Simon Duarte

Noely estava em todo canto. Na escola, nas conversas, nos rolês. E, principalmente, nos olhos do Noah. Ele parava o que estava fazendo quando ela chegava. Dava atenção. Ria. E eu fingia que não via. Fingir era mais fácil do que admitir que aquilo estava me incomodando pra caralho.

Ela era tudo o que eu não conseguia ser. Desencanada, segura, leve. E, acima de tudo, ela não carregava um corpo que precisava ser escondido. Ela não tinha que lidar com leite acumulando no peito, com dor, com vergonha. Ela não precisava explicar nada.

Naquela semana, ela entrou no nosso grupo de estudos. Ideia do professor de literatura: formar duplas pro trabalho final. Eu e Noah sempre fomos parceiros, mas dessa vez ele soltou:

— Bora mudar um pouco. Você vai com a Júlia, eu fico com a Noely.

Tentou parecer casual, mas eu senti o baque. “Mudar” parecia “se afastar”. E eu engoli seco. Só assenti, mesmo querendo dizer um monte de coisa.

Durante os encontros, eu via os dois rindo, trocando