisso: manter paz e segurança demanda guerra e força. São condições que não dá para ignorar. Não tenho família, meus amigos se foram, enfim, avaliando, não passo de uma órfã sem qualquer missão ou desejo na vida. E você? Não cansa dessa dinâmica toda?— Muito. - Ele sorriu, os olhos brilhantes. - Mas encontrei um remanso de felicidade em olhos cinzentos de uma l
Algo naquele canalha atraia Helena mais do que deveria. Rafael tinha tudo de um safado de marca maior, mas sabia se manter interessante.— Acho que vai me enrolar. - Helena suspirou.— Pode ser que sim, pode ser que não. - Ele a desconsertava. Brincava com ela. — Você não vale nada, não é? - Ela se divertia. Era um tipo atraente. — Nem um pouco. - Ele entrava no jogo leve dela. - Quer ajuda com o banho?— Você pretende entrar lá? Comigo? - Ela o olhou com um ar travesso.— Sou um moço puro e de boas intenções. - Ele dramatizou, fazendo-a manter o sorriso.Helena, encarando Rafael, soltou as botas. Despia-se, descaradamente, como olhar faminto. Ele sequer tentava disfarçar o desejo que se anunciava. — Até o café da manhã? - Ela no olhou por cima do ombro, o seduzia sem dificuldades. Ela serpenteava a cada passada. Rafael não era de gelo. Acompanhou a loba. Ela ligou o chuveiro e se colocou debaixo. A água se transformava em um liquido vermelho aos pés dela. Ela sorriu, sensual, desl
Helena estava deitada, os olhos cobertos pelo braço, respirava suavemente. A porta do quarto se abriu e se fechou, quase não ouvia os passos de quem entrou. Ela se sentia segura naquele lugar, apesar de saber muito bem que estava no covil inimigo. — Rafa, acho que preciso dormir um pouco. - Helena anunciou, mantendo-se relaxada, como estava. A pessoa se aproximava, devagar. - Rafa?Ao tempo de abrir os olhos, um homem, parecido com Rafael, se atirou sobre ela, agarrando seu pescoço com ambas as mãos, grades, fortes. O mesmo olhar intenso, de âmbar, os dentes cerrados. Ela já o tinha visto antes, com Rafael. O homem parecia odiar Helena.Não havia tempo para pensar muito. Ela tinha os braços soltos, levou ambas as mãos ao rosto da figura odiosa, começando a pressionar seus olhos, com força. O homem a soltou, afastando as mãos dela em um único golpe, abrindo ambos os braços. Helena rolou para fora da cama, enrolando-se ao lençol, procurava sua arma, sem a encontrar. Em um rápido olhar,
— Ele está bem, só desacordado. - Algum tempo depois, Mendes o médico da família disse. - Ela precisa de muita hidração e repouso. Foi de raspão. Já suturei. Vai ficar bem. — Obrigado, Mendes. - Rafael agradeceu. Pegou Helena e saiu, sem dizer nada. Rafael tinha seus meios. Levou Helena a uma de suas casas de prostituição, era o melhor refúgio para o momento. Cuidariam bem dela ali, caso precisasse se ausentar. Lola, a gerente do lugar, recebia instruções, mesmo os irmãos não entravam naquele lugar sem um convite, nem se precisassem. Rafael tinha uma ligação diferente com aquele lugar desde na adolescência, quando o pai foi abatido e ele precisou de proteção. Foi ele quem resgatou a mãe e os irmãos. — Deixe eu entender, Rafa. - Lola acariciava Helena numa das camas profanas daquele lugar, reservado à eleita de Rafael, um generoso guardião daquele lugar, a quem ela apadrinhou ainda jovem. - Está me dizendo que essa menina linda é do tipo perigosa, de verdade, e o Gabriel atacou ela
Helena despertou, os calafrios do choque percorriam cada fibra de seu corpo. Sua abordagem falhou. Precisava se recompor, mesmo se sentindo mal, deixou o lugar com a pouca bagagem que tinha, passava, despercebida, pelos corredores, sem se interessar em saber onde estava. Era fácil sair de um lugar tão movimentado. Ela estava desorientada, sentia muita sede e percebia a dor lancinante na lateral do corpo. Tinha que aguentar. A culpa a corroía. Não queria pedir ajuda e nem se sentia à vontade, por mais que fosse necessário. Ela seguiu para o terminal rodoviário, iria sair, para qualquer lugar que tivesse partida imediata, depois resolveria, quando estivesse reorganizada. Ela se acomodou à poltrona do ônibus, sequer notava o destino que tinha embarcado. Em pouco tempo, dormia com o balanço do ônibus, estavam na rodovia. Agilidade costumava garantir anonimato. "Dói para me dizer que estou viva." Ela ponderou, mentalmente. "Ainda estou viva." Ela se ajeitava para que a dor não fosse tão cr