— Ei, vovô. Tem câmeras aqui, não tem? - Helena perguntou, ainda ressabiada. "Estou ficando paranóica?" Ela se questionava. — E o que isso interessa? - O indiano perguntou. — Põe na conta de favor para sua nova amiga especial da Migra. - Ela respondeu, vigiando a porta, ostensivamente. — O que prova o que diz, garota? - O velho se interessava. — Aqui. - Ela jogou a identificação no pé do balcão. O velho pegou a carteira. Era, para além da Imigração, militar de patente. Tenente Brown, H. J. Ele fechou a carteira. — Vira a placa de "Fechado", Tenente. - O velho instruiu. - Vira e dá um passo atrás. - Helena o obedeceu. Pesadas portas desciam entre os vidros blindados, malhas de metal e cerâmica. Ela se surpreendia com o grau de segurança daquele lugar. Era bastante incomum. A loja de penhores era pequena, com prateleiras abarrotadas de objetos que pareciam carregar histórias esquecidas, tinha o ar, pesado, misturado ao aroma de madeira envelhecida e incenso. A mulher tinha o o
— Querida. - Gregory se abaixou a frente dela, amoroso e gentil. Sara estava em choque. "Ele realmente gosta desse monstro? Que fala tão abertamente de assassinato?" Ela presenciava eventos assombrosos. - São ossos da sua profissão. Algum suspeito? - Helena negou, em um gesto suave, piscando preguiçosamente, em uma paz que Sara não entendia. - Nem Peter? — Greg, ele certamente está envolvido em alguma coisa para abrir minha cova, mas não. Peter é um burocrata. Covarde, essencialmente. Aponta armas com facilidade, mas não tem marcação de munição livre como eu. - Ela se endireitou. Tinha a postura de uma rainha, elegante, esguia. Tinha dignidade, ainda que fosse condenável de tantas formas. - Por isso me pergunto se estarão seguros comigo aqui. Se não seria mais sábio eu manter distância? Especialmente, de suas princesas. - Ela disse, com o sorriso suave, levando a mão ao rosto dele e o afagando, ternamente. "Demônios amam?" Sara sentia as entranhas se retrairem. — Meu amor, veja:
— Me conta mais desse namoro? Já se conheciam? - Dario fazia Helena tagarelar. Gregory, o médico que ele havia conhecido na casa dela, era seu instrutor. Ela tinha uma queda por ele e, com aquele jeito adorável dela, conquistou sua amizade, mas foi como conhecer o homem de seus sonhos e a perfeita esposa. Depois disso, ela se casou e ficou viúva. Havia um ou outro namorinho antes, mas nada durava. Ele nunca a deixou desamparada, especialmente, depois da viuvez. Foi seu médico, seu amigo. Agora é seu chefe e namorado.Dario ouvia a história. De fato, pelo que se lembrava, dos vídeos dela, Gregory era mais recorrente que os outros amigos. — Me explica isso de "Encontro de viagem"? - Helena tinha o brilho curioso no olhar. Chegavam ao Mall, a pé. — Você marca com alguém para se conhecerem e compartilharem a viagem, não é nada demais. - Dario explicou, superficialmente. Parou na loja de chás. - Frutas vermelhas? - Ele ofereceu, fingindo adivinhar sua preferência.— Sim, senhor. - Ela co
A intuição de Helena exigia um estado de alerta exaustivo. Gregory havia saído sem lhe dizer nada. Ela sequer o viu pela manhã. As pequenas seguiam pesadas rotinas com Martha lhes tutoriando. Isso confortava Helena. — Tem um minuto, Helena? - A voz de Scarlet surgia atrás dela. — Todo o tempo que quiser, Scar. Fala comigo, bebê. - Ela respondeu. — Como faço para tirar? - A mulher via a moça comovida. — Tenho meus meios. Pegue uma bagagem, pequena. - A oportunidade se desenhava. - Somente o essencial. Vou providenciar um carro para a gente. Tenho um amigo que vai nos auxiliar. - A moça foi para seu quarto. Helena ligou para Dario. - Preciso de você. Sem questionamentos. Pode fazer isso por mim? — Quando? - Ele respondeu, de pronto. — Agora. Preciso chegar a Pueblo, no Colorado. Vamos em três motoristas. - Ela definiu, objetiva. — Chego em vinte minutos. - Dario disse, interrompendo a ligação. Helena pegou o essencial e ajudou Scarlet. — Celulares, tablets, qualquer meio d
Nem Scarlet e nem Dario se conformavam com a serenidade e, menos ainda, com os abusos a que Helena foi sujeita. — Você matou ele? - Scarlet perguntou, curiosa, melhorava de humor. — Aí é que está. Quando fiquei licenciada por causa do luto, ele foi promovido no meu lugar e acabou virando meu chefe, não sei porquê cargas d'água. - Helena seguia o relato. O sangue de Dario já fervia. - Quando seu pai passou a dividir comigo, logo que ele e sua mãe se divorciaram, seu pai virou meu chefe. - Helena deixou um riso escapar. - Preciso parar com esse negócio de me envolver com meus chefes. Hebert também foi meu superior. Enfim, esse cara se fingiu de policial e entrou em casa, me atacou e dizem que me estuprou, mas não sei, ele me estrangulou e se algo aconteceu, eu não estava consciente. Como meus ovários foram tirados, era cirurgia recente e, bom, seu pai quem me socorreu. - Dario lembrava das manchas de sangue e, agora, sabia que Helena era completamente estéril. - Assim que tive alta, v
— Greg, na boa, irmão? Vocês, da imigração, não têm departamento próprio de investigação interna? Não é caso para o FBI ainda. - Sullivan disse, tranquilamente. — É sua sobrinha, Sully! - Gregory se desesperava. - Minha filha! — E sua namorada é a bandida? - Sullivan o desafiava. — Helena é de Operações Avançadas, imprevisível por natureza. Ela me preocupa. Até que ponto isso é ou não sequestro? A mamãe e a Katrina a desafiaram e humilharam, usando a Scarlet. - Gregory elevava o tom. - Helena é o inferno da fronteira, sozinha, investiga, persegue e executa coiotes. Acha mesmo que ela não seria capaz de tomar uma vingança? Ainda mais com a Scar grávida? - Ele estava fora de si. - É alguém que sofreu muito, que amo, mas que também me causa medo. É para além de uma assassina treinada e rancorosa. — Ama ou está tentando "salvar" do caminho que você julga errado? Obrigado. - Gregory ouvia o irmão, atentamente, devolvendo documentos para alguém. O primogênito ouvia o som dos rabiscos
Dario via Scarlet dormir com Helena, que se encaixava nas costas da garota, protegendo-a. A moça chorou até dormir, Helena ficou ali, firme. Era um rochedo na tempestade. Dario entendia aquela doação. Ela dava exatamente o que lhe faltava. Ele pediu o café e foram servidos no quarto. Ambas se banharam e comeram bem. Estariam em Pueblo em três horas. No aeroporto, Sullivan chegava a um guarda-volumes e a informação de saída para Maryland. Houve check-in, mas não houve embarque. Ele percebia, pelas câmeras, apenas uma mulher no guarda-volumes, estonteante, de olhos de uma loba, gelados, de um azul sutil e acinzentado, ferozes. Ela encarou a câmera e sorriu, divina. Era a primeira vez que via Helena. Não era uma foto frívola, era alguém descarada e destemida. "Deve ter um gênio péssimo! Bem ao estilo do Greg." Ele sorriu. — Achem essa mulher! - A ordem era dada. - É a provável sequestradora. Considerem perigosa, mesmo desarmada. - Sullivan determinou. Scarlet estava sob o procediment
— Está sim. Acabamos de liberar. Não tem nada contra ela. - Sullivan percebia algo difícil de constatar: o irmão não se preocupava com a filha. Não tocou no assunto, queria ver até que ponto havia sido manipulado. — Graças a Deus. Posso ir buscá-la? - Gregory perguntou, omisso a Scarlet. — Já saiu, Greg. - Gregory ouvia o pesado soco na mesa. - Espero que tenha ido para o inferno. Vou baixar sua notícia de sequestro. É só um desaparecimento. Procure a polícia local. - Sullivan disse, desligando a chamada. Helena o humilhara. Ele fora envergonhado diante de sua equipe. Helena caminhou, tranquilamente, para longe do escritório. Scarlet estava segura e tinha Carlos com ela. Voltaria logo para casa, em segurança. Aquilo era tudo o que precisava. Dever cumprido. Ela se levantou e ligou para o escritório. Deveria se apresentar em três dias. Dali, pegou um ônibus e voltou para Laredo. Rompia laços e ligações. Estava sozinha outra vez, mas de consciência tranquila. Helena se hospedou